Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs com prazos mais longos dispararam nesta sexta-feira, refletindo temores do mercado sobre o equilíbrio fiscal do país após dados do Banco Central mostrarem aumento da dívida bruta em julho, e sobre o controle da inflação após outro número forte no emprego mercado.
Declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, pela manhã contribuíram para reduzir as apostas na alta de 50 pontos-base da Selic em setembro, o que fez com que as taxas de curtíssimo prazo estagnassem, mas também deu um impulso adicional ao DI taxas por mais tempo.
No final da tarde, a taxa DI para outubro de 2024 – cuja negociação foi bastante líquida nesta sexta, refletindo as apostas para o Copom de setembro – estava em 10,526%, ante 10,528% do reajuste anterior. A taxa DI para janeiro de 2025 – também de curtíssimo prazo – ficou em 10,995%, ante 10,984% do reajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 12,11%, ante 11,846%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 12,08%, ante 11,816%.
As taxas do DI apresentaram ganhos firmes no início da sessão, após o BC informar que o setor público consolidado registrou déficit primário de 21,348 bilhões de reais em julho, bem acima dos 5 bilhões de reais projetados por economistas ouvidos pela Reuters.
Como resultado, a dívida bruta do governo geral saltou para 78,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em Julho, acima dos 77,8% em Junho.
Para o mercado, os números sugeriam uma deterioração maior do que o esperado nas contas públicas.
“A alta mais forte (das taxas) na extremidade mais longa da curva reflete uma deterioração dos preços que o mercado vê para o futuro”, comentou Diego Faust, operador da Manchester Investimentos, durante a tarde.
“A questão da nossa relação dívida bruta/PIB atingiu mais uma vez o extremo mais longo da curva e as taxas abriram o dia subindo acentuadamente”, acrescentou.
Aliás, o percentual de 78,5% da dívida bruta em julho já superou a projeção de 78,1% do indicador de final deste ano, contida nas Expectativas de Mercado do relatório Focus da última segunda-feira.
Além disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou na abertura da sessão que a taxa de desemprego no Brasil foi de 6,8% nos três meses até julho, em linha com o que os economistas esperavam, mas no nível mais baixo para o período desde o início da série histórica, em 2012.
Os dados reforçaram os temores de que o mercado de trabalho aquecido possa pressionar a inflação dos serviços e, em última análise, exigir uma taxa básica Selic mais elevada no futuro. A curva futura também refletiu isso.
O cenário desfavorável foi reforçado pela forte valorização da moeda frente ao real e pelo aumento dos rendimentos do Tesouro no exterior.
Durante a manhã, algumas declarações de Campos Neto aliviaram a pressão nas pontas curtas da curva a termo. Em evento promovido pela XP Investimentos (BVMF), Campos Neto afirmou que qualquer ajuste na Selic, caso ocorra, será gradual e que o prêmio de risco marcado pelos agentes do mercado na parte curta da curva de juros futura não é compatível com comunicações recentes BC.
Os comentários, segundo profissionais ouvidos pela Reuters, foram uma indicação de que o aumento de 50 pontos-base da Selic em setembro, que vinha subindo no curto prazo, foi exagerado. Com isso, essas apostas caíram, aproximando as taxas de curtíssimo prazo dos reajustes anteriores: após registrar máxima de 10,55% às 10h05 (alta de 2 pontos-base em relação ao reajuste anterior), a taxa DI para outubro 2024 marcava mínima de 10,49% às 11h35 (queda de 4 pontos-base), em meio aos comentários de Campos Neto.
Esse alívio no curto prazo foi mais um fator de pressão para contratos de longo prazo, disse o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
Perto do fechamento, a curva precificou 63% de probabilidade de alta de 25 pontos-base na Selic em setembro e 37% de chance de alta de 50 pontos-base. Na véspera, os percentuais eram de 54% e 46%, respectivamente.
Durante a tarde, Campos Neto afirmou em outro evento que o baixo desemprego não tem causado “grande inflação” na área de serviços, mas reforçou a preocupação da instituição com isso.
Ao longo do dia, o mercado também demonstrou ansiedade diante da apresentação pelo governo do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, detalhando despesas e receitas para o próximo ano. Os investidores estarão atentos aos números para avaliar se o resultado primário projetado pelo governo é compatível com a meta primária zero estabelecida para o próximo ano. Os dados devem ser divulgados nesta sexta-feira.
Ao abordar a questão fiscal em evento realizado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que, se o governo não tivesse sofrido algumas derrotas “compreensíveis” no Congresso Nacional em 2023, o país teria ter um défice orçamental zero de forma sustentável este ano.
No exterior, os rendimentos continuaram subindo no final da tarde. Às 17h15, a referência global para decisões de investimento subia 3 pontos base, para 3,902%.
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