Durante o simpósio anual em Jackson Hole, Wyoming, o discurso entre os banqueiros centrais dos EUA e da Europa sugeriu uma mudança na política monetária, com uma inclinação crescente para reduções das taxas de juro. Esta mudança surge num contexto de sinais de crescimento hesitante e de riscos emergentes para os mercados de trabalho, contrastando com o anterior enfoque na contenção de taxas de inflação elevadas.
O presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, sinalizou na sexta-feira a possibilidade de cortes iminentes nas taxas, marcando uma mudança em relação à sua postura anterior durante o aumento inflacionário de 2021 e 2022.
Powell observou que um maior arrefecimento do mercado de trabalho seria indesejável, reforçando a noção de que a Fed está a afastar-se de políticas que mantiveram a sua taxa de referência no máximo de um quarto de século durante mais de um ano.
Os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) também estão inclinados a um corte das taxas na sua reunião de Setembro, influenciados pela moderação da inflação e por uma perspectiva de crescimento notavelmente enfraquecida. A economia da zona euro apresentou uma expansão mínima, com a economia da Alemanha a contrair-se e a indústria transformadora em recessão. O decisor político do BCE, Olli Rehn, enfatizou os crescentes riscos descendentes para o crescimento, sublinhando a justificação para o corte antecipado das taxas.
No Japão, o Banco do Japão (BOJ) enfrenta os seus próprios desafios, com dados recentes sobre a inflação a revelarem um abrandamento nos aumentos de preços impulsionados pela procura, complicando potencialmente futuras decisões de aumento das taxas.
Apesar da recuperação dos gastos dos consumidores no segundo trimestre, o aumento dos custos de vida e a estagnação dos salários levaram a uma fraca procura interna. Sayuri Shirai, antigo membro do conselho do BOJ, apontou a falta de justificação económica para novos aumentos das taxas por parte do BOJ.
As dificuldades económicas da China aumentam a preocupação global, com o país à beira da deflação no meio de uma crise imobiliária prolongada e de uma dívida crescente. Os cortes inesperados nas taxas de juro por parte do banco central chinês no mês passado reflectem um crescimento mais fraco do que o esperado, aumentando a probabilidade de uma revisão em baixa nas previsões de crescimento do FMI para a China.
O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, destacou o papel significativo da China na economia global e o potencial impacto mundial do seu enfraquecimento do crescimento.
A incerteza em torno da trajectória económica mundial deixou os mercados vulneráveis à volatilidade, como indicado pela turbulência do mercado na sequência dos dados fracos sobre o emprego nos EUA no início deste mês e do aumento das taxas do BOJ em Julho.
Os analistas concordam com a previsão do FMI de um crescimento global modesto nos próximos anos, dependendo de uma aterragem suave nos EUA, de uma recuperação na Europa e da saída da China das dificuldades económicas. No entanto, estas projecções optimistas são precárias, com dúvidas quanto à aterragem suave dos EUA, ao crescimento estagnado da zona euro e à lenta actividade de consumo da China.
As economias emergentes como o Brasil poderão sofrer efeitos mistos do abrandamento da China, com potenciais impactos nas exportações e na inflação. O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, reconheceu que o efeito líquido dependeria da extensão da desaceleração.
À medida que os bancos centrais a nível mundial consideram a flexibilização da política monetária após um período de restritividade para fazer face à inflação, os mercados financeiros preparam-se para uma potencial instabilidade, reflectindo a natureza complexa e interligada do actual cenário económico.
A Reuters contribuiu para este artigo.
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