A pequena vila de Jackson Hole, na região montanhosa do Wyoming, nos Estados Unidos, serviu de palco para o presidente da Reserva Federal (Fed, o banco central americano), Jerônimo Powellcole um primeiro corte de juros no país em setembro. Como era de se esperar, ele preferiu não avançar a sinalização, mantendo o tamanho da queda bem como o rumo da flexibilização monetária no país atrelados aos dados futuros da maior economia do mundo.
“Chegou a hora de a política (monetária) se ajustar. A direção da viagem é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nas taxas dependerão dos dados recebidos, da evolução das perspectivas e do equilíbrio de riscos”, disse Powell em comunicado. discurso durante o Simpósio de Jackson Hole, que reúne a nata da autoridade monetária global, bem como economistas e acadêmicos.
Seus discursos reforçaram o que a ata da última reunião do Fed, em julho, já havia sinalizado, quando destacou que a maioria dos diretores apoiava um corte nas taxas de juros na reunião do próximo mês. O discurso, que durou cerca de 30 minutos, desencadeou uma recuperação dos activos de risco em todo o mundo, de Wall Street à Avenida Faria Lima, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro, dos títulos do Tesouro dos EUA e do dólar caíam.
Em Nova York, o índice Dow Jones fechou o dia com alta de 1,14%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq avançaram 1,15% e 1,47%, respectivamente. Por aqui, o Ibovespa, índice de referência da B3, voltou a reagir após a queda de 0,95% da véspera. Subiu 0,32%, para 135,6 mil pontos. O ganho acumulado na semana foi de 1,24% e no mês, 6,23%.
Esta semana, o dólar teve o pior desempenho entre as moedas das economias do G10, renovando ontem os níveis mais baixos face ao euro (desde julho de 2023) e à libra (desde março de 2022). O real aproveitou esta onda de enfraquecimento global da moeda americana e do aumento do apetite por ativos de risco. O dólar encerrou o dia com queda de 1,99%, valendo R$ 5,47. No mês, a desvalorização atingiu 3,11%.
Powell encorajou os investidores, que aumentaram as expectativas de um primeiro corte maior nas taxas de juros em setembro, de até 0,50 pontos percentuais. Uma redução menor nas taxas, contudo, continua a ser o cenário mais provável em Wall Street. A alíquota atual varia entre 5,25% e 5,5%.
Um corte nas taxas de juros nos EUA favorece o Brasil, à medida que os investidores deixam de apostar nos títulos do Tesouro americano para avaliar a compra de outros ativos com maior rentabilidade, como bolsas de valores de países emergentes. O efeito também seria positivo para o real, mas analistas afirmam que neste caso o preço da moeda ainda está ligado a sinais de compromisso do governo com o ajuste fiscal.
A aposta é de corte de 0,25 ponto, mas mercado não descarta maior alívio
Após o discurso do presidente do Federal Reserve (banco central americano), Jerome Powell, a plataforma do CME Group passou a indicar 36,5% de probabilidade de a taxa básica de juros nos EUA cair em setembro da faixa atual de 5.25 % a 5,50%, para a faixa entre 4,75% e 5%, refletindo novas estimativas de mercado. Antes dos discursos de Powell, esta hipótese era de 26,8%. A possibilidade ainda majoritária de corte de 0,25 ponto percentual caiu de 73,2% para 63,5%.
“Havia todos os motivos para pensar que um corte ocorreria no próximo mês, e o presidente Powell basicamente o garantiu agora”, disse o economista-chefe do Santander nos EUA, Stephen Stanley, que projeta uma redução de 0,25.
Ao diretor de investimentos de renda fixa global da BlackRock, Rick Rieder, Powell disse exatamente as palavras-chave que o mercado procurava. Segundo ele, ao afirmar que a “direção da viagem é clara”, o presidente do Fed não apenas sugeriu cortes múltiplos de 0,25 pontos, mas também deixou a porta aberta para uma redução mais agressiva, de até 0,50. “Agora a questão é quão rápido e até onde eles irão.”
Antes da próxima reunião do Fed, são esperados novos dados de inflação e outro relatório sobre a “folha de pagamento”, principal termômetro do mercado de trabalho dos EUA. Os dados de julho ficaram muito abaixo das projeções, apontando para a criação de 114 mil empregos no período, o que reacendeu o alerta sobre o risco de recessão no país.
“A partir de hoje, acho que teríamos que dizer que o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) está praticamente vinculado a um corte nas taxas em setembro, independentemente dos dados das próximas semanas”, acrescentou Stanley, do Santander.
Powell destacou ontem que a inflação nos EUA caiu “significativamente” e que está mais confiante de que os preços estão num “caminho sustentável” para regressar à meta de 2% ao ano. (LUIS LEAL e ANTONIO PEREZ COLABORARAM)
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