Após o acordo no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as emendas parlamentares, membros do Legislativo e do Executivo têm se movimentado para definir as regras que nortearão o espaço que essas despesas ocuparão no orçamento público.
Entre os parlamentares, circulam ideias sobre a criação de um teto para o crescimento das emendas previstas na Constituição — individuais e de bancada —, porém, sem reduzir o valor a que o Congresso tem direito atualmente. Representantes do governo reuniram-se esta sexta-feira, mas ainda estão na fase de análise técnica do tema, que é considerada sensível e não pode deixar margem para retrocessos.
A discussão responde a um comando da nota conjunta dos Três Poderes sobre as verbas controladas pelos parlamentares após o ministro do STF Flávio Dino suspender a execução das emendas obrigatórias (individuais e de bancada) por falta de transparência quanto à destinação dos recursos. Atualmente, esses recursos são calculados com base em um percentual da Receita Corrente Líquida (RCL): 2% nos casos individuais e 1% nos casos de bancada.
Na reunião entre os Três Poderes, a Casa Civil manifestou preocupação com a atual vinculação dessas emendas, que poderia crescer desproporcionalmente ao restante dos recursos livres, comprometendo toda a capacidade de investimento do governo.
“Fica acordado que os poderes Executivo e Legislativo ajustarão a questão da vinculação das emendas parlamentares à receita corrente líquida, para que não cresçam em proporção maior que o aumento das despesas discricionárias totais”, disse a nota conjunta.
A fórmula desse bloqueio, porém, ainda não foi divulgada e está sendo discutida em diversas instâncias.
Uma ideia, defendida pelo deputado Cláudio Cajado (PP-BA), que foi relator do marco fiscal, é vincular o crescimento das emendas ao teto de 2,0 ou 2,5% acima da inflação.
“Não só emendas. RP2 (programação dos ministérios) e incluiria até o Fundo do Distrito Federal”, disse Cajado ao GLOBO.
O deputado é próximo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas disse que ainda não compartilhou sua ideia com os demais colegas e que irá apresentá-la ao líder do seu partido na Câmara, deputado Luizinho (PP-RJ), na próxima semana.
Outra linha que também circula entre os parlamentares é vincular o crescimento dessas emendas apenas à correção pela inflação, pelo IPCA. Em outra frente, os parlamentares também discutem vincular o valor das emendas a um percentual, ainda indefinido, do total das verbas discricionárias, o que eliminaria o risco de o item ser totalmente controlado pelo Congresso.
Qualquer uma dessas mudanças, porém, exigiria uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que exige a aprovação de três quintos dos parlamentares (257 deputados e 41 senadores) em dois turnos. Isso porque as regras para essas alterações estão definidas no artigo 166 da Constituição.
Em nome do governo, aconteceu na manhã desta sexta-feira a primeira reunião para definir as regras e critérios das alterações após a decisão do STF. O grupo é coordenado pela Procuradoria-Geral da República e conta com a participação da Casa Civil, da Secretaria de Relações Institucionais, dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Segundo um membro da equipe econômica, as discussões estão em andamento e ainda não se sabe o resultado das novas regras. Como o assunto é delicado, os técnicos querem ver primeiro as propostas no papel antes de analisar o impacto no orçamento.
Em tese, a regra sugerida por Cajado garantiria crescimento a cada ano na parcela de alterações, atualmente vinculadas à RCL, que podem ter oscilações negativas. Dessa forma, essas despesas poderiam comprometer ainda mais o restante das despesas discricionárias, parte do orçamento que não é obrigatória e que serve para financiar investimentos e o custo da máquina, por exemplo.
Isto seria evitado se as alterações permanecessem vinculadas à RCL, mas limitadas pelo crescimento anual das alterações discricionárias. Assim, a participação tenderia a permanecer constante. Os gastos discricionários do governo já estão sob forte pressão devido ao aumento dos gastos obrigatórios, como benefícios previdenciários e folha de pagamento.
Recentemente, o Ministério da Fazenda tentou introduzir uma possível limitação às emendas e ao piso constitucional de saúde, também vinculado à RCL, no relatório do projeto da dívida dos estados. A ideia era retirar da conta receitas pontuais, como dividendos e royalties. Nesse caso, o bolo tenderia a ficar menor, reduzindo os recursos controlados pelos parlamentares e os investimentos mínimos em saúde. Mas o ataque foi retirado do parecer antes da votação no plenário do Senado.
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