As chuvas abaixo da média, especialmente na Região Norte, já fizeram soar o alarme entre as autoridades do sector eléctrico. No início do mês, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou ao Comitê de Acompanhamento do Setor Elétrico (CMSE) a recomendação de uma série de medidas preventivas, incluindo o acionamento de usinas térmicas, cujo custo de geração é mais elevado.
A menor quantidade de chuvas indica que os níveis dos reservatórios das hidrelétricas estarão abaixo do normal nos próximos meses.
E as medidas preventivas para preservar os reservatórios tornam-se mais importantes num contexto em que a geração de electricidade por parques eólicos e painéis solares – tanto nas centrais como nos telhados dos consumidores – mudou a face do sistema eléctrico.
Embora sejam renováveis e tenham impactos positivos ao meio ambiente, essas fontes de eletricidade são intermitentes, ou seja, produzem de acordo com o vento e somente quando o sol está brilhando.
Especialistas do setor elétrico têm destacado que o sistema nacional precisa se adaptar a isso, com investimentos em linhas de transmissão e governança, para que as fontes permanentes entrem em ação quando as fontes intermitentes não geram a energia esperada.
Quedas solares à noite
Os dados do ONS sobre a geração de eletricidade ao longo do dia dão uma dimensão do desafio associado às fontes intermitentes. Entre 11h e pouco depois do meio-dia de hoje, a geração solar colocou cerca de 30 mil megawatts (MW) no sistema. Pouco depois das 18h, essa geração ficou abaixo de 100 MW —o consumo médio diário é de 80 mil MW. O pico de demanda, acima de 91 mil MW, ocorre entre 18h e 19h, horário de queda da geração solar.
“Com chuvas abaixo do esperado, há menor disponibilidade de recursos hidráulicos, principalmente na região Norte do país”, diz nota divulgada pelo ONS.
O comunicado destaca que as hidrelétricas da Região Norte, incluindo Belo Monte, no Pará, e Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, têm papel “fundamental” no atendimento do fornecimento de energia elétrica na “ponta de carga”, já que a hidrelétrica as plantas são chamadas. momentos de pico de consumo.
“Assim, para os períodos do dia de maior consumo de carga, que ocorre no período noturno, principalmente nos meses de outubro e novembro, o cenário exige a adoção de medidas operacionais e preventivas adicionais”, continua a nota do ONS.
A declaração foi divulgada após reportagem do jornal Valor revelar que cartas trocadas entre o ONS, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) levantam preocupações sobre o fornecimento de energia elétrica em horários de pico de demanda. .
Segundo o ONS, as medidas recomendadas ao Comitê de Acompanhamento do Setor Elétrico incluem a redução da geração de energia elétrica das hidrelétricas da Região Norte, com o objetivo de economizar água nos reservatórios e, assim, atender “a ponta de carga dos meses de outubro e novembro”. ”; e adiar, quando possível, a manutenção de quaisquer plantas, para manter a produção máxima.
Outra recomendação foi expandir a utilização do “mecanismo de Resposta à Procura”, que oferece incentivos para que as indústrias com utilização intensiva de electricidade mudem os seus horários de produção para alturas em que a utilização global de energia no país não esteja no seu nível mais elevado.
Entrada antecipada
A sugestão de acionamento das térmicas incluiu até antecipar a entrada em operação da UTE Termopernambuco, do grupo Neoenergia, em outubro. A usina está pronta, foi contratada em leilão em 2021, mas, conforme contrato, entraria em operação em 2026, segundo o jornal Valor.
Questionada, a Aneel informou ao GLOBO que, a pedido do MME, “já iniciou a instrução processual” para antecipar a entrada em operação da UTE Termopernambuco. A Neoenergia informou ao Valor que “está pronta para atender a solicitação”.
A Aneel informou que trabalha em medidas adicionais, como a fixação de preços para térmicas que atualmente não funcionam e não têm valores estabelecidos.
“Além disso, a Aneel está trabalhando no aprimoramento dos procedimentos de Resposta à Demanda, o que levará à disponibilização aos consumidores de um novo tipo de produto que poderá reduzir sua demanda nos horários de pico”, diz a nota da agência.
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