Os países que compõem o G20 (Grupo dos 20, que reúne as principais economias do mundo) têm que garantir espaço em seus orçamentos para implementar políticas públicas propostas pela sociedade civil. A afirmação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, foi feita nesta terça-feira (20), durante evento preparatório para o G20 Social, na Fundição Progresso, espaço cultural independente no centro do Rio de Janeiro. Janeiro.
O G20 Social é um espaço de discussão e participação da sociedade civil criado pelo Brasil, que assumiu a presidência do grupo de países em dezembro do ano passado. Nos últimos meses, grupos de engajamento e setores da sociedade articularam iniciativas para se tornarem políticas públicas.
Mais de mil representantes populares participaram do encontro, primeira plataforma aberta à participação ativa da população no G20.
As conclusões do evento preparatório servirão de base para os encontros do G20 Social, que acontecerão de 14 a 16 de novembro, no Rio de Janeiro. O que for recebido pelo fórum será entregue aos chefes de estado e de governo que participarão do encontro de líderes do G20, nos dias 18 e 19 de novembro, também no Rio.
“Este debate precisa ser livre e soberano”, disse o ministro aos jornalistas. “Vamos transformar isso em um documento. É óbvio que estes documentos são propostas. Continua o processo de diálogo com os governos, de pressão, de conversa, para que isso se transforme em políticas públicas”, acrescentou.
Macêdo destacou que questões como a tributação dos super-ricos, a nova governança global e os desafios das mudanças climáticas são temas que permeiam as discussões tanto nos governos quanto no G20 Social.
“Não só o Brasil, mas os países têm que estar abertos para garantir o orçamento para que isso possa acontecer, não só no Brasil, mas nas economias de todo o mundo”, disse ele.
O governo brasileiro escolheu três temas prioritários para discussões no G20: combate à fome, à pobreza e às desigualdades; sustentabilidade, alterações climáticas e transição justa; e reforma da governação global.
Macêdo destacou que a presidência brasileira do G20 será marcada por uma participação social sem precedentes.
“A fotografia que me vem à mente, sempre que se fala do G20, é um retrato de homens de fato numa sala, definindo políticas que irão afectar populações em todo o mundo, e pessoas a 5 quilómetros de distância, algumas representadas com cartazes, manifestando” , ele narrou.
“Agora, queremos que a fotografia signifique que as pessoas possam participar neste processo de construção de políticas públicas que cheguem às populações das 20 economias e do mundo inteiro”, explicou.
Transição energética
A Ministra do Ambiente e das Alterações Climáticas, Marina Silva, sublinhou que a transição energética para uma economia menos dependente dos combustíveis fósseis, que provocam o aquecimento global, deve ser feita de forma justa.
“Existem aqueles [economias] que emitiram mais historicamente, existem aqueles [países] que ganharam mais transformando a natureza em dinheiro e há aqueles que emitiram menos e que ainda têm problemas sociais gravíssimos a serem enfrentados”, listou.
Para o ministro, os países mais ricos devem fazer primeiro a transição e depois ajudar os mais pobres. “Os países de rendimento médio-baixo têm de ser ajudados.” Seriam necessários cerca de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 550 bilhões) em todo o mundo, segundo ela.
Marina Silva defendeu que a transição energética depende de parte dos recursos obtidos com a tributação dos super-ricos e com dinheiro das empresas.
“O setor privado não pode mais continuar, e tem muita gente que já entende isso, fazendo os mesmos investimentos em atividades com altíssimo potencial de destruição do planeta”, criticou.
O ministro destacou que o Brasil tem a vantagem comparativa de ter energia solar, eólica e biomassa e de produzir hidrogênio verde, que pode ser um produto de exportação para ajudar na transição de outros países.
Questionada pelos jornalistas se a exploração de petróleo na Margem Equatorial compromete a liderança global do Brasil na área ambiental, ela afirmou que a decisão será tomada de forma técnica.
“Se você disser sim, será técnico; Se você disser não, será uma decisão técnica, porque em um governo republicano não há nenhuma interferência que foi tentada no governo anterior na decisão do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]”, afirmou.
A Margem Equatorial, considerada o novo “pré-sal”, pelo seu potencial para produção de petróleo, é uma área que vai do litoral do Rio Grande do Norte até o Amapá. A potencial exploração de petróleo na região, que inclui a foz do rio Amazonas, é criticada por ambientalistas, preocupados com possíveis danos ambientais.
A Petrobras tem interesse em perfurar o fundo do mar, mas depende de autorização do Ibama.
Combatendo a fome
Terceiro ministro presente no encontro com lideranças sociais, Wellington Dias, de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, lembrou o protagonismo do Brasil no combate à fome, destacando a criação da Aliança Global, referendada pelo G20 há menos de um mês.
“Não há tarefa social tão poderosa e importante como esta”, disse o ministro, que citou o progresso do país no combate à fome reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Sociedade civil
O presidente da Central Única das Favelas (Cufa) do Rio de Janeiro, Preto Zezé, destacou a participação popular no G20 Social, citando que 20 milhões de pessoas vivem em comunidades.
“É fundamental que as pessoas que vivenciam os dilemas e desafios do Brasil, a desigualdade, os direitos humanos, as questões ambientais possam participar, serem ouvidas e suas ideias chegarem às mãos dos gestores”, destacou. Zezé também apelou para que a prática se tornasse permanente mesmo sob outras presidências do G20.
Lembrando que apenas três países latino-americanos fazem parte do G20 (Argentina e México, além do Brasil), o representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Antonio Lisboa, informou que recebe solicitações de trabalhadores de outros países do região, para que as decisões tomadas também beneficiem as populações fora do G20.
“A nossa responsabilidade tem de ir além dos nossos países, além dos nossos problemas, para o mundo inteiro”, disse ele.
A membro do conselho executivo da Associação Brasileira de ONGs (Abong), Débora Rodrigues, explica que o momento é de articulação entre as comunidades de base e o G20.
“Este é o momento em que pensamos em como continuamos, mas regressamos aos nossos territórios, organizamos o grupo para podermos regressar em novembro”, explicou.
Plataforma on-line
Esta terça-feira foi lançada a plataforma on-line Social Participativo do G20. Pela internet, pessoas de qualquer lugar do Brasil e do mundo poderão participar de pesquisas, enviar propostas, cadastrar propostas autogeridas e consultas públicas.
Pessoas, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e governos de todo o mundo podem apresentar propostas até o dia 9 de setembro.
“O objetivo é que até o dia 9 de setembro acrescentemos propostas de organizações da sociedade civil e também propostas de atividades para a Cúpula Social”, detalha o secretário de Participação Social da Presidência da República, Renato Simões.
A Secretaria de Comunicação do governo federal (Secom) também anunciou que o canal de comunicação do G20, que disponibiliza informações, notícias e serviços sobre os acontecimentos, terá conteúdos disponíveis em línguas indígenas, como o guarani. A iniciativa faz parte da estratégia para promover uma “grande comunicação colaborativa”.
“Para que a narrativa do G20 seja potencializada pela narrativa dos movimentos sociais”, disse Marcelo Branco, representante da Secom.
Representantes da Marcha Mundial das Mulheres, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da organização do movimento negro UneAfro também participaram da abertura do encontro.
As mesas de debate abordaram os temas considerados prioritários pelo Brasil no G20.
O G20
A presidência brasileira do G20 vai até a cúpula de novembro. O G20 é formado por 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia e dois organismos regionais: a União Africana e a União Europeia.
Os membros do grupo representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população do planeta. A próxima presidência do grupo caberá à África do Sul.
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