A tentativa do governo Lula de direcionar recursos de emendas parlamentares para projetos prioritários do Executivo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), enfrenta forte resistência no Congresso Nacional.
Na última segunda-feira (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para discutir o tema.
O encontro entre Lula e Lira serviu de preparação para uma importante reunião, realizada nesta terça-feira (20) no Supremo Tribunal Federal (STF), convocada pelo presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.
O objetivo foi reunir representantes dos Três Poderes para debater o impasse envolvendo as emendas parlamentares. Segundo um líder partidário na Câmara, além de se opor ao controle do governo sobre parte das emendas, a liderança da Câmara é contra a revisão da obrigatoriedade das emendas individuais e das bancadas estaduais.
Arthur Lira convocou os líderes da Câmara para uma reunião, mas antes decidiu se reunir com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para alinhar a posição do Legislativo antes da reunião no STF. Lideranças partidárias permanecem em alerta para possíveis ligações de última hora de Lira.
Conforme noticiado pela Coluna do Estadão, o Palácio do Planalto propõe um modelo de emendas de comissão, onde deputados e senadores poderiam indicar recursos para suas bases eleitorais, desde que priorizem trabalhos em programas federais, especialmente o PAC, saúde e educação.
Na tarde desta segunda-feira (19), Lula convocou Lira para uma conversa a fim de evitar mal-entendidos sobre a posição do governo em relação às emendas. Na semana anterior, o presidente havia se manifestado contra a obrigatoriedade do pagamento dessas emendas, comparando a situação a um “sequestro” do orçamento.
“O Congresso Nacional tem hoje metade do Orçamento que o governo tem. O governo tem R$ 60 bilhões, eles têm R$ 57 bilhões. Não é possível. Não há país no mundo onde o Congresso Nacional tenha sequestrado para si parte do Orçamento, em detrimento do Executivo, que é responsável por governar”, declarou Lula em entrevista.
No Palácio do Planalto, a avaliação é que Lula exagerou no discurso, levando à necessidade de uma reunião entre os chefes do Poder para evitar uma escalada de divergências.
Até o momento, o governo não apresentou uma proposta definitiva para resolver o impasse. Segundo fontes, além de sugerir soluções, o objetivo da reunião desta tarde é ouvir as opiniões de outros Poderes para chegar a um consenso.
Pela manhã foi realizada reunião técnica na Casa Civil para alinhamento das propostas que seriam discutidas durante o almoço.
A crise entre os Poderes se intensificou na semana passada, quando o ministro do STF, Flávio Dino, suspendeu a execução de todas as emendas obrigatórias até que o Congresso estabeleça regras de transparência e rastreabilidade desses recursos.
Dino é relator das ações que questionam esses repasses, e suas decisões foram referendadas por unanimidade pelo plenário do STF.
Em resposta, Arthur Lira reativou duas Propostas de Emenda Constitucional (PECs) que visam reduzir as competências do Supremo. Uma dessas PEC limita as decisões monocráticas dos ministros, enquanto a outra permite que o Congresso anule decisões do STF com dois terços dos votos da Câmara e do Senado. Ambas as propostas foram encaminhadas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Antes de suspender todas as alterações tributárias, Flávio Dino já havia interrompido o pagamento das chamadas alterações Pix, que servem para destinar recursos federais diretamente a estados e municípios, sem identificar como o dinheiro é gasto.
A maior preocupação da cúpula da Câmara, porém, está nas emendas da comissão, também incluídas na ação relatada por Dino no STF.
Desde o fim do orçamento secreto, esses fundos têm sido usados como moeda de troca política no Congresso. Nas emendas da comissão, não é identificado o nome do parlamentar que indicou o recurso, dificultando a fiscalização.
As emendas parlamentares são recursos do Orçamento da União que podem ser direcionados pelos deputados e senadores aos seus redutos eleitorais. Atualmente, existem três modalidades: emendas individuais, emendas de bancada estadual e emendas de comissão. Os dois primeiros são obrigatórios, ou seja, seu pagamento é obrigatório, embora o governo controle o ritmo de sua liberação.
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