Os impactos económicos decorrentes da pandemia da Covid-19 trouxeram dificuldades à implementação da Agenda 2030, que estabeleceu em 2015 um conjunto de 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) assumidos pelos 193 estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU). A conclusão é de pesquisa realizada pelo Instituto René Rachou, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Belo Horizonte.
Os pesquisadores envolvidos no estudo avaliaram a evolução de 43 indicadores que estariam relacionados às metas de saúde associadas aos ODS. A análise foi realizada com dados de 185 países. Foi feita uma projeção do desempenho de cada um deles para o período entre 2021 e 2030, com base nas previsões de crescimento económico antes e depois da pandemia. Eles observaram uma desigualdade nos resultados.
“As análises mostraram que os países com rendas mais baixas poderão ter uma queda de 16% em todos os indicadores avaliados, uma queda muito mais significativa do que a estimada para os países de renda alta, que é de 3%”, aponta a Fiocruz, em nota divulgada nesta quarta-feira. (14), onde apresenta as principais conclusões do estudo.
Segundo os investigadores, os impactos económicos resultantes da pandemia da Covid-19 aprofundam as desigualdades. Isto ocorreria porque os países com economias mais poderosas tendem a recuperar mais rapidamente das crises e a reestruturar-se em menos tempo.
A pesquisa resultou em artigo científico publicado há três semanas na revista Plos Umpublicado pela Public Library of Science (Plos), iniciativa fundada em 2001 nos Estados Unidos que se dedica a apoiar publicações que adotam um modelo de licenciamento de conteúdo aberto.
Metodologia
Segundo a Fiocruz, a análise foi baseada em um modelo econométrico que levou em conta três indicadores econômicos de cada país: o Produto Interno Bruto per capita (PIB per capita), o índice de Gini – que mede a distribuição de renda – e os investimentos em saúde. Houve comparações entre as projeções económicas feitas antes da pandemia, em janeiro de 2020, e as atualizadas em outubro de 2021, cerca de 1 ano e meio após a eclosão da crise sanitária.
As medidas que envolvem doenças infecciosas estão entre as mais impactadas: há uma previsão de um abrandamento no ritmo de implementação nos quatro grupos de países de baixo rendimento, rendimento médio-baixo, rendimento médio-alto e rendimento elevado. No entanto, os efeitos não são homogêneos. Nos países de baixo rendimento, o abrandamento esperado é, em média, de 33,8%, em comparação com uma média de 6,4% nos países de elevado rendimento. Descobriu-se também que desempenhos ruins envolvem lesões e violência; saúde materna e reprodutiva; cobertura dos sistemas de saúde; e saúde neonatal e infantil.
Os resultados do índice de Gini mostraram uma forte associação com 15 indicadores, incluindo o atraso no crescimento das crianças, a cobertura vacinal infantil, a incidência da malária, o número de pessoas infectadas por doenças tropicais negligenciadas, a mortalidade por doenças crónicas não transmissíveis, a prevalência de tabagismo, homicídios e gastos diretos com saúde. “Quanto maior a desigualdade, pior o desempenho nesses indicadores”, apontam os pesquisadores.
No artigo científico são apresentadas algumas reflexões para a política internacional de saúde pública. Os investigadores apontam para a importância da cooperação global para apoiar os sistemas de saúde nos países de baixo rendimento e, assim, garantir um progresso equitativo, bem como um futuro mais saudável para todos.
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