O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vêm desenvolvendo uma série de parcerias com o objetivo de garantir recursos para iniciativas de combate à criminalidade no país. Em uma das iniciativas já em andamento, foram destinados R$ 318 milhões ao Plano Amazônia: Segurança e Soberania (Amas). Estão em curso negociações para outros projetos que também envolvem a utilização de recursos financeiros.
Os detalhes das parcerias foram divulgados nesta sexta-feira (16) pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Ambos destacaram que os projetos em discussão se alinham ao papel da instituição financeira.
“Estamos muito empenhados em construir iniciativas para fortalecer a segurança pública no Brasil. Não é exatamente uma tradição da instituição, mas o BNDES tem que estar aberto a desafios. precisamos encontrar outras fontes de recursos, além do orçamento público, que atualmente tem importantes restrições fiscais”, disse Mercadante.
Segundo Lewandowski, faz sentido que um banco de desenvolvimento esteja atento à segurança pública do país. “Temos tido reuniões com empresários e outros segmentos da sociedade civil. A estabilidade económica depende muito da segurança pública, o investimento estrangeiro depende da segurança pública”, disse.
Ele destacou que as ações na Amazônia, planejadas pela Amas, já estão em andamento. “É um projeto muito importante que já está em andamento e que visa defender a região de forma sistêmica, envolvendo os nove estados que compõem a Amazônia Legal e os nove países vizinhos. e drogas, mineração ilegal”, disse ele.
Os R$ 318 milhões foram destinados pelo Fundo Amazônia, que existe desde 2008 e é administrado pelo BNDES. A instituição financeira capta recursos de doadores nacionais e internacionais. Segundo Lewandowski, a expectativa é que novos aportes sejam feitos no futuro, chegando ao valor de R$ 1 bilhão.
Renovação do Palácio da Justiça
Outra questão que vem sendo discutida envolve a regularização fundiária de áreas indígenas e áreas ocupadas por quilombolas. A disputa por terras nessas localidades está muitas vezes relacionada a episódios de violência. Segundo o ministro, de acordo com o ordenamento jurídico, a regularização exige recursos para compensar os ocupantes que estão de boa-fé e que eventualmente realizaram melhorias nas áreas.
Há também previsão de aporte do BNDES para apoiar a restauração do Palácio da Justiça, sede do MJSP localizada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. As obras devem começar na próxima semana. O apoio da instituição financeira está previsto para 2025, de forma a contribuir para a conclusão da obra.
“Com a restauração, criaremos também um museu. Será um centro de memória, porque temos um acervo muito rico de documentos, livros, móveis, enfim, artefatos históricos. cidadãos que visitam Brasília”, explicou Lewandowski.
Mercadante destacou que o BNDES tem sido responsável por financiar grande parte da restauração do patrimônio histórico do Brasil. “É a instituição mais comprometida com o patrimônio e o Palácio da Justiça é uma das referências de Brasília. Queremos participar desse processo”.
Fundos
O presidente do BNDES afirmou que estão sendo avaliadas a criação de linhas de financiamento e a utilização de fundos de investimento para apoiar medidas de segurança pública. Há uma discussão avançada sobre a concessão de crédito aos estados com o objetivo de tirar do papel projetos de reestruturação do sistema prisional. “Como construir a modernização e garantir uma melhoria no sistema prisional, muitas vezes contaminado pelo crime organizado? Como se diz em linguagem mais popular, as unidades muitas vezes são uma universidade para o crime e estão longe de recuperar presos”, afirma Mercadante.
Ele destacou também a recente aprovação da criação do Fundo de Investimento em Infraestrutura Social (Fiis) pelo Congresso Nacional. Seus recursos virão de diversas fontes, como dotações orçamentárias, empréstimos de instituições financeiras nacionais e internacionais e acordos com a administração pública. “Eles deveriam ser usados para saúde, educação e segurança. Para que essas iniciativas de segurança pública possam ser atendidas com este novo fundo”, disse Mercadante. Os Fiis serão administrados por um comitê gestor coordenado pelo Ministério da Casa Civil e terão o BNDES como agente financeiro.
A instituição financeira prepara também uma proposta de criação de outro fundo, especificamente destinado ao apoio à segurança pública. Segundo Mercadante, a ideia não envolve a criação de novos impostos e se baseia em formas de arrecadação voluntária.
“Não é algo simples nem do ponto de vista legislativo nem técnico. Mas é possível no nosso entendimento. Seria um fundo repleto de fontes alternativas, como doações corporativas, para dar um exemplo. Aumenta o custo das empresas. Da mesma forma, a questão dos combustíveis falsificados, hoje você tem uma rede de postos de gasolina que são controlados pelo crime organizado para lavagem de dinheiro”, explicou.
O presidente do BNDES anunciou ainda que está prevista a realização de um seminário no início de outubro para discutir temas relacionados à democracia e à segurança jurídica, abrangendo também a segurança pública. A organização do evento está sendo discutida com o Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR), a Advocacia-Geral da República (AGU) e outros órgãos. Segundo Mercadante, um dos temas que deve ser debatido envolve a campanha que vem sendo liderada pelo MJSP para aprovar um novo marco constitucional capaz de estruturar um Sistema Único de Segurança Pública.
“Essa é uma intenção histórica da Constituição de 1988, mas precisa ser materializada em novas atitudes em busca de uma relação republicana mais eficiente entre os entes federados no combate ao crime”, afirmou. O MJSP pretende apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), para que a segurança pública seja gerida de forma semelhante ao que ocorre com a saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), com maior integração entre as estruturas nacionais e estaduais, incluindo padronização de procedimentos e documentos.
Medalha
As declarações foram feitas após cerimônia de entrega da medalha da Ordem do Mérito do MJSP ao jornalista Jânio de Freitas, com o título de Comendador. A homenagem é destinada a pessoas e instituições que prestaram importantes serviços nas áreas de Justiça e Segurança Pública no país. A distinção para Janio de Freitas foi proposta pelo ex-ministro do MJSP e atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino. O decreto foi assinado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin em setembro do ano passado.
A cerimônia aconteceu na sede do BNDES, no Rio de Janeiro. Jânio de Freitas, de 92 anos, não esteve presente. Ele foi representado pela neta, a advogada Paula Kaplan de Freitas, que informou que seu comparecimento teve que ser cancelado de última hora por não se sentir bem. “Meu avô disse que está muito feliz e honrado com esta medalha. E eu, como neta, posso dizer que estou muito orgulhosa”, disse ela.
Lewandowski e Mercadante destacaram a importância de Jânio de Freitas não só para o jornalismo, mas também para a defesa dos valores democráticos. “Ele sempre se posicionou com muita transparência e firmeza na defesa dos valores da soberania nacional. Marcou a história do jornalismo pela sua independência e compromisso com a democracia e os valores civilizatórios”, disse o presidente do BNDES.
Jornalista multipremiado, Jânio de Freitas trabalhou em redações de diversos veículos de comunicação, como Revista Manchete, Correio da Manhã, Último minuto e Jornal Esportivo. Entre 1983 e 2022, escreveu uma coluna política regular no Folha de S.Paulodo qual também foi membro do conselho editorial. Atualmente escreve semanalmente para o portal Poder360. Na TV, integrou equipes de diversos programas de entrevistas no Rede Bandeirantes e no extinto Manchete da TV.
Em sua carreira, produziu notáveis reportagens baseadas na investigação de crimes na administração pública. Em 1987, sua investigação sobre uma fraude licitatória envolvendo as obras da Ferrovia Norte-Sul lhe rendeu o Prêmio Esso de Jornalismo, considerado o mais importante da mídia nacional durante sua existência, entre 1955 e 2015.
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