A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia, que isenta os partidos de multas eleitorais por descumprimento de cotas. A votação ocorreu de forma simbólica, sem que os eleitores fossem registrados nominalmente. Os senadores Alessandro Vieira (MDB-SE) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) pediram para registrar posição contrária.
A aprovação ocorre em meio à pressão dos presidentes dos partidos, que querem aprovar o mais rápido possível as novas regras para regularizar a sua situação perante a Justiça Eleitoral a tempo das eleições municipais deste ano, cujo período oficial de campanha começa na próxima sexta-feira. .
O texto interessa a quase todos os partidos representados no Congresso e conta com o apoio do PL e do PT.
A proposta abre caminho para uma ampla anistia às irregularidades cometidas pelos partidos, o que inclui o descumprimento da cota de 30% para candidatas mulheres e candidatas pretas e pardas, o que corresponde à sua proporção no eleitorado, que hoje representa algo próximo de 50 %. Além disso, a PEC altera a forma de aplicação da cota racial e passa a definir o percentual em 30%.
O presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre (União-AP), também quer que a votação no plenário ocorra no mesmo dia, para que a medida esteja pronta para promulgação.
O relator da PEC é o senador Marcelo Castro (MDB-PI). O emedebista não fez alterações em relação ao texto que foi aprovado pelos deputados em julho. Com mudanças, a proposta precisaria passar por nova votação na Câmara, o que atrasaria a aplicação da anistia.
O texto da proposta não apresenta o impacto da medida, mas a Organização Não Governamental (ONG) Transparência Partidária estima o volume em até R$ 23 bilhões.
Apesar do desejo do presidente da CCJ de acelerar a aprovação do texto, há dúvidas sobre um acordo para levar o projeto ao plenário nesta quarta. Na reunião de líderes da semana passada, os senadores apontaram que a regularização das multas partidárias pode não impactar esta eleição.
Caso se confirme que a aprovação da PEC não fará diferença financeira para os partidos nesta eleição, a tendência é que o texto não seja votado hoje no plenário e a análise seja adiada para depois do final do plenário. eleições municipais.
Apesar de contar com amplo apoio dos partidos, a proposta enfrentou dificuldades para ser aprovada na Câmara, pois enfrenta forte resistência da sociedade civil organizada. Na Câmara, apenas o partido Novo e o bloco PSOL-Rede votaram contra a PEC, mas o texto estava parado na Câmara desde o ano passado porque o Senado sinalizou que iria arquivar a medida.
Segundo Marcelo Castro, o Senado mudou de posição depois que a Câmara, que teve como relator o deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), suavizou alguns dispositivos do texto.
Uma das principais mudanças foi a possibilidade de parcelamento de multas partidárias. Além disso, existe uma modalidade de “financiamento” das dívidas das partes, com pagamentos que duram até 180 meses.
Outro trecho da PEC permite que os partidos que descumpriram a cota racial em 2020 e 2022 compensem a distorção nas quatro disputas seguintes, a partir de 2026, escapando assim da punição.
No que diz respeito às candidatas, o novo texto retira o trecho que aliviava os partidos que não cumpriam as cotas de repasses às mulheres, porém, grupos focados na transparência que acompanham a tramitação da proposta apontam que a iniciativa ainda permite a anistia nesses casos.
“Na prática, todos os tipos de sanções aplicadas seriam anuladas, configurando uma anistia ampla e irrestrita para todas as irregularidades e condenações de partidos políticos e campanhas eleitorais”, diz nota assinada por organizações como a Transparência Internacional.
Entenda os principais pontos da PEC da Anistia:
O texto estabelece que os partidos deverão destinar pelo menos 30% dos recursos do Fundo Partidário e Eleitoral para candidaturas de pessoas pretas ou pardas. Anteriormente, o projeto previa piso de 20%. Se aprovado pelo Senado antes das eleições, esse trecho agora será aplicado nas disputas que ocorrerão em outubro. Hoje o Tribunal Superior Eleitoral define que a proporção deve ser igual à participação de negros entre os candidatos, algo que fica próximo de 50%;
A proposta abre brecha para que esses recursos possam ser destinados a apenas um candidato, deixando outras candidaturas de mulheres e negros com poucos recursos de campanha;
Os partidos também terão liberdade para escolher uma região específica para enviar fundos de campanha;
O texto também desobriga os partidos de pagarem multas ou de terem o Fundo Partidário Eleitoral suspenso por irregularidades nas prestações de contas realizadas antes da promulgação da emenda;
Os partidos e federações partidárias ganharão imunidade tributária, ou seja, ficarão isentos do pagamento de impostos, como acontece atualmente com entidades religiosas e organizações assistenciais;
Será criado um Programa de Recuperação Fiscal (Refis) para que os partidos regularizem suas dívidas. A proposta prevê que as entidades ficarão isentas de juros sobre débitos acumulados e multas. Desta forma, a correção monetária só será aplicada aos valores originais da dívida;
A proposta também flexibiliza as atuais regras de prestação de contas e dispensa os partidos de apresentarem recibos no caso de doações de recursos do Partido e do Fundo Eleitoral por meio de transferências bancárias feitas pelo partido a candidatos e de doações recebidas por meio do PIX.
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