O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que um possível aumento da taxa básica de juros está na mesa da autarquia, diante de casos inesperados e com impacto nos mercados mundiais, como aconteceu nesta segunda-feira , com a maior queda na Bolsa de Valores de Tóquio desde 1987.
O economista disse ainda concordar que o cenário é “desconfortável” para cumprimento da meta de inflação de 3% para o ano com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Galípolo participou de painel no 2º Warren Institutional Day, evento de finanças organizado pela Warren Investimentos em São Paulo.
“Alinho-me com a visão de que o cenário hoje é incômodo para o cumprimento da meta (de inflação) e daqueles que gostariam de ver uma melhora nas variáveis para a questão do cumprimento da meta”, disse nesta segunda-feira.
O economista disse ainda que não há relação mecânica entre câmbio e política monetária, já que o BC monitora uma série de variáveis que indicam desde a desancoragem das expectativas de inflação até um mercado de trabalho mais aquecido, além da trajetória positiva do mercado de crédito. , que bateu recorde na emissão de debêntures.
“Às vezes o que é uma boa notícia para alguns é uma espécie de preocupação para nós. O IPCA não só foi mais alto, mas também com uma composição que traz uma série de alertas […] “, disse Galípolo, citando, por exemplo, a persistência da inflação nos serviços, também ligada ao mercado de trabalho apertado, e também influências como o repricing da curva de juros nos Estados Unidos.
Galípolo reforçou o conteúdo da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, publicada no início da semana passada.
No documento, a autoridade disse que não hesitaria em aumentar a Selic para garantir a inflação dentro da meta. O BC havia decidido, na semana anterior, manter a taxa básica de juros da economia em 10,50% ao ano.
“A ata deixa isso muito claro, e espero ter deixado claro, mas repito que não demos nenhum tipo de orientação para a próxima reunião […] A ascensão está em cima da mesa e queremos ver como isso vai se desenrolar […] Basta olhar para o que aconteceu com a política monetária norte-americana, ou pegar uma segunda-feira em que se tem a maior queda desde 1987 na bolsa de valores do Japão, e depois ter uma pausa no circuito de alta no final do dia, na abertura do mesmo mercado de ações. “, disse o diretor.
Na semana passada, em outro evento, ele havia comentado que os riscos de uma inflação elevada superavam os indícios de algum alívio nos aumentos de preços. Galípolo disse, na mesma ocasião, que o Copom está disposto a fazer o que for necessário para garantir o cumprimento da meta.
O economista concluiu que cabia ao conselho estabelecer uma taxa de juros que fosse suficientemente restritiva (ou seja, em nível suficientemente elevado) pelo tempo necessário para atingir uma inflação de 3% ao ano.
Alguns analistas, porém, avaliaram que a fala de Galípolo indicava uma mudança de tom em relação à ata divulgada pelo BC, o que ele nega.
Ele disse ainda que é importante haver uniformidade entre a postura dos dirigentes e as declarações do BC:
“De forma alguma foi (minha) intenção mudar de tom. Tivemos o mesmo diagnóstico […] Para quem é diretor da autoridade monetária, que busca coordenar expectativas e entende que a formação dos preços dos ativos se dá por consenso, tentar produzir um drible seria muito estranho, certo? Olhar para o lado e tocar no outro é uma jogada brilhante do Ronaldinho Gaúcho, maravilhosa. Agora, se o diretor de política monetária fizer isso ou qualquer outro diretor, ele marcará um gol contra.”
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