A inflação brasileira acima da meta e as expectativas de inflação futura não ancoradas preocupam o Banco Central, que fará o que for preciso para levar o IPCA à meta, independentemente de quem seja o presidente da instituição.
A declaração foi feita por Presidente do Banco Central, Roberto Campos Netodurante evento de inauguração do novo campus da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), em São Paulo, na manhã desta segunda-feira (12).
“Tivemos uma mensagem inequívoca e consensual de que o BC fará o que for preciso para trazer a inflação para a meta, é muito importante, e independentemente de quem seja o presidente, qual seja o mandato, isso está bem consolidado no grupo que temos hoje”, disse Campos Neto, que deve deixar o cargo até o final do ano e as apostas indicam que seu substituto será Gabriel Galípolo, atual diretor de política e ex-número um do ministro da Fazenda Fernando Haddad.
A instituição informou em sua ata, divulgada na semana passada, que o cenário marcado por projeções mais elevadas e mais riscos de aumento da inflação é desafiador e que “não hesitará em aumentar a taxa de juros para garantir a convergência da inflação à meta”.
Em julho, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) decidiu manter a Selic, pela segunda vez consecutiva, após um ciclo de sete reduções, que durou de agosto de 2023 a maio de 2024. As taxas básicas de juros da economia foram mantidas em 10,5% ao ano. A próxima reunião está marcada para os dias 17 e 18 de setembro.
Campos Neto disse que o mercado ainda apresenta incertezas sobre a política monetária futura, bem como sobre o cenário fiscal. O presidente do BC afirmou que a autoridade monetária tem feito o possível para mostrar que o órgão é técnico.
“Conseguimos autonomia para isso. O BC está fazendo tudo que pode, vai agir com seriedade e não poupará esforços. Então acredito que esse prêmio de risco tende a diminuir”, afirmou.
Sobre a questão fiscal, o presidente do BC afirmou que o governo está fazendo um grande e importante esforço fiscal, mas é preciso ver a dinâmica fiscal daqui para frente. Ele acredita que à medida que o governo demonstrar esforço, esse prêmio de risco também tenderá a diminuir
Ele disse, porém, que o Brasil precisa fazer um esforço fiscal extra, olhando para o médio prazo, para que as pessoas acreditem que haverá ‘conversão da dívida’.
Turbulência no mercado
Após turbulência no mercado acionário global devido a uma possível recessão nos Estados Unidos, Campos Neto acredita que o ambiente deverá ser de volatilidade daqui para frente. Para o presidente do BC, porém, uma forte desaceleração na maior economia do mundo é um cenário improvável.
“Tem havido sinais de um abrandamento na economia americana, mas uma recessão não parece ser o cenário mais provável”, disse, observando que, independentemente de quem ganhe as eleições americanas, a política económica não deve ser demasiado austera. A dívida pública americana, que era de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), chega agora a 150% do PIB, lembrou.
Para ele, a volatilidade do mercado deverá continuar porque há falta de sincronia entre a política monetária dos EUA e a de alguns países. O aumento das taxas de juro no Japão, disse ele, desarmou o chamado “carry trade” que os investidores vinham fazendo: emprestar dinheiro a taxas de juro baixas no Japão e investir noutros locais. A expectativa é que as taxas de juros continuem subindo no Japão.
Nos Estados Unidos, a expectativa é que as taxas de juros caiam até 120 pontos-base nos próximos meses, afirmou, a uma taxa de redução de 0,25 pontos percentuais.
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