O programa Farmácia Popular, que oferece medicamentos grátis para a população mais pobre, foi a ação mais afetada pelo congelamento de gastos decretado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com R$ 1,7 bilhão bloqueados no Orçamento da União.
O governo promoveu contenção de gastos no valor de R$ 15 bilhões para cumprir regras fiscais neste ano. Os ministérios foram responsáveis por definir quais áreas serão afetadas.
Não há garantias de que o dinheiro voltará. Os recursos só serão descongelados se as contas estiverem novamente em dia, o que não é o cenário atual. O Executivo pediu autorização ao Congresso para cancelar de vez os recursos bloqueados.
Até esta quinta-feira, 8, ministérios e agências governamentais implementaram R$ 13 bilhões em congelamentos, incluindo bloqueios (para cumprir o marco fiscal) e contingências (para cumprir a meta de resultado primário).
Na prática, ambas as medidas evitam que o valor seja gasto. O prazo para os ministérios detalharem os cortes já terminou, mas a Secretaria do Orçamento Federal pode implementar o congelamento até a próxima terça-feira, dia 13.
Orçamento
O programa Farmácia Popular tem orçamento de R$ 5,2 bilhões em 2024, dos quais R$ 4,8 bilhões são provenientes apenas do sistema gratuito, que financia 100% do valor do medicamento.
O restante vai para o sistema de coparticipação, em que o governo paga parte dos remédios para o cidadão atendido. O bloqueio afetou 36% do programa gratuito. O Ministério da Saúde não esclareceu os motivos da retirada de recursos da Farmácia Popular.
Após a publicação do relatório, o Ministério da Saúde afirmou que não haverá impacto no funcionamento do programa.
A despesa bloqueada era uma reserva técnica que seria direcionada para outra iniciativa, segundo o ministério, que não detalhou qual seria essa iniciativa.
“Vale ressaltar também que, caso seja necessário, existe a possibilidade de recuperação do valor durante o ano através de remanejamentos”, disse o órgão.
Lula criticou cortes de Bolsonaro
Os cortes na Farmácia Popular feitos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), revelados pelo Estadão, provocaram fortes críticas de Lula durante a campanha eleitoral de 2022 e nortearam os discursos do petista na disputa.
Mesmo com o congelamento, orçamento é maior que o do governo Bolsonaro, mas menor do que o prometido pelo Ministério da Saúde para 2024
“Corte é corte. Se precisar de ajuste ninguém vai ficar sorrindo, mas é necessário”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, após reunião ministerial promovida pelo presidente Lula.
“O corte (deu-se) ao compromisso muitas vezes reiterado pelo Presidente da República com a sua política fiscal, com a responsabilidade fiscal, com o equilíbrio fiscal.”
Cortes afectam Ajuda ao Gás, concessões, combate à criminalidade e Forças Armadas
Outros programas afetados
Além da Farmácia Popular, os programas mais afetados na Esplanada dos Ministérios foram a participação da União em concessões rodoviárias (R$ 934 milhões) e o Auxílio Gás (R$ 580 milhões), que subsidia botijões de gás para famílias carentes.
Conforme revelou o Estadão, o governo também bloqueou recursos do programa Pé-de-Meia, que paga poupança a alunos de baixa renda do ensino médio, três dias após anunciar a ampliação do programa.
O Ministério dos Transportes afirmou que bloqueou o financiamento das concessões porque os projectos já não estão na carteira deste ano e estavam previstos para 2025, devido ao atraso na realização de audiências públicas.
“Portanto, este bloqueio não prejudicará nenhuma ação do departamento”, afirmou a entidade.
Obras sentem o efeito
O corte afetou também uma série de obras em rodovias e ferrovias. O ministério decidiu impor um ritmo mais lento de execução dos projectos, adaptando a situação ao orçamento disponível, mas promete não paralisar nenhum projecto. A avaliação é que é pouco provável que o congelamento seja revertido.
“O cronograma terá que ser alterado, vamos organizar o fluxo de medições das obras, verificando por exemplo onde não está chovendo e onde está chovendo mais. (trabalho)”, disse o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.
O Ministério do Desenvolvimento Social, por sua vez, afirmou que não haverá prejuízo para o Auxílio Gás. “A medida, voltada para despesas discricionárias, não é definitiva e poderá ser revista nos dois meses seguintes, caso as despesas inicialmente previstas deixem de ocorrer”, disse o ministério, que também garantiu a remodelação de ações para garantir o pagamento do benefício caso não há desbloqueio.
Os cortes também afetaram o dinheiro destinado à saúde especializada (R$ 579 milhões) do Ministério da Saúde. O ministério ainda não justificou a escolha dos programas afetados.
Congela
A construção de habitação social (R$ 500 milhões) foi a ação mais afetada no Ministério das Cidades. No Ministério da Previdência, o maior atingido pelo congelamento foi o sistema de processamento de dados da Previdência Social (R$ 255 milhões), num momento em que o governo promete ajustar os pagamentos para economizar dinheiro.
No Ministério da Justiça e Segurança Pública, a área mais afetada foram os recursos destinados ao desenvolvimento de ações de segurança pública e combate ao crime (R$ 195 milhões).
O ministério disse ao Estadão que “nenhum programa prioritário do ministério será afetado”. Além disso, o órgão declarou que transferiu recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, compensando os cortes realizados em ambas as corporações.
O Ministério da Defesa, um dos órgãos que tentou reverter o congelamento de gastos, definiu a previsão das Forças Armadas, que mantém os militares preparados para chamadas extraordinárias, de sofrer o maior corte, de R$ 195 milhões.
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