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Nas Olimpíadas de Paris deste ano, os atletas brasileiros que conquistaram um lugar no pódio poderão comemorar suas vitórias sem se preocupar em quando levar suas medalhas para o Brasil.
Suas joias, conquistadas com muito talento e disciplina, podem entrar no país sem o risco de um fiscal da alfândega questionar o valor e cobrar imposto.
Mas parte dos prêmios em dinheiro que acompanham essas conquistas terá de ser entregue à Receita Federal.
Nos valores elevados, mais de um quarto vai para os cofres do Tesouro Nacional na forma de Imposto de Renda, informou a Receita nesta quarta-feira, explicando que “esta é a mesma regra aplicável a todos os trabalhadores brasileiros”, que só pode ser dispensada pelo Congresso .
A Receita Federal decidiu fazer o esclarecimento porque, nos últimos dias, publicações nas redes sociais criticaram a tributação de prêmios para campeãs olímpicas como Rebeca Andrade e Beatriz Souza como uma decisão do governo Lula, mas é uma obrigação que existe para 50 anos e isso foi reforçado pela Constituição de 1988.
Prêmios em dinheiro como os que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) dá aos medalhistas estão sujeitos à tributação do IR porque compõem a renda dos atletas no ano.
Os valores dos prêmios ficam, portanto, sujeitos à alíquota máxima de 27,5% do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), sobre a parcela da renda que ultrapassar R$ 5.280 por mês, segundo o tributarista João Henrique Ballstaedt Gasparino.
Ele chama a atenção, porém, que é um fardo mais pesado, por exemplo, do que os 15% cobrados dos vencedores nas plataformas de apostas esportivas online, em prêmios acima de R$ 2.112, compara o advogado:
— Medalhistas olímpicos pagam praticamente o dobro de impostos (83,33% a mais) em relação aos apostadores esportivos.
Gasparino explica que a tributação das premiações em dinheiro dos atletas segue a tabela progressiva do IRPF. Os valores devidos são retidos na fonte pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Ou seja, essa parte do prêmio nem vai parar na conta do atleta ganhador. Além disso, os medalhistas deverão informar esse rendimento em sua Declaração Anual de Reajuste do IRPF para evitar penalidades.
Mas esta não é uma inovação do atual governo. Alvo de críticas de parlamentares de Bolsonaro, a tributação de premiações recebidas por atletas olímpicos existe no Brasil há pelo menos 50 anos e totalizou R$ 1,2 milhão nos Jogos de Tóquio em 2021, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A discussão sobre tributação ganhou força esta semana depois que os deputados federais Luiz Lima (PL-RJ) e Felipe Carreras (PSB-PE) apresentaram pedido urgente para votação de projeto de lei (PL), de autoria do primeiro parlamentar, que propõe isentar brasileiros medalhistas do imposto de renda.
No caso das medalhas, mesmo sendo joias, elas já estão isentas de qualquer imposto ao entrar no Brasil, pois são objetos recebidos em eventos internacionais oficiais, como troféus e medalhas esportivas. A isenção está prevista na Lei 11.488/2007.
Quanto ganham os medalhistas do Comitê Olímpico Brasileiro?
Prêmios Individuais
Atletas que competirem nas modalidades individuais receberão R$ 350 mil em medalhas de ouro; R$ 210 mil para medalhas de prata e R$ 140 mil para medalhas de bronze.
Prêmios de Grupo
Nas competições coletivas, envolvendo de dois a seis atletas, a premiação em dinheiro será dividida igualmente entre os integrantes, sejam titulares ou reservas.
Nesta categoria, a medalha de ouro rende R$ 700 mil; o prata, R$ 400 mil; e a medalha de bronze, R$ 280 mil, a ser dividida entre os atletas da equipe.
Prêmios Coletivos
As equipes coletivas, formadas por sete ou mais atletas, terão a premiação distribuída igualmente entre todos os integrantes, incluindo titulares e reservas.
Nesse formato, a medalha de ouro garante R$ 1,05 milhão; o prata, R$ 630 mil; e o bronze, R$ 420 mil.
Qual será o desconto no valor do prêmio de alguns medalhistas?
Beatriz Souza, de 26 anos, que conquistou medalha de ouro no judô, receberá um total de R$ 392 mil em prêmios.
Porém, após deduzido o imposto sobre o valor do prêmio, ela deverá receber aproximadamente R$ 285,1 mil, sendo o imposto cobrado acima da parcela isenta de R$ 5.280.
Rebeca Andrade, outra medalhista olímpica, terá seu prêmio em dinheiro reduzido de R$ 826 mil para cerca de R$ 598,8 mil após impostos, segundo estimativas.
Os atletas Caio Bonfim, Tatiana Weston-Webb e William Lima, que conquistaram medalhas de prata em suas respectivas modalidades, terão desconto de R$ 57 mil, ficando com prêmio líquido de aproximadamente R$ 152 mil.
Os atletas residentes no exterior enfrentarão uma alíquota diferente sobre os prêmios em dinheiro, dependendo do país em que residem.
Deputados querem isentar atletas
O deputado federal Luiz Lima (PL-RJ), ex-atleta olímpico, propôs um projeto de lei que visa isentar do Imposto de Renda os prêmios recebidos por medalhistas olímpicos.
Em colaboração com Felipe Carreras (PSB-PE), Lima apresentou pedido urgente de tramitação acelerada do projeto, que já conta com 495 assinaturas de apoio na Câmara.
A proposta pretende garantir que os valores dos prêmios concedidos pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), governo federal ou outros órgãos sejam integralmente destinados aos atletas.
Segundo o projeto, a isenção visa potencializar as conquistas olímpicas e incentivar a prática esportiva no país, com impacto financeiro considerado pequeno para os cofres públicos.
— A isenção também poderia liberar mais recursos para os atletas reinvestirem na carreira, seja em treinamentos, equipamentos, viagens para competições internacionais ou outras necessidades — afirma João Henrique.
Ele destaca ainda que os impostos pagos pelos atletas medalhistas são impostos não relacionados. Ou seja, o valor que seria pago a título de IRPF ao governo não é necessariamente destinado a programas como o Bolsa Atleta.
Se aprovado, o projeto alterará a Lei nº 7.713, incluindo nova isenção para valores recebidos por medalhistas olímpicos.
A proposta tem o apoio de Lima, que conquistou medalhas nos Jogos Pan-Americanos, e de Carreras, ex-presidente da Comissão de Esportes da Câmara.
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