A ampliação da lista de alimentos isentos de impostos (do IBS e CBS, criado pela reforma) na cesta básica, com a recente inclusão de carnes, aumentou a expectativa de uma possível queda nos preços desses itens no futuro. Uma das beneficiárias dessa esperada redução de custos seria a aposentada Marilene De Senso, de 72 anos, que se surpreendeu com os preços em um supermercado paulista na semana passada.
“Tudo que você olha você fala: meu Deus, está muito caro”, comentou Marilene, que se diz a favor da isenção da cesta básica de impostos, desde que a medida barateie a ida ao mercado. Porém, segundo os especialistas, as isenções não devem resultar numa redução significativa do preço dos alimentos, a ponto de serem sentidas pelo consumidor.
“Você está retirando o imposto, então, a princípio, deveria haver redução de preço. Mas, pela metodologia que está sendo aplicada, você não tem controle se isso vai ocorrer”, diz Luiz Peroba, advogado tributarista do Pinheiro Neto .
TRANSIÇÃO
Além de os empresários terem liberdade para definir seus preços, podendo ou não repassar a redução do imposto ao consumidor, Peroba lembra que o prolongado período de transição da reforma tributária tornará ainda mais difícil para a população perceber qualquer mudança nos preços.
O preço destes produtos também varia consideravelmente, estando sujeito a fatores sazonais, de colheita e cambiais. Neste cenário, é difícil prever que, devido às medidas introduzidas pela reforma, os preços irão efectivamente cair. Além disso, muitos dos setores abrangidos pela isenção já contavam com incentivos fiscais. “Temos que pensar que vários desses produtos já tiveram impostos reduzidos”, afirma Ana Luiza Martins, sócia da Tauil & Checker e advogada tributária, referindo-se aos benefícios existentes no regime atual.
Segundo os advogados, as atuais alíquotas baixas para muitos produtos fazem com que a isenção proposta pela reforma esteja mais próxima da manutenção do ônus do que de uma redução em sentido estrito. “Esses setores já têm alíquota menor, justamente com essa justificativa (de isentar produtos consumidos pela população de baixa renda)”, afirma Luciano Nakabashi, professor do departamento de economia da USP de Ribeirão Preto.
Contudo, considera que, apesar de baixas, as taxas atuais não são reajustadas, o que poderia levar a algum tipo de redução de custos e preços, mesmo que pequena.
MANUTENÇÃO
Essa situação foi observada no setor de carnes, incluído na lista de produtos da cesta básica com tributação zerada em última hora pela Câmara dos Deputados, durante a regulamentação da reforma. Segundo Francisco Victer, presidente do Sindicato Nacional das Indústrias e Empresas de Carnes (Uniec), que tem como associados empresas como a JBS (BVMF :), a mudança não representou um benefício para o setor, mas sim a manutenção da situação atual .
“Havia muita discussão sobre o favorecimento do setor de carnes, mas o setor já estava reduzido”, diz Victer, citando isenções de impostos federais e em vários estados. “O setor tem contribuição mínima, zero ou próxima de zero (para a arrecadação de impostos)”, afirma.
Para especialistas entrevistados pelo Estadão, a isenção de impostos para alimentos da cesta básica não seria a opção mais eficiente para aliviar as populações de baixa renda. Isso porque a medida beneficia todas as camadas da sociedade, inclusive os consumidores que não precisariam de incentivos para adquirir esses produtos.
Com um maior número de excepções, a taxa geral de IVA, que incide sobre um número muito maior de sectores, aumenta, aumentando a carga fiscal global do país. “Nos países mais desenvolvidos é comum termos taxas mais padronizadas e estamos caminhando na direção do que esses outros países fazem, mas ainda estará longe do que seria melhor”, analisa Nakabashi, da USP Ribeirão.
SAÍDA
Uma alternativa seria utilizar a proposta de cashback, que já consta no texto da reforma, para devolver esses impostos à população mais carente, o que permitiria ao governo conceder benefícios de forma mais eficiente. Esta medida foi defendida pelo próprio Ministério das Finanças e pelo Banco Mundial.
“Já existiam os conceitos de produtos de cesta básica com alíquota reduzida. Nas cestas básicas dos Estados, por exemplo, aproveitaram a oportunidade para fazer concessões fiscais, onde cabia tudo. “, pondera Luiz Peroba, sobre o benefício de unificar a lista de isenções.
Ana Luiza Martins lembra que a mudança proposta pelo governo com a reforma teve como foco a simplificação do sistema tributário, o que está sendo feito. “O governo nunca prometeu redução de impostos com a reforma, mas sim simplificação”.
A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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