Apresentado no início do mês pelo deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG), o Projeto de Lei 2780/2024 reuniu demandas que haviam sido apresentadas pelo setor mineral. A proposta é estabelecer uma Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE). Entre as medidas previstas está a concessão de benefícios fiscais às mineradoras.
Durante apresentação do balanço semestral do setor realizada na última quinta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade que representa as maiores mineradoras do país defendeu a importância da aprovação do PL. A proposta é vista como fundamental para alavancar a produção de minerais necessários ao processo de transição energética e descarbonização da economia.
“Essa é uma agenda que estamos propondo desde maio. Realizamos um seminário internacional sobre minerais críticos e estratégicos e lançamos um posicionamento. Também apresentamos contribuições para políticas e diretrizes públicas em evento temático na Câmara dos Deputados. foram entregues ao parlamentar da Frente Mineira e o deputado Zé Silva tomou a decisão de protocolar esse PL”, disse Cinthia Rodrigues, gerente de pesquisa e desenvolvimento do Ibram.
Conforme afirmado no projecto, minerais críticos são aqueles cuja disponibilidade está ou pode estar em risco devido a limitações de produção e fornecimento e cuja escassez criaria dificuldades para garantir a transição energética, garantir a segurança alimentar e nutricional ou salvaguardar a segurança. nacional.
Os minerais estratégicos envolvem aqueles considerados essenciais para a economia na geração de superávit na balança comercial do país.
A classificação de cada mineral com base nesta categorização ficaria a cargo de um comitê interministerial composto por oito departamentos sob a liderança do Ministério de Minas e Energia (MME). Eles se reuniriam periodicamente com a companhia de cinco convidados com direito a voto: um representante de estados e municípios, dois representantes do setor privado e dois representantes da sociedade civil. Além de executar o enquadramento, este comité teria outras funções como a recolha de dados nacionais e internacionais, apoiar processos de licenciamento ambiental e promover estudos relacionados com diversas questões como a oferta e procura de minerais críticos e minerais estratégicos.
Entre os benefícios fiscais, o projeto inclui mineradoras que desenvolvam projetos de pesquisa, mineração ou transformação de minerais críticos ou minerais estratégicos constantes da Lei Federal 11.196/2005, que estabelece incentivos à inovação tecnológica como a dedução de valores no recolhimento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O texto propõe ainda que o Regime Especial de Incentivos ao Desenvolvimento de Infraestrutura (Reidi), que visa desonerar impostos na implantação de projetos de infraestrutura, seja aplicado ao setor mineral.
Ao justificar o PL, o deputado Zé Silva cita as projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), que também são citadas em documento divulgado pelo Ibram em maio deste ano sob o título “Por uma Política Mineral Crítica e Estratégica para o Brasil e o futuro”. ”. Segundo o parlamentar, apontam para “um aumento significativo da procura de vários destes minerais, essenciais para a implementação destas tecnologias ligadas à energia verde, num processo global de descarbonização da economia”.
Zé Silva lista algumas reivindicações. “Será necessário mais cobre para construir parques eólicos e transmitir eletricidade; serão necessários mais cobre e silício para gerar energia fotovoltaica; serão cada vez mais necessários níquel, lítio e grafite para produzir baterias; serão necessárias mais terras raras para fabricar motores elétricos, em além dos minerais considerados críticos, metais como alumínio e ferro, verão sua demanda multiplicada pelo processo de substituição de veículos e equipamentos”.
Questões fiscais
A proposta surge em meio ao descontentamento do Ibram com questões tributárias. A entidade tem manifestado críticas às Taxas de Fiscalização de Recursos Minerais (TFRMs), criadas nos últimos anos por meio de leis aprovadas em nível estadual. Embora questionada judicialmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a constitucionalidade da medida foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022.
A adoção do Imposto Seletivo, conhecido em inglês como Sin Tax (imposto sobre o pecado, em tradução literal), também causa desconforto à entidade. Já existente em outras nações, foi incluído na Reforma Tributária aprovada no ano passado pelo Congresso Nacional. Tendo como princípio a seletividade, utiliza a tributação para desencorajar o consumo de bens selecionados. O alvo são bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente.
O tema está em debate no Congresso Nacional, porque a Reforma Tributária estabeleceu a necessidade de uma Lei Complementar para regulamentar o tributo. Deve definir quais produtos serão tributados, bem como as alíquotas e regras. O Ibram alega que, tal como está sendo proposto, o Imposto Seletivo prejudica o setor mineral e afeta as exportações, o que seria inconstitucional.
“Fizemos avanços, que foi a redução de 1% para até 0,25%. Reconhecemos que é um avanço, mas ainda afeta as exportações, o que é inconstitucional. , porque fornece matéria-prima para outros setores A adoção do Imposto Seletivo tem efeitos na construção civil, na fabricação de veículos e aeronaves, em tudo que você possa imaginar na inflação”, disse o presidente do Ibram, Raul Jungmann, durante a reunião. apresentação dos dados do setor.
Segundo ele, o Imposto Seletivo afeta a competitividade do setor mineral no cenário global. Jungmann afirmou ainda que as mineradoras já são tributadas pelos seus impactos ambientais por meio da arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), considerada o royalty da mineração.
Dados da indústria
Segundo dados do balanço semestral, o faturamento do setor entre janeiro e junho foi de R$ 129,5 bilhões. O valor está 8% acima do registrado nos primeiros seis meses do ano passado. Os dois principais estados mineradores – Minas Gerais e Pará – impulsionaram o desempenho. Juntos, eles representaram 75% da receita. Os mineiros tiveram um aumento de 8% no faturamento e os paraenses aumentaram 12%.
O maior salto, porém, foi registrado em São Paulo. O desempenho no estado foi 17% superior em relação ao mesmo período de 2023. O minério de ferro respondeu por 62% da receita do setor, totalizando R$ 80,1 bilhões. Em seguida, aparece o ouro com 8% e o cobre com 7%.
As exportações totalizaram US$ 21,5 bilhões, um aumento de 8,5%. Esse desempenho foi impulsionado pela alta do dólar. A China foi destino de 68,7% das vendas de minério de ferro. É também o principal destino do cobre e do nióbio brasileiros. O principal comprador de ouro e alumínio é o Canadá. O país norte-americano é responsável por cerca de 46% das transações envolvendo estes dois minerais.
O balanço mostra ainda que a receita da CFEM no período foi de R$ 3,6 bilhões, o que representa um crescimento de 6,1% em relação aos primeiros seis meses de 2023. Em 2024, 2,7 mil municípios já receberam royalties. Os maiores valores foram arrecadados em favor de Parauapebas (R$ 608 milhões), Canaã dos Carajás (R$ 580 milhões), ambos no Pará, e Conceição do Mato Dentro (R$ 204 milhões), em Minas Gerais.
Vale ressaltar que os dois estados com maior proporção de municípios beneficiados são Espírito Santo e Rio de Janeiro. Parte do valor em royalties foi recebido por 63 prefeituras capixabas, 81% do total. No Rio, 68 receberam algum valor, o que representa 74% dos 92 municípios.
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