Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas DI registraram nesta quinta-feira sua terceira sessão consecutiva de aumentos, perto de 20 pontos-base em alguns vencimentos, em reação aos números de inflação piores que o esperado no Brasil, com a curva a termo começando a precificar 21%. probabilidade de o Banco Central aumentar as taxas de juros na próxima semana.
No final da tarde, a taxa DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,78%, ante 10,68% do reajuste anterior. A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 11,755%, ante 11,59% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 12,025%, ante 11,842%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 12,29%, ante 12,208%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 12,29%, ante 12,198%.
Na abertura da sessão, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15 – uma espécie de prévia da inflação oficial – subiu 0,30% em julho, acima do aumento de 0,23% projetado pelos economistas consultados em uma pesquisa da Reuters.
O resultado fez com que a taxa acumulada em 12 meses acelerasse de 4,06% em junho para 4,45% em julho, também acima da expectativa de 4,38%. A taxa acumulada em 12 meses até julho está próxima do teto da meta de inflação perseguida pelo BC, de 4,50%.
“Olhamos muito para a média de três meses do indicador, que dá uma ideia de para onde caminham os números. Essa média anualizada passou de 3,5% para 4,3% em julho, o que é bastante”, disse Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“Esperávamos que hoje pudesse haver uma reversão (dos recentes aumentos das taxas), mas esses dados de inflação impediram que isso acontecesse”, acrescentou.
A taxa DI de janeiro de 2027 – uma das mais líquidas – oscilou para cima ao longo da sessão, na esteira dos números do IPCA-15, atingindo pico de 12,06% às 15h24, alta de 22 pontos base. .
Por trás do movimento estava a percepção de que, com a inflação pressionada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderia até elevar a taxa básica Selic em 2024.
“Um cenário quase otimista agora é a manutenção da Selic em 10,50% até o final do ano. É praticamente impossível a Selic cair e muita gente começa a falar em aumento dos juros”, disse o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário enviado aos clientes.
“Em alguns momentos, a curva de juros incluiu alta da taxa Selic e já está começando a se enraizar novamente… Com esse IPCA do jeito que está, é impossível imaginar o Copom cortando os juros este ano e está começando para ser possível imaginar o BC aumentando os juros neste ano”, reforçou.
Com o movimento desta quinta, a curva a termo brasileira precificou perto de fechar 79% de chance de manter a taxa básica Selic em 10,50% ao ano na reunião do Copom da próxima semana. A probabilidade de um aumento de 25 pontos base é de 21% – acima dos 13% observados no dia anterior.
Profissionais ouvidos pela Reuters apontaram que é pouco provável que o BC de fato aumente a taxa Selic na próxima semana. Portanto, as apostas altistas neste próximo encontro são vistas como uma proteção em caso de alguma surpresa. Na curva a termo, porém, há apostas majoritárias de que o BC aumentará os juros até o final do ano.
Os dados do IPCA-15 acabaram ofuscando os números da receita federal, também divulgados pela manhã. A Receita Federal informou que a receita teve aumento real (depois da inflação) de 11,02% em junho em relação ao mesmo mês do ano anterior, para 208,844 bilhões de reais. O resultado ficou acima do esperado em pesquisa da Reuters, de 204,900 bilhões de reais.
Embora os números de arrecadação tenham sido melhores que o esperado, o mercado continua cauteloso quanto à situação fiscal.
Em entrevista à GloboNews na noite de quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo tem buscado corrigir o problema do “déficit absurdo” do país e citou mais uma vez o impacto negativo dos 17 setores da economia. Sem novidades, a entrevista não teve impacto na curva desta quinta.
O avanço das taxas futuras no Brasil ocorreu apesar de, no exterior, os rendimentos do Tesouro terem caído após a divulgação de novos números sobre a economia norte-americana.
O Departamento de Comércio informou que o produto interno bruto (PIB) dos EUA aumentou a uma taxa anualizada de 2,8% no último trimestre, enquanto economistas consultados pela Reuters previam uma expansão de 2,0%.
Apesar disso, o índice de preços PCE, excluindo componentes voláteis de alimentos e energia, subiu 2,9%, depois de subir a um ritmo de 3,7% no primeiro trimestre, o que é uma boa notícia para a Reserva Federal antes da reunião de política monetária da próxima semana.
Às 16h39, a referência global para decisões de investimento caía 3 pontos base, para 4,256%.
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