A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou nesta terça-feira (23) que os programas sociais não são um problema para o orçamento brasileiro. Por outro lado, o ministro defendeu a necessidade de revisão das despesas tributárias. As declarações acontecem em meio à decisão do governo de congelar R$ 15 bilhões do orçamento de 2024.
“O problema dos gastos no Brasil não é o orçamento pobre. São os privilégios dos ricos que precisam ser verificados ponto por ponto. interesse coletivo. Os gastos tributários no Brasil cresceram infinitamente mais que os gastos com políticas sociais.” Segundo Simone Tebet, a evolução dos gastos tributários acompanhou sucessivos governos.
“Há 10 anos, ou pouco mais que isso, representavam cerca de 2% do PIB [Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país]. São renúncias do orçamento que fazemos para o setor produtivo, necessário para que ele gere emprego. Mas a questão é: quantas destas despesas fiscais, quantos destes incentivos fiscais ainda são eficazes quando se trata de promover a justiça social? Hoje, essas despesas tributárias correspondem a mais de 5% do PIB. Estamos falando de uma renúncia de cerca de R$ 615 bilhões. Lembremos que o Bolsa Família, por exemplo, custa cerca de R$ 160 bilhões”, completou.
Após anunciar o congelamento de R$ 15 bilhões, o governo afirmou que a geração de novas receitas poderia permitir uma reversão parcial dos cortes. O foco principal nesse sentido está justamente relacionado aos gastos tributários. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) publicada em maio determinou a necessidade de fonte de compensação financeira para desoneração tributária até 2027, que foi prorrogada conforme lei aprovada pelo Congresso no ano passado. Sem compensação, o benefício concedido às empresas e aos municípios pode tornar-se inválido. O assunto tem sido objeto de negociações entre o governo e o Congresso.
Embora tenha defendido os programas sociais, a ministra afirmou que é preciso garantir a sua boa implementação. A equipe econômica do governo deixou claro que um dos esforços alinhados ao congelamento orçamentário envolverá uma revisão sistemática da concessão de serviços previdenciários, do Benefício de Prestação Continuada (BPC), do Seguro Defeso, do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e de outras medidas.
“É preciso avaliar se há erros, fraudes ou irregularidades porque tivemos uma pandemia que bagunçou um pouco as políticas públicas. Mas o que está sendo destinado da maneira certa para aquelas famílias que realmente precisam, esses programas têm que ser fortalecidos . Isso não é o problema do déficit fiscal ou do crescimento da dívida brasileira em relação ao PIB. Não vamos descontinuar essas políticas públicas. Vamos atacar a eficiência desses gastos”, reiterou Tebet.
Detalhes cortados
O congelamento foi oficializado pelo governo nesta segunda-feira (22). Dos R$ 15 bilhões a serem suspensos, R$ 11,2 bilhões serão bloqueados; e R$ 3,8 bilhões, contingentes.
Tanto a contingência como o bloqueio representam cortes temporários nas despesas. O novo quadro fiscal, no entanto, estabeleceu motivações diferentes. O bloqueio ocorre quando os gastos do governo ultrapassam o limite de 70% de crescimento das receitas acima da inflação. A contingência ocorre quando há falta de arrecadação que comprometa o alcance da meta de resultado primário (resultado das contas governamentais sem juros da dívida pública).
Segundo o ministro, o governo deverá detalhar as medidas previstas no dia 30 de julho. “Onde será feito o corte e quem receberá o maior corte será definido por decreto presidencial”, informou. Simone Tebet disse ainda que haverá em breve, em data a anunciar, uma apresentação sobre a revisão das despesas tendo em vista a meta de défice zero este ano. Na mesma ocasião, serão divulgados maiores detalhes sobre o corte de R$ 25,9 bilhões no orçamento de 2025, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
G20
As declarações da ministra surgiram no final da sua participação na mesa “Combate às desigualdades e erradicação da pobreza, da fome e da desnutrição”, que faz parte do programa paralelo da Reunião Ministerial de Desenvolvimento do G20. Na sua apresentação, SimoneTebet destacou as contradições globais.
“Enquanto a ciência busca alternativas, vacinas, medicamentos para combater doenças, ainda temos milhões de pessoas no planeta morrendo por não terem acesso à água potável ou mesmo à água para tomar banho. século, enquanto falamos da era digital, da internet, dos celulares, da inteligência artificial, infelizmente temos milhões de pessoas morrendo de fome todos os anos. Não é surpresa que o presidente Lula tenha escolhido a erradicação da pobreza e o combate à pobreza. a pobreza como principais pautas da presidência brasileira no G20, a fome e a desigualdade social”, afirmou.
Tebet sustentou que a redução das desigualdades sociais no Brasil depende do aumento do salário mínimo. “A prioridade da nossa equipa económica, do Ministério das Finanças e do Ministério do Orçamento, é que o salário mínimo cresça sempre acima da inflação”. O ministro afirmou ainda que o Brasil vem tentando fazer o dever de casa.
“Em apenas um ano e meio, este governo retirou 24 milhões de brasileiros e brasileiras de uma situação de grave insegurança alimentar. É verdade que temos algo em torno de 60 milhões com algum tipo de insegurança alimentar no Brasil. lembre-se que a desigualdade é tão perversa que ainda escolhe gênero, idade, cor e raça. O rosto mais pobre do Brasil é sempre o rosto de uma mulher, é sempre o rosto de uma mulher cheia de filhos, é sempre o rosto de uma mulher. uma mulher preta ou parda no Norte ou Nordeste do Brasil”.
Também presente no evento, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, cobrou maior responsabilidade dos estados. “Há dois séculos, o rendimento dos mais ricos era 18 vezes superior ao dos mais pobres. Hoje, o rendimento dos mais ricos é 38 vezes superior ao dos mais pobres. Os 10% mais ricos do mundo detêm 76% da riqueza do planeta. Entretanto , os 50% mais pobres têm apenas 2%. Mais de 700 milhões passam fome num planeta que produz em grande parte os alimentos necessários para sustentar a todos”, disse ele.
Presidência brasileira
A presidência brasileira do G20 realiza intensa programação ao longo desta semana. A Reunião Ministerial de Desenvolvimento do G20, que começou nesta segunda-feira (22), faz parte desta agenda. Na manhã de hoje (23), aconteceu a segunda sessão, cuja pauta envolveu temas relacionados ao combate às desigualdades. O Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, avaliou que os desafios colocados exigem esforços conjuntos no curto prazo.
As 19 maiores economias do mundo, bem como a União Europeia e, mais recentemente, a União Africana, têm assento no G20. O grupo estabeleceu-se como um fórum global de diálogo e coordenação sobre questões económicas, sociais, de desenvolvimento e de cooperação internacional. Em dezembro do ano passado, o Brasil sucedeu à Índia como presidente. É a primeira vez que o país assume essa posição no atual formato do G20, instituído em 2008. No final do ano, o Rio de Janeiro sediará a Cúpula do G20, e a presidência do grupo será transferida para a África do Sul .
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