As empresas afetadas esta sexta-feira por um apagão cibernético global sem precedentes, como as companhias aéreas, não estão necessariamente cobertas pelo seu seguro cibernético e poderão ter de suportar os custos diretamente do seu próprio bolso, alertam alguns especialistas.
Como são cobertas as falhas de computador?
O incidente, causado por uma atualização corrompida de um programa antivírus do grupo americano de segurança cibernética CrowdStrike Falcon em sistemas operacionais Windows, foi acionado por volta das 16h de quinta-feira em Brasília e não parece ser resultado de um ataque cibernético deliberadamente malicioso.
O seguro cibernético, promovido nos últimos anos pelas principais seguradoras globais, “não se destina a ser aplicado” neste caso, segundo François-Pierre Lani, advogado da Derriennic Associés, entrevistado pela AFP.
No entanto, como é comum em matéria de seguros, as coberturas dependem de cada contrato e precisam de ser analisadas caso a caso, apontam vários especialistas. O seguro cibernético, que cobre principalmente os riscos e custos associados a ataques, pode incluir opções em que as falhas informáticas se qualificam como perdas cobertas.
Estas opções “não são obrigatórias e geralmente não são contratadas pelas empresas”, alerta Quentin Charluteau, advogado especializado em direito segurador da Simmons & Simmons.
O que o seguro cobre?
A compensação para as empresas afetadas pode ser de vários tipos: custos operacionais adicionais ou compensação direta por lucros cessantes. Para as companhias aéreas que tiveram de cancelar voos, como a Transavia France e as companhias aéreas americanas Delta, United e American Airlines, o primeiro nível cobre o pagamento de custos operacionais adicionais. O mesmo se aplica à operadora ferroviária britânica Govia Thameslink Railway, que relatou possíveis cancelamentos de última hora.
Nestes casos, o seguro cobre os custos de relocalização e restauração dos clientes afetados pelo atraso ou cancelamento das suas viagens, especialmente no hemisfério norte, onde muitas pessoas estão a iniciar ou a terminar as férias de verão.
Caso o sinistro, que está sendo corrigido, persista, o segurado também poderá solicitar indenização por perdas operacionais. A seguradora terá de compensar a perda de receitas devido à paralisação ou redução da atividade.
Quanto vai custar?
O seguro cibernético “é relativamente caro e as empresas geralmente têm que pagar uma franquia elevada”, explica à AFP uma fonte de uma grande corretora internacional. A título de exemplo, a associação francesa de gestores de risco, Amrae, refere o caso de uma “grande empresa” que, ao abrigo de um contrato de seguro com um prémio anual de 950 mil euros (5,74 milhões), está sujeita a uma franquia de 7,5 milhões de euros. (R$ 45,3 milhões).
Os contratos também estabelecem limites máximos de cobertura: acima do valor fixado no contrato, mais uma vez a empresa deverá pagar do próprio bolso. Alguns grandes grupos contratam coberturas superiores a 100 milhões de euros (R$ 604,5 milhões), segundo Amrae.
No entanto, este valor “é facilmente ultrapassado em caso de incidente grave”, como a falha ocorrida esta sexta-feira, afirma um corretor.
Outras soluções possíveis
Assim que surge a crise informática, as empresas afetadas começam a “considerar as suas opções contratuais” com prestadores de serviços informáticos falidos, observa a advogada Sonia Cissé, sócia do escritório de advocacia internacional Linklaters. Os contratos entre as empresas afetadas e os seus prestadores de serviços de TI falidos podem incluir cláusulas de responsabilidade pela continuidade do serviço que prevêem compensação.
No caso do fracasso global desta semana, parece ser possível “exigir uma compensação através de uma ação de responsabilidade” contra a CrowdStrike, explica Philippe Cotelle, administrador da Amrae e presidente da sua comissão cibernética, à AFP.
Todos os especialistas ouvidos pela AFP esta sexta-feira concordam num ponto: dada a magnitude do apagão e as suas possíveis consequências financeiras, espera-se uma enxurrada de reclamações.
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