O Ministério das Finanças reviu em alta a projeção de inflação para este ano e para o próximo. O relatório anterior estimava IPCA de 3,7% em 2024 e 3,2% em 2025. Agora, a estimativa é de 3,9% neste ano e 3,3% no próximo.
Apesar do aumento, a projeção ainda está dentro da meta do governo federal, que é de 3% com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
“A projeção para o IPCA em 2024 subiu como reflexo da calamidade em Rio Grande no Sul (RS), que vem impactando de forma mais intensa os preços dos alimentos”, explica o documento.
“O aumento das expectativas para a inflação em 2024 e 2025 também é explicado pela perspectiva de um real mais depreciado nesses anos”, continuou.
“Desde meados de abril, após mudanças nas perspectivas quanto ao início do ciclo de redução das taxas de juros nos Estados Unidos, a cotação do dólar subiu significativamente nas principais economias da América Latina, como se viu no Brasil”, afirmou.
“A forte depreciação da taxa de câmbio pressionou a inflação corrente e comprometeu as expectativas quanto à continuação da desinflação nestas economias”, acrescenta.
Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, a desvalorização do real frente ao dólar divergiu em maio daquela observada em outros países emergentes.
“Houve um aumento da incerteza em torno da política monetária com uma mudança na orientação [sinalização] que o Banco Central adotou. Também há discussões sobre sucessão no BC, os significados disso, e isso abre espaço para todo tipo de interpretação criativa que os analistas possam ter”, disse.
Além disso, continuou, “do ponto de vista fiscal houve um aumento da incerteza, em particular no que diz respeito à sustentabilidade do quadro fiscal e ao nível do excedente primário”.
Essas incertezas, destacou Mello, foram resolvidas nas últimas semanas. “O governo está a dar todos os sinais do seu compromisso. O Ministério das Finanças fala sistematicamente sobre isso, o presidente já falou sobre isso e as ações falam por si”, disse.
Questionado sobre o motivo da incerteza mesmo diante das sinalizações governamentais, Mello respondeu que “nas economias de mercado trabalhamos com a formação de convenções e elas não precisam estar ancoradas em fatos”. “Eles podem estar ancorados em percepções, crenças, ideologias”, disse ele.
“Ao anunciarmos o projeto orçamentário de 2025 e outros dados, vamos reduzir essa incerteza e esse ruído e levar os preços, sejam eles de juros ou de câmbio, para um patamar mais próximo de algo estrutural na economia brasileira”, analisou.
Outro ponto destacado no documento é “o aumento dos custos de frete e a intensificação da polarização política em vários países”.
Esta polarização ocorreu, entre outras, “nas eleições parlamentares da União Europeia e da França e manifesta-se com grande intensidade nas eleições presidenciais dos EUA”, enumera o boletim.
“Nos EUA, em particular, a perspectiva de um novo governo republicano tende a pressionar as taxas de juro longas e poderá eventualmente impactar o ciclo de flexibilização monetária”, acrescentou.
“Esta situação de polarização aumenta a incerteza e a aversão ao risco entre os investidores, contribuindo para o aumento da volatilidade cambial, especialmente nos países emergentes, com impacto na inflação”, explicou.
O boletim manteve a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2024 em 2,5%.
Para 2025, o departamento estima agora um aumento de 2,6%, ante 2,8% no boletim divulgado em março deste ano. Eles estão no Boletim Macrofiscal divulgado nesta quinta-feira (18) pela secretaria.
“O resultado observado para o PIB no primeiro trimestre de 2024 foi uma surpresa positiva, mas esse efeito foi parcialmente compensado pelos impactos negativos estimados para a calamidade no RS sobre a atividade”, explicou o boletim.
“Os impactos negativos das enchentes no estado devem ser compensados por medidas de apoio às famílias, às empresas e aos governos estaduais e municipais”, destacou.
As projeções são importantes porque são utilizadas no processo orçamentário do governo federal. Os números estimados pelo Ministério das Finanças têm impacto direto nas estimativas de receitas, por exemplo.
Nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que pediu “parcimônia” à área do ministério responsável pelo boletim, a SPE (Secretaria de Política Econômica).
“Peço parcimônia da SPE [Secretaria de Política Econômica] na revisão do PIB. Estamos recebendo informações e dados que sustentam a reprojeção, mas pedi cautela”, disse o ministro. “Os dados econômicos estão chegando bem, consistentes e reduzindo a pressão sobre os preços”, acrescentou.
*Informações da Folhapress
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