O avanço na colheita do milho tem revelado perdas que já chegam a 50% em algumas cidades de Mato Grosso do Sul, tendo como principal agravante os desequilíbrios climáticos vividos nos últimos meses.
Segundo dados do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga MS), dos 2,218 milhões de hectares estimados de área plantada no Estado, 40,4% já foram colhidos. E destes, 762,4 mil hectares identificaram danos às culturas.
De acordo com o Boletim da Casa Rural, elaborado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul) e pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), 23 municípios produtores de milho do Estado possuem áreas que chegam a 50% em condições consideradas ruins. A região mais atingida é o sudoeste, com 146.482 hectares gravemente danificados.
O relatório aponta que a área destinada ao milho na segunda safra 2023/2024 deverá ser 5,8% menor em relação ao ciclo anterior, quando a área atingiu 2,3 milhões de hectares cultivados. Com base nas médias de produtividade, o cenário confirma uma tendência crescente de queda no Estado, onde a produtividade média é de 86,3 sacas por hectare, resultando em uma produção esperada de 11,4 milhões de toneladas.
Representantes do setor agropecuário e dos produtores rurais do MS relatam que as condições climáticas desfavoráveis foram decisivas para o resultado apresentado.
“Acredito que dos 2,2 milhões de hectares de milho safrinha, cerca de 1,3 milhão no sul do estado, 50% foram perdidos”, analisa o presidente do Sindicato Rural de Dourados e produtor rural, Ângelo Ximenes.
Para Ximenes, a seca puniu as lavouras desde a fase de germinação.
“Depois, durante os períodos de pré-mistura, pós-mistura e enchimento de grãos, também houve seca. Então houve diversas situações de perdas de produtividade, fazendo com que aqui no Sul estimássemos de 40 a 60 sacas de milho por hectare, uma média de 50 sacas”, detalha.
Para a vice-presidente do Sindicato Rural de Maracaju, agrônoma e produtora rural, Isadora Oliveira Rodrigues, as perdas de produtividade devem ficar acima de 30% quando comparadas à média do ano passado.
“A seca castigou severamente o município [Maracaju] que é reconhecida pela sua alta produtividade”, lamenta.
Com áreas em fase de colheita, segundo Isadora, Maracaju responde por cerca de 20% a 30% da área colhida.
“Os rendimentos iniciais ficam entre 60 e 80 sacas por hectare. O que precisamos entender é que isso é uma produtividade muito ruim. A média do município, no ano passado, foi de 105 sacas por hectare”, revela o vice-presidente do Sindicato Rural de Maracaju.
O engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e pesquisador do Centro de Pesquisa e Consultoria Agropecuária Desafio Agro, Danilo Guimarães, corrobora apontando as altas temperaturas, as chuvas dispersas ou a falta delas.
“Alguns produtores ultrapassam 50% de perdas no Mato Grosso do Sul, outros menos, varia muito dependendo da região e localização.”
COLHEITA
Segundo levantamento do Siga MS, até o dia 12 de julho o processo de colheita atingiu 40,4% da área plantada no MS.
“A colheita está mais avançada na região Norte do estado, atingindo média de 44,3%. No Sul, a média é de 41,16%, enquanto na região Centro é de 35,7%. A área colhida até o momento é de aproximadamente 896 mil hectares”, informou o coordenador técnico da Aprosoja de MS, Gabriel Balta.
O percentual da área já colhida na segunda safra do ciclo atual é 36 pontos percentuais maior em relação ao mesmo período da safra anterior (2022/2023), até 12 de julho.
“No ano anterior, pouco mais de 4% da área total havia sido colhida. Esse aumento se deve à estiagem prolongada enfrentada pelo Estado, que acelerou o ciclo da planta, levando à maturação fisiológica precoce”, explicou Balta.
A oscilação climática tem sido apontada como uma das principais causas da queda na safra 2023/2024. Os especialistas observam que períodos de seca significativa afectaram as colheitas, especialmente entre Março e Abril, com stress hídrico variando de 10 a 30 dias, e mais recentemente entre Abril e Maio, com períodos de 10 a 20 dias sem chuva.
Danilton Flumignan, agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste, detalha que o último mês registrou temperaturas bem acima do normal para o período.
“Tivemos cerca de 30 a 40 dias com condições extremamente secas, o que é fundamental para o milho safrinha em fase crítica de necessidade hídrica. Infelizmente esta colheita não começou bem devido ao calor intenso e à falta de chuva.”
Flumignan explica que, embora algumas áreas estejam relativamente bem, uma parte significativa já foi gravemente afetada.
“Isso é resultado do calor excessivo que temos experimentado há muito tempo.”
O El Niño, responsável pelo ciclo climático adverso, deve começar a perder intensidade no segundo semestre deste ano, segundo especialistas, abrindo caminho para o La Niña.
Durante a transição, ocorre uma fase neutra, com 83% de probabilidade, caracterizada por temperaturas normais do oceano.
Para os meses de julho, agosto e setembro a probabilidade de ocorrência de La Niña é superior a 49%. Esse fenômeno pode impactar a produção de milho devido a condições climáticas desfavoráveis, como chuvas abaixo da média histórica, granizo, geadas e baixas temperaturas.
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