SÃO PAULO (Reuters) – Após duas sessões de alta, as taxas do DI fecharam nesta terça-feira caindo sob influência da queda dos rendimentos do Tesouro no exterior, apesar do ruído causado por entrevista em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre ajuste fiscal, em declarações que inicialmente foram mal recebidas pelo mercado.
No final da tarde, a taxa DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,575%, ante 10,587% do reajuste anterior. A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 11,09%, ante 11,176% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,355%, ante 11,432%. ]
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 11,84%, ante 11,872%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 11,86%, ante 11,877%.
As taxas futuras apresentaram perdas firmes durante a manhã, em linha com a queda dos rendimentos no exterior, onde os investidores continuaram a aumentar as apostas de que a Reserva Federal iniciará o processo de cortes de juros em setembro.
Às 11h44, a taxa DI de janeiro de 2026 – um dos contratos de maior liquidez – atingia a mínima de 11,05%, queda de 13 pontos-base em relação ao reajuste do dia anterior.
Por volta das 12h20, porém, começou a circular pelas mesas de negociação no Brasil a informação de que Lula, em entrevista à TV Record gravada pela manhã, havia dito que será preciso convencê-lo de que será mesmo necessário contingenciar entre 15 bilhões e 20 bilhões de reais do Orçamento deste ano. A entrevista completa está marcada para ir ao ar às 19h55.
Os comentários de Lula – que circularam sem o contexto da pergunta e sem os detalhes da resposta completa – estressaram os mercados e fizeram com que o mercado passasse de negativo para positivo em relação ao real. Na renda fixa, as taxas DI zeraram as perdas. Às 12h58, a taxa contratual para janeiro de 2026 era de 11,18%, praticamente estável em relação ao reajuste anterior.
Depois das 14h, a Record publicou trecho de vídeo da entrevista de Lula, em que o presidente é questionado se está disposto a contingenciar o valor de 15 bilhões a 20 bilhões de reais para equilibrar as contas públicas.
“Primeiro tenho que estar convencido se há ou não necessidade de corte”, disse o presidente na prévia da entrevista. “Tenho uma diferença histórica e uma diferença de conceito com as pessoas do mercado. Só que nem tudo que tratam como despesa eu trato como despesa”, acrescentou.
O trecho do vídeo, apesar de confirmar a ideia de que Lula precisaria ser “convencido” da contingência, esclareceu o contexto do comentário, diminuindo o ruído de antes.
“Houve volatilidade (na curva de juros)”, confirmou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, ao avaliar os impactos do ruído do início da tarde nos ativos.
“Mas o mercado chegou a um ponto em que compreende o que é o discurso político e o que é a política económica. Todos aguardam propostas de corte de gastos”, acrescentou.
Segundo ele, após o período de maior estresse desta terça-feira, as taxas voltaram a cair na esteira da queda dos rendimentos no exterior e da expectativa de que o governo anuncie medidas para equilibrar as contas públicas até 22 de julho.
No meio da tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse aos jornalistas que a declaração do presidente Lula à TV Record sobre a não obrigação do governo de cumprir a meta fiscal está fora de contexto.
“O problema é que, quando você fala algo fora de contexto, você gera especulações desnecessárias em torno do assunto”, disse Haddad ao deixar o ministério, acrescentando que outros trechos da entrevista de Lula mostram o compromisso do governo com o quadro fiscal e destacam a confiança do presidente em sua experiência na gestão de contas públicas.
No final da tarde, as taxas futuras voltaram a cair de forma constante, embora em níveis não tão baixos como os observados pela manhã.
Perto do fechamento, a curva a termo precificou 85% de chance de manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano ao final deste mês e 15% de chance de alta de 25 pontos-base. Na segunda-feira os percentuais eram os mesmos.
Às 16h36, o – referência global para decisões de investimentos – caía 6 pontos-base, para 4,167%.
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