Representando mais um grande passo no avanço da transição energética, Mato Grosso do Sul assume a liderança como precursor de uma tecnologia capaz de revolucionar o setor de bioenergia no mundo. Responsável pelo método que reaproveita vinhaça, subproduto extraído da cana-de-açúcar, e resulta em biometano, a usina Adecoagro, localizada no município de Ivinhema, anunciou a ampliação de sua fábrica com investimentos de R$ 225,7 milhões. Com um modelo de economia circular sustentável, a empresa que desenvolveu e aprimorou grande parte de sua tecnologia no Estado pretende contribuir para que o Brasil se torne em breve o maior produtor de energia limpa do planeta. Somente com a ampliação da planta de Ivinhema a capacidade de produção de biometano a partir de vinhaça aumentará cinco vezes. A previsão é que até 2027 sejam construídos dois novos biodigestores com autonomia para produzir até 30 mil metros cúbicos normais (Nm³) de biogás por dia. Diretor da divisão de biogás da Adecoagro Brasil, Luiz Felipe Couturato destaca que a tecnologia genuinamente sul-mato-grossense tem ganhado força no Estado. “Até então era um projeto de pesquisa e aqui essa tecnologia se tornou realidade. Com todos os aspectos de desempenho, testes, conseguimos aqui dentro do MS, desenvolver a metanização da vinhaça, que é suficiente e funciona durante 12 meses.” O executivo também comenta a contribuição de Mato Grosso do Sul para a promoção da produção de energia por meio de fontes renováveis. “Esta planta foi uma das primeiras do Brasil e temos certeza que este é apenas um investimento entre vários. Hoje trabalhamos com menos de 5% de vinhaça. Trabalharemos agora com 25% da vinhaça, ou seja, ainda temos 75% para expandir”, detalha. Couturato explica que com 20% de vinhaça são substituídos cerca de 10 milhões de litros de diesel por ano. Nesse sentido, o diretor nacional de biogás afirma que hoje realmente existe tecnologia de ponta para produzir biogás e biometano a partir da vinhaça. APLICAÇÃO Em Ivinhema, cerca de 130 equipamentos, entre veículos leves, caminhões, tratores e motobombas, são abastecidos com biometano. Segundo o vice-presidente de Açúcar, Etanol e Energia da Adecoagro no Brasil, Renato Junqueira Santos Pereira, a nova fase do projeto e o investimento anunciado reforçam o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a inovação em linha com a agenda de transição energética que o país está experimentando. . “A ampliação da nossa planta de biometano traz inúmeros benefícios e comprova a capacidade da Adecoagro de criar, desenvolver e inovar. Este projeto, com tecnologia própria, resultado de extensa pesquisa e aprendizado para dominar o processo e garantir a estabilidade da produção, é modular, tecnologicamente avançado e economicamente viável. O biogás extraído da vinhaça é integrado à nossa produção de etanol, açúcar e energia, permitindo diversas aplicações. A prioridade será abastecer cada vez mais a nossa frota”, destacou. O presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), Amaury Pekelman destaca o Estado como o quarto maior produtor de etanol e cana-de-açúcar do Brasil. “Temos hoje uma safra recorde de 52 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e a isso agora veio o etanol de milho, através da Inpasa e da Neomille, que são duas empresas que agora estão produzindo etanol de outra fonte e estão contribuindo para o cenário de expansão que está sendo visto”. Considerando os avanços, Pekelman projeta que em três ou quatro safras o MS poderá se tornar o segundo maior produtor de etanol do Brasil. O governador Eduardo Riedel acrescenta que o momento é de uma revolução que dimensiona o que pode acontecer com o setor de bioenergia, não só no Mato Grosso do Sul, mas em todo o Brasil. “Já temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, e o MS lidera com esse investimento e com outros que já foram anunciados por outras empresas”, relata. Riedel explica que o que se observa atualmente é como a bioenergia será inserida na rede energética do Estado. “Temos gasoduto, temos rede nas grandes cidades e pensamos agora em um desafio logístico operacional para fazer isso em uma escala muito maior e conseguir inserir e exportar biogás para outros estados”. EXPECTATIVAS A expectativa é que a partir de 2028 a frota da empresa, já adaptada para funcionar com biometano, deixe de emitir cerca de 38 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. Em receita, isso significará uma economia de R$ 50 milhões por ano na compra de combustível fóssil, considerando o preço atual do diesel. Além dos impactos ambientais positivos, a nova linha será responsável por 120 novos empregos entre o período de expansão e operação. Segundo a Adecoagro, o projeto de pesquisa para produção de biogás e biometano começou em 2010 e, em 2018, entrou em operação o primeiro biodigestor. Em parceria com a empresa Methanum e com apoio da Finep, em 2021, a empresa se tornou a primeira usina do Brasil a emitir Certificados de Gás Natural Renovável, conhecido como GAS-REC. O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, lembrou que o governo do Estado acreditou e apoiou o projeto inovador há 10 anos. “Tudo começou com uma autorização de pesquisa, calibraram o sistema para chegar ao processo de produção de biometano a partir da vinhaça”, destaca. Atualmente, existem 40 usinas de biometano espalhadas pelo Brasil, número que deve ultrapassar 90 até 2029, tendo como sede os segmentos sucroenergético, proteína animal, produção agrícola e saneamento. O secretário aproveitou a oportunidade e entregou a Licença Ambiental para Instalação dos novos biodigestores da Adecoagro. “Esse projeto está intimamente ligado ao projeto do governo de transformar Mato Grosso do Sul em um Estado Carbono Neutro, na lógica da transição energética e da inovação. A Adecoagro começou, a próxima a implementar o projeto é a Atvos e as demais usinas também estão começando a olhar para esse importante mecanismo”, disse na época. O potencial de produção de biogás e biometano a partir de resíduos de cana também atraiu a Atvos. Há três meses , o grupo, que possui três unidades em operação no Estado, anunciou o investimento de R$ 350 milhões para construir sua primeira unidade de biometano. Será construída no parque industrial Santa Luzia, localizado em Nova Alvorada do Sul *Contribuiu Súzan. Benites Assine o Correio do Estado
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