A cruzada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o Banco Central (BC), que vem causando tensão no mercado financeiro e ajudando o dólar a disparar, tem como pano de fundo a impaciência de Lula com a política de juros e o diagnóstico interno de que, eleitoralmente, ele beneficia junto com parcelas da população quando decide duelar com o mercado.
O presidente não está calculando o impacto do seu discurso na cotação do dólar, mas buscando expressar o que realmente acredita, afirma um aliado. O petista vê um movimento de mercado para forçá-lo a adotar uma ambiciosa agenda de cortes com a qual não concorda e, por isso, tem insistido em seus comentários contra a autoridade monetária e o “jogo especulativo” a que o real tem sido submetido.
Quem convive com Lula no Planalto diz que, internamente, o petista critica o BC e a taxa de juros com muito mais força do que em público. Um dos assessores afirma que esse é um dos poucos temas que muitas vezes “tira o humor” do presidente.
A avaliação dos auxiliares é que, apesar da irritação dos investidores, a maioria da população entende quando o petista associa o interesse aos problemas do cotidiano. Uma série de pesquisas internas e encomendadas pelo governo também indicaram que Lula ganha o debate da opinião pública quando acerta os juros. O fato de Lula repetir as mesmas críticas se deve a uma intenção de “cristalizar” a narrativa.
O recuo desta quarta-feira, quando Lula citou que “a responsabilidade fiscal é um compromisso” do governo e autorizou Haddad a anunciar o cumprimento do marco fiscal, foi visto como uma demonstração de que o presidente demarca sua posição, insiste no assunto, mas não o fará. esticar a corda, segundo um interlocutor que conversou com o presidente durante o dia. A equipe econômica recebeu os gestos do presidente com “alívio”, disse um interlocutor de Haddad.
Mesmo que baixe o tom em relação a Campos Neto, o presidente não deixará de criticar a taxa de juros ao longo do segundo semestre. Há intenção do Planalto de manter um ambiente de desgaste do presidente do BC e evitar que o mercado se organize para impor um nome para sucedê-lo.
Não há consenso entre as pessoas próximas do presidente sobre como ele deve lidar com esta questão. Na avaliação de um aliado, Lula acertou no conteúdo até agora, mas não na forma. O diagnóstico da equipe econômica é que os ataques já “passaram do ponto”. O efeito dos discursos sobre a taxa de câmbio ficou evidente.
A resiliência da alta do dólar também começou a preocupar o presidente a tal ponto que ele pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que organizasse uma reunião com um grupo de economistas.
Segundo um aliado, embora Lula tenha suas convicções sobre o que motiva a desvalorização do real neste momento, ele sentiu necessidade de ouvir vozes de fora do governo. Uma forma de o presidente ter certeza de que não estava deixando nada fora do seu radar.
Lula fazia essas reuniões com ainda mais frequência nos demais mandatos, lembra um economista. Na época, o grupo incluía Delfim Netto, Bresser Pereira e Luiz Gonzaga Belluzzo. A interlocutores, Lula disse recentemente que sente falta de ter um grupo de economistas de fora do governo para consultar.
No encontro, que aconteceu na casa de Haddad, em São Paulo, na última sexta-feira, Lula reuniu assessores econômicos de longa data, como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho e o próprio Belluzzo. Também estiveram presentes no encontro nomes com quem o petista começou a interagir mais recentemente: o investidor Eduardo Moreira, dono do canal de notícias ICL, e Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central e cotado para comandar a instituição a partir do próximo ano.
A conversa não foi sobre aconselhamento, mas sobre “troca de ideias”, segundo um convidado. E esticou. Marcado para as 19h, o encontro durou até meia-noite. Segundo um dos presentes, a reunião durou muito porque “todo mundo fala demais” e Lula estava disposto a ouvir.
Houve debate sobre as condições atuais e possíveis formas de resolver a alta do dólar, mas não se falou em medidas de intervenção no câmbio, segundo um dos presentes. Medidas que o próprio BC poderia tomar e suas limitações neste momento foram até debatidas. O uso de operações de “swap” até entrou na conversa. Considerou-se, porém, que o instrumento foi amplamente utilizado no passado e já existe um estoque elevado neste momento.
O presidente ouviu um diagnóstico de que, apesar de haver um movimento global de valorização do dólar, quando se trata de economia, os sinais contam muito e a linguagem usada pelas autoridades importa. Afinal, a economia é uma “dimensão da vida social” e o discurso de um presidente tem impacto na formação de expectativas.
Lula deixou claro que está insatisfeito com o BC, indignado com a postura de Campos Neto e convencido de que, sem poder definir quais devem ser as ações da instituição, precisa registrar publicamente sua discordância com a autoridade monetária. O diagnóstico foi feito por ele na conversa na casa de Haddad e tem sido repetido para outros aliados na política.
Além de Haddad, Lula troca frequentemente opiniões sobre o assunto com os ministros Rui Costa, Alexandre Padilha, Paulo Pimenta e o secretário executivo da Fazenda, Dario Durigan, além da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Trata-se de um grupo que exerce menos influência sobre o petista do que seu entorno nos dois primeiros mandatos, quando o presidente esteve cercado de amigos de décadas de convivência sindical e na militância petista, como José Dirceu, Antônio Palloci, Luiz Gushiken e Luiz Dulci.
Na visão do presidente, a equação política não é simples, diz interlocutor frequente de Lula. Ao mesmo tempo que acredita haver uma acção “orquestrada” para o impedir de abraçar medidas de austeridade, não pode dar um “cavalo de pau” na política sob o risco de deteriorar a sua base popular. Em jogo está o seu posicionamento não só para 2026, mas também a bandeira que os petistas deverão carregar nas eleições municipais deste ano.
Um membro da liderança do PT afirma que a presidente não repetirá o erro de Dilma Rousseff que, ao ser reeleita, cedeu ao “mercado”, colocou um banqueiro para formular sua política econômica e perdeu adesão às ideias do partido e que o eleito. Portanto, Lula sabe que não pode ceder a sugestões como a desvinculação dos pisos da saúde e da educação do salário mínimo. Isso faria o PT perder o discurso.
Uma leitura no Planalto é que toda vez que o presidente se opõe à política do BC, acaba enfraquecendo o discurso das agendas identitárias da extrema direita, já que a economia é o que afeta o dia a dia da população. Há avaliação também de que esse tema ultrapassa a barreira da base lulista e atinge, por exemplo, pequenos e médios comerciantes que são diretamente afetados pela alta taxa de juros de seus negócios.
Lula, de certa forma, está medindo forças com o mercado e calculando até onde terá que resistir. Um interlocutor do presidente lembra que ele concordou com Haddad em manter a meta de déficit zero para 2024 e não alterou a meta de inflação, que permaneceu em 3% para o próximo ano. Houve apelos de aliados para alívio dessas diretrizes.
empréstimo itaú pessoal
divida banco pan
refinanciamento de empréstimo consignado bradesco
taxas de juros inss
empréstimo de valor baixo
simulador de empréstimo consignado banco do brasil
quitar emprestimo fgts banco pan