O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou esta quarta-feira que “a responsabilidade fiscal é um compromisso” do governo e que o Executivo “não deita dinheiro fora”.
O presidente fez as declarações durante evento de lançamento do Plano Safra para a agricultura familiar. Nesta semana, o presidente renovou as críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Netoe criticou o que chamou de “jogo especulativo” em meio à alta do dólar.
— Se vocês (produtores) fizerem acontecer, nós produziremos mais, o povo comerá mais e teremos uma política econômica sem causar nenhum choque a ninguém, que fará o país crescer e continuar transferindo renda e ao mesmo tempo permanecer responsável.
— Investimos o dinheiro que é necessário, gastamos o que é necessário em educação e saúde, mas não deitamos dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso deste governo desde 2003 e vamos segui-lo à risca.
Na terça-feira, Lula afirmou que a alta do dólar o preocupa e que a valorização constante da moeda faz parte de um jogo “especulativo” e de “juros” contra o real. Na segunda-feira, o dólar fechou a R$ 5,64. Nesta quarta, ele opera com preço baixo e está cotado a R$ 5,56.
— Obviamente estou preocupado com essa alta do dólar, é especulação, é um jogo de interesses especulativos contra o real neste país. E tenho conversado com as pessoas sobre o que vamos fazer. Estou voltando (para Brasília) e na quarta terei uma reunião, porque o que está acontecendo não é normal, não é normal — disse o presidente em entrevista à Rádio Sociedade, de Salvador (BA).
Questionado se o governo adotará alguma medida para conter a desvalorização do real, Lula afirmou que é necessário tomar algumas medidas, mas não revelou quais seriam:
— Temos que fazer alguma coisa, mas não posso falar porque estaria alertando meus adversários.
Presidente do BC tem “viés político”
O presidente voltou a criticar, nesta terça-feira, a atual gestão do atual presidente, Roberto Campos Neto, e afirmou que o comandante da autoridade monetária tem “viés político”.
— O que não pode é ter alguém comandando o Banco Central com viés político. Eu definitivamente acho que ele tem um viés político. Mas, veja, não posso fazer nada. Ele é presidente do BC, tem mandato, foi eleito pelo Senado, tenho que esperar o fim do mandato dele e indicar alguém — disse Lula.
Lula, porém, defendeu que a autonomia da autoridade monetária deve ser mantida, mas destacou que o Banco Central não pode servir “ao sistema financeiro”.
— Mas acho que precisamos manter o Banco Central funcionando corretamente, com autonomia, para que o presidente do BC não fique vulnerável aos políticos. Se você é um presidente democrata, permite que isso aconteça sem nenhum problema. Mas o Banco Central não pode estar ao serviço do sistema financeiro, é um banco do Estado.
Lula tem criticado repetidamente Campos Neto e chegou a afirmar que o vê como um adversário político, devido à sua proximidade com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Excesso de gastos
Na mesma entrevista, Lula disse ainda que pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que apresentasse um estudo que indique onde há excesso de gastos governamentais.
— Estou contando para todo mundo, falei com o Haddad outro dia. Eu falei: Haddad, você me mostra o excesso de gastos. Porque se há gasto excessivo, se alguém está gastando algo que não é necessário, aplicando mal o dinheiro, a gente para. Porque também não vou jogar dinheiro fora. Vamos cuidar disso”, disse ela.
Porém, segundo o presidente, esse corte nos gastos excessivos não pode resultar no fim dos benefícios “ruins”.
— O que não posso é aceitar a ideia de que é preciso acabar com os benefícios para os pobres, que o salário mínimo está custando muito, o Bolsa Família está custando muito, a política de ajudar a investir na faculdade — disse Lula.
Como mostrou O GLOBO, o governo espera economizar entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões com a revisão dos registros de benefícios no próximo ano. Os recursos são necessários para atingir a meta fiscal de 2025, que prevê resultado zero, e já devem constar no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), a ser enviado ao Congresso até 31 de agosto.
Este ano, disparou o número de bolsas do Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência.
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