Um “jabuti” inserido na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que dá autonomia financeira ao Banco Central blinda os cartórios de mudanças planejadas pela instituição com a criação de uma moeda digital.
A medida visa limitar, por exemplo, o alcance do Drex, o “verdadeiro digital”, e de outras operações tecnológicas que visam desburocratizar.
Anunciado pelo Banco Central, o Drex é a moeda digital brasileira, uma versão digital do real, que ainda está em fase de testes.
A ferramenta promete simplificar operações como compra e venda de carros e imóveis, que podem ser realizadas sem a necessidade de mediação de cartório. A tartaruga – elemento estranho ao conteúdo original do texto – propõe preservar as atividades desses estabelecimentos.
A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), que representa 13 mil cartórios de todos os Estados, foi procurada pela reportagem, mas não se pronunciou. Procurado, o Banco Central também não respondeu.
A mudança foi incluída na PEC do BC durante sua tramitação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado – a proposta deve ser apresentada oficialmente nesta quarta-feira, 3, seguida de pedido de parecer coletivo dos senadores.
A PEC coloca na Constituição a autonomia técnica, operacional, administrativa, orçamentária e financeira do banco. O órgão deixaria de ser um órgão subordinado ao governo federal e passaria a ser uma instituição de natureza especial, organizada como empresa pública que exerce atividades estaduais. Na prática, o BC cuidaria do seu próprio orçamento.
O texto impõe limite de gastos ao órgão e garante estabilidade aos funcionários. O governo está agindo contra a aprovação do texto.
Depois de ter sido adiada há três semanas, a votação deverá ser realizada mais tarde, ainda sem data definida. Para ser aprovada, a PEC deverá obter votos favoráveis de 14 membros da CCJ e de três quintos dos senadores e deputados, em dois turnos de votação.
A escalada da ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o Banco Central e as reações de Roberto Campos Neto, em meio à alta do dólar, aumentaram ainda mais a pressão sobre a PEC, na opinião do relator, Plínio Valério (PSDB-AM). “Acaba chamando muita atenção (para a proposta)”, afirma.
Há duas semanas, as falas do petista foram utilizadas por apoiadores do governo para levantar críticas à autonomia da instituição durante audiência pública sobre a proposta na comissão do Senado.
Parlamentares, principalmente da oposição, têm defendido o avanço da PEC em meio às crescentes críticas de Lula à taxa de juros e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
O argumento é que a autonomia operacional, já em vigor, deve ser completada com a independência financeira para proteger o BC das pressões do Executivo. A proposta, porém, enfrenta resistência do governo e da base aliada.
O jabuti foi recebido por Plínio Valério na segunda versão de seu relatório com o objetivo de conquistar votos a favor da PEC.
Ela aparece em duas propostas idênticas apresentadas pelos senadores Weverton Rocha (PDT-MA) e Carlos Portinho (PL-RJ). “É um assunto que merece discussão ainda maior”, disse o relator ao Estadão. Weverton e Portinho não comentaram.
A emenda, descrita com as mesmas palavras em ambas as propostas, propõe inserir na Constituição um dispositivo que faça com que a autonomia conferida ao BC não prejudique as competências dos cartórios.
O texto diz que “a autonomia concedida ao Banco Central nos termos desta Emenda Constitucional não abrange, restringe, altera ou acumula os serviços da competência dos notários e conservadores atribuídos por lei”.
Na justificativa, também idêntica nas emendas dos dois senadores, os dois afirmam que “a inclusão dos serviços notariais sob a jurisdição do Banco Central poderia representar risco de concentração excessiva de poder, prejudicando a diversidade e a competitividade do setor” .
Autor da PEC, o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) critica a inserção da seção que beneficia os cartórios. “Esta alteração altera o objectivo do projecto. Não é uma tartaruga, é um elefante”, disse ele.
Relator inclui equiparação salarial entre funcionários ativos e aposentados do BC
Em novo parecer, o relator da PEC incluiu os dispositivos que estabelecem a paridade salarial para aposentados e pensionistas com carreiras equivalentes no serviço público federal.
A mudança garante que esses grupos tenham os mesmos privilégios das carreiras equivalentes, já que a carreira de servidor do BC será eliminada. A proposta neutraliza uma das principais críticas levantadas pelo Sindicato Nacional dos Funcionários dos Bancos Centrais (Sinal), que é contrário à PEC. A entidade ainda se mobiliza contra a autonomia e a transformação da autarquia em empresa pública, mas o relator não negocia esse ponto.
A paridade entre aposentados e servidores ativos foi incluída após audiência pública na comissão do Senado e ações que envolveram até distribuição de panfletos contra a PEC no Amazonas, reduto eleitoral do relator.
“São os servidores que me preocupam agora, embora eles protestem por protestar e o movimento seja político. Se conseguirmos melhorar a questão da paridade, gostaria de começar pelos servidores”, afirmou Plínio Valério no tempo.
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