Para aprimorar seus modelos de inteligência artificial (IA), a Meta passou a utilizar dados públicos compartilhados por brasileiros em suas redes sociais, Instagram e Facebook. Isso significa que vídeos, fotos e até legendas estão se tornando insumos para a empresa alimentar e treinar seus modelos de linguagem generativa.
Nesta terça-feira, o governo, por meio de sua Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), determinou que a empresa suspendesse essa prática no Brasil. Com isso, o Meta deverá interromper a regulamentação da internet brasileira, sob pena de multa diária de R$ 50 mil, informou o colunista Lauro Jardim em seu blog na Globo.
A ANPD está sob a égide do Ministério da Justiça e foi notificada sobre isso desde a semana passada. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) foi uma das entidades que contatou o órgão sobre o assunto.
A mudança na política de privacidade foi anunciada em 16 de junho e ocorre no momento em que a gigante da tecnologia está expandindo seu recurso “Meta AI”, que adiciona um robô generativo de IA ao WhatsApp, Instagram e Facebook.
Na prática, permitirá aos usuários tirar dúvidas e interagir com o sistema diretamente de seus apps. Inicialmente, a ferramenta começa a chegar ao Brasil, de forma gradual, agora em julho.
O que mudou na coleta de informações?
Meta afirmou que os dados públicos compartilhados por seus usuários serão utilizados para treinar suas ferramentas generativas de inteligência artificial.
“Como uma grande quantidade de dados é necessária para treinar modelos eficazes, uma combinação de fontes é usada para o treinamento”, afirma a empresa.
Portanto, a Meta utiliza dados disponíveis online e também “informações compartilhadas em seus produtos e serviços”, como posts, fotos e legendas que aparecem em conteúdos públicos.
Conteúdo privado também será usado?
Segundo a empresa, o conteúdo das mensagens privadas não é utilizado. Quando o “AI da Meta” for lançado no Brasil, as mensagens enviadas ao robô também serão utilizadas para treinar a inteligência artificial, que é alimentada pelo Llama 3, modelo mais recente e poderoso da empresa.
O que diz a lei no Brasil?
No Brasil, por força da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a empresa oferece a possibilidade do “direito de oposição”, ou seja, de o dono do perfil optar por não ter suas informações públicas utilizadas para treinamento de IA. O processo pode ser feito diretamente nas redes sociais.
É possível bloquear o acesso aos dados?
Para se opor a esta recolha de informação deverá preencher um formulário disponível na página de política de privacidade da empresa. O usuário então precisa selecionar o país de residência e incluir o endereço de e-mail. Depois, ainda é preciso explicar o motivo da solicitação. Meta diz que pode fornecer qualquer informação adicional que o usuário considere que o ajudará a analisar a objeção.
O bloqueio é imediato?
O pedido ainda passará por avaliação da empresa. “Analisaremos os pedidos de objeção de acordo com as leis relevantes de proteção de dados. Se sua solicitação for atendida, ela será aplicada a partir do momento em que for aceita”, afirma Meta.
Como bloquear no Instagram?
O processo também pode ser feito diretamente pela conta do Instagram. Veja abaixo o passo a passo para acompanhar na rede social:
Entre no seu perfil e acesse as três linhas no canto superior direito da tela;
Role até o final da página e clique no ícone “Sobre”;
Escolha a opção “Política de Privacidade”;
Acesse o ícone de três traços ao lado da lupa, no canto superior direito;
Selecione a opção “Outras políticas e artigos”;
Role para baixo até o título “Como o Meta usa informações para recursos e modelos generativos de IA”;
No texto do item “Política de Privacidade”, acesse o título “Privacidade e IA generativa” e clique na opção “direito de oposição”;
Preencha o formulário e justifique sua decisão.
Como funciona no exterior?
Na União Europeia, ao contrário do que aconteceu no Brasil, os utilizadores foram notificados da mudança na política de privacidade, o que gerou uma reação das autoridades de dados do bloco económico.
No dia 14 de junho, atendendo a um pedido da Comissão de Proteção de Dados (DPC) da Irlanda, a empresa anunciou que iria adiar o início do treinamento em IA com informações de usuários europeus.
A mudança gerou reações de usuários nos Estados Unidos, como artistas que estão saindo do Instagram, por exemplo, para evitar que a IA seja treinada com base em suas obras autorais. A ausência de legislação rigorosa em matéria de dados no país, contudo, significa que não há opção de se opor à formação. A única saída é transformar a conta do usuário nas redes sociais da empresa em uma conta privada.
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