Na Costa Verde do estado do Rio de Janeiro, um imenso canteiro de obras se destaca entre o azul do mar e o verde da Mata Atlântica. Trata-se da construção da Usina Nuclear Angra 3, praticamente parada desde 2015, que aguarda sinal verde para ser retomada.
No entanto, como o projecto de construção daquela que poderá ser a terceira e mais potente central nuclear do país remonta à década de 1980, cerca de 80% dos equipamentos da central já foram adquiridos e necessitam de ser submetidos a um rigoroso controlo de manutenção, para para que o tempo de “hibernação forçada” não os comprometa.
O relatório de Agência Brasil visitou o canteiro de Angra 3 a convite da Eletronuclear e pôde constatar que, enquanto a construção civil está paralisada, muita atenção é dada aos 35 armazéns que armazenam máquinas. “Tornamo-nos especialistas em conservação de equipamentos”, afirma o engenheiro Bruno Bertini, responsável pelo Departamento de Montagem.
A frase transmite um tom de pesar pelo fato da obra não ter decolado, mas também tem um certo grau de orgulho, por conseguir manter por tanto tempo uma grande quantidade de maquinários, alguns itens desde 1984.
Nos armazéns, 12 mil volumes de equipamentos – a maioria importados – são cuidadosamente alocados, catalogados e inspecionados regularmente. Alguns são envoltos em uma espécie de camada térmica e expostos à sílica – substância que evita a oxidação.
Como Angra 3 é um projeto “gêmeo” de Angra 2, já ocorreu que peças armazenadas foram utilizadas para substituir aquelas que precisavam ser substituídas na planta vizinha.
Bertini explica como será o procedimento a partir do reinício da construção: “os equipamentos passarão por uma inspeção geral e os itens suscetíveis de envelhecimento serão substituídos”.
Interrupção em 2015
A interrupção das obras em 2015 foi motivada por questões orçamentárias, ou seja, falta de dinheiro. Um freio que ficou ainda mais pesado devido às consequências da Operação Lava Jato nos anos seguintes, que teve como um dos alvos o então presidente da estatal, Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Apesar do período de obras inativas, o superintendente de obras de Angra 3, Antonio Zaroni, explica que a parte mecânica da usina nuclear é igual à de Angra 2, o que significa que os equipamentos, como bombas, compressores e geradores, não são obsoleto. “Você [itens] os obsoletos foram substituídos, novos e mais atuais foram adquiridos. Angra 3 tem uma vantagem enorme porque a parte mecânica, por exemplo, tanques, trocadores de calor, tubulações, não sofre obsolescência.”
Zaroni detalha que alguns equipamentos mecânicos mais modernos podem ter pequenas melhorias, mas isso não significa que os equipamentos adquiridos estejam obsoletos. Ele acrescenta que os equipamentos elétricos foram adquiridos há menos tempo e alguns ainda nem foram entregues. “As peças elétricas, de instrumentação e controle, a sala de controle, os retificadores e os painéis são todos novos, completamente novos. A parte elétrica é o que há de mais moderno hoje”, afirma.
Essa atualização da parte “inteligente” da usina é a justificativa para o fato de que Angra 3, quando pronta, terá capacidade de geração um pouco maior que sua irmã gêmea, Angra 2.
Retomada
A retomada das obras depende de decisão governamental. A Eletronuclear contratou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para realizar estudo de viabilidade técnica, financeira e jurídica da usina. O documento é fiscalizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e o estudo será avaliado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), pelo Ministério de Minas e Energia e pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que será responsável por definir concessão (autorização de funcionamento) e aprovação da tarifa de comercialização da energia a ser gerada.
Segundo a Eletronuclear, o estudo do BNDES deverá ser divulgado em julho. Procurado por Agência Brasil, o banco público não comentou. O ministério informou que “aguarda o relatório do projeto Angra 3 a tempo da próxima reunião do CNPE, prevista para este segundo semestre”.
Antonio Zaroni diz esperar que a conclusão do governo seja conhecida até setembro deste ano, o que permitiria ao concurso escolher a empresa que concluirá a obra a ser realizada no primeiro semestre de 2025. Assim, as obras teriam início em Setembro do mesmo ano. O cronograma estimado é de cerca de 60 meses de construção, o que significa que Angra 3 começará a operar em 2030.
Orçamento
Com o estudo do BNDES em andamento, a Eletronuclear não informa, em valores atuais, quanto já foi investido em Angra 3. O valor informado pela antiga administração da empresa foi de aproximadamente R$ 7,8 bilhões.
Para a conclusão da usina são estimados cerca de R$ 20 bilhões, que seriam aportados por meio de financiamento. Esse valor seria para engenharia, materiais, manutenção e pagamento de empréstimos previamente contratados. Custos, na verdade, que não são zero. Mesmo com as obras paralisadas, cerca de 250 pessoas trabalham nas obras, a maioria terceirizadas, em atividades de manutenção e obras acessórias.
A ideia é que a usina “se pague”, ou seja, quando a instalação estiver produzindo e vendendo energia, parte da receita quitaria o financiamento.
O superintendente Zaroni detalha que 67% da obra está pronta, parcela que representa principalmente a construção civil, ou seja, a parte de concreto. Ao caminhar pelo canteiro cinza é possível avistar vergalhões expostos, que precisam ser cobertos para evitar que se deteriorem.
Dos equipamentos, cerca de 10% são montados, como alguns transformadores, trocadores de calor e tanques.
Acreditando que o edital de licitação será divulgado em fevereiro de 2025, Antonio Zaroni destaca que a concorrência será internacional e rigorosa. É uma forma de evitar problemas como o do consórcio Ferreira Guedes-Matricial-Adtranz, que ganhou um concurso em fevereiro de 2022 para concluir pelo menos a construção civil da central, mas não tinha qualificação técnica suficiente para realizar a intervenção. O contrato foi rescindido em junho de 2024.
“O edital terá exigências maiores. Tem que ser empresas que já estavam construindo projetos semelhantes. Estamos mais tranquilos”, disse Zaroni.
Quando concluída, Angra 3 será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, terá capacidade de 1.405 megawatts (MW) e poderá gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora por ano, o suficiente para atender 4,5 milhões de pessoas . Com a terceira usina em operação, a energia nuclear representará o equivalente a 60% do consumo no estado do Rio de Janeiro e 3% no Brasil.
Apesar da pequena participação na matriz elétrica brasileira, Zaroni destaca que, além de ser considerada limpa e cercada de procedimentos que garantem a segurança operacional, a energia nuclear tem a vantagem de a geração ser praticamente integral e ininterrupta.
“A geração tem um fator de disponibilidade muito alto, a usina passa o ano inteiro gerando 100% de sua capacidade, diferentemente de outras fontes, como hidrelétrica e solar, que oscilam”, compara Zaroni.
*O relatório de Agência Brasil viajou ao Complexo Nuclear de Angra dos Reis a convite da Eletronuclear
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