Em dia de novas declarações de Lula, dólar vai a R$ 5,58

No último pregão do mês e primeiro semestre, o dólar disparou nesta sexta-feira, 28, uma alta de 1,47%, e fechou o dia a R$ 5,58. É o preço mais alto desde o início de janeiro de 2022. No acumulado do ano, a valorização chegou a 15,14%, a maior alta em relação ao real desde o primeiro semestre de 2020 (35,51%).

A valorização do dólar neste primeiro semestre se destaca quando comparada ao desempenho da moeda americana frente a outras moedas de países emergentes. O dólar subiu bem menos em relação à lira turca (11,01%); ao peso mexicano (7,97%); ao peso colombiano (7,15%); ao peso chileno (7,06%); e a rupia indiana (0,23%), entre outros.

O mau humor também apareceu na Bolsa. Principal referência do mercado, o Ibovespa fechou o semestre com perda nominal de 7,66% – ante ganho de 7,61% no mesmo período de 2023. O resultado só perde para a queda de 17,8% no primeiro semestre de 2020, o auge da crise sanitária causada pela pandemia. No dia, o resultado foi queda de 0,32%, para 123,9 mil pontos.

Já pressionados por fatores externos, como a incerteza quanto ao corte da taxa de juros nos EUA (que tem influência no valor do dólar e no fluxo de recursos no mundo), e dúvidas sobre o quadro fiscal do país, o O mercado começou o dia sob o peso de novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a política monetária vigente e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Desta vez, em entrevista à Rádio O Tempo FM, de Belo Horizonte, Lula disse que o patamar de 10,5% para a Selic “não é realista para uma inflação de 4%” e que Campos Neto “não está fazendo o que deveria fazer corretamente”. Em reunião na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu por unanimidade interromper uma sequência de sete cortes na taxa básica de juros, que era mantida em 10,5% ao ano.

“Isso vai melhorar quando eu puder nomear o presidente do Banco Central, e construiremos uma nova filosofia”, acrescentou Lula, o que foi lido no mercado como mais um indício de que o governo pode aumentar a interferência no BC após a saída de o atual presidente – em dezembro deste ano.

‘Confiar’

“O presidente da República não pode brigar com o presidente do Banco Central”, disse Lula. “O presidente da República não vai dar conselhos para baixar ou aumentar os juros. O chefe do Executivo tem que confiar no presidente do BC.” No caso do dólar, Lula também sugeriu que o preço tem sido impulsionado pela “especulação com derivativos” para enfraquecer o real

“Foi ele (Lula) quem começou a falar que o dólar começou a subir”, disse o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da AC Pastore & Associados, acrescentando que não houve fator externo forte o suficiente para justificar o movimento da moeda no dia.

O economista avalia que reações do mercado como as vistas ontem tendem a continuar enquanto o presidente continuar a fazer declarações semelhantes. “Enquanto o presidente continuar falando bobagens, o mercado reagirá negativamente.”

Visto hoje no mercado como o principal candidato ao cargo de Campos Neto, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, afirmou ontem que o nível do câmbio chama a atenção da instituição. “Neste momento, o tema que tem chamado a atenção do BC é o câmbio. O câmbio tem estado bastante descolado dos seus pares, desvalorizando rapidamente. Temos debatido e observado o câmbio e seus impactos na economia”, disse. “Uma economia aquecida e um fosso apertado sugerem uma desinflação mais lenta ou mais dispendiosa. E uma taxa de câmbio elevada também sugere uma desinflação mais lenta ou mais dispendiosa”

Afirmou ainda que a autonomia da instituição não significa “virar as costas à sociedade ou ao governo”. Para ele, o debate está contaminado por interpretações conjunturais de termos e propostas, que não abrem espaço para a mediação de ideias. Galípolo participou, no Rio, de evento organizado pela Fundação Getulio Vargas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.