“Passarei por este mundo apenas uma vez e não quero me desviar da minha tarefa que é unir a nação.” Foi assim que Nelson Mandela definiu a sua grande missão de vida e foi assim que recebeu reconhecimento em todo o mundo: como defensor da paz e da liberdade e como lutador incansável contra o Apartheid, regime opressivo e segregacionista que foi adoptado pela África do Sul. Sul.
É por isso que, desde 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra o dia 18 de julho, o seu aniversário, como o Dia Internacional de Nelson Mandela, reconhecendo o seu contributo para a cultura da paz e a promoção dos direitos humanos. e democracia em todo o mundo.
“O legado de Nelson Mandela serve a cada nação, a cada país, a cada pessoa porque a paz é necessária globalmente”, disse nesta quinta-feira (18) Matilde Ribeiro, professora da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e ex-ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Esta tarde, o ex-ministro participou de um painel de debate no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na capital paulista, para celebrar a vida e o legado de Nelson Mandela. “Costumo dizer que ele era um homem lutador, porque quando designamos as pessoas como heróis parece que elas deixam de ser pessoas. Ele era um homem visionário que defendeu a liberdade, lutou contra o apartheid, foi preso e julgado como terrorista, e seu terrorismo era lutar pela paz no mundo”, disse ela em entrevista ao Agência Brasil.
Morreu em dezembro de 2013aos 95 anos, Mandela lutou incansavelmente pelo fim do regime de segregação racial (apartheid) na África do Sul. Foi também o primeiro presidente negro da África do Sul, de 1994 a 1999, e recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1993.
“Mandela nos deixou um legado imenso e multifacetado. Talvez o principal elemento que se destaca disso seja a possibilidade de reconciliação, a capacidade de unir em torno de si um país muito diverso, muito complexo e muito prejudicado pelos acontecimentos da história”, afirmou o Embaixador Antonio Augusto Martins Cesar, diretor do Departamento de África do Itamaraty, que conversou com a Agência Brasil antes de participar do debate com o ex-ministro.
“Comunidades que sofreram muito foram unidas por ele em torno de um projeto de reconciliação que apresentava sérios riscos ao longo de seus estágios iniciais de execução e é um trabalho em andamento até hoje. E a figura de Mandela e a inspiração que ele trouxe ao longo da sua vida, da sua luta e dos anos em que esteve à frente do país, permanecem como um farol, como um modelo, um ideal, um exemplo de virtude, de equilíbrio, de resiliência e esperança para o futuro”, acrescentou o embaixador.
Legado
Para o ex-ministro brasileiro, o legado de Mandela continua a ser importante em todo o mundo, principalmente porque as marcas da exploração e da segregação racial continuam presentes não apenas na África do Sul.
“O apartheid acabou oficialmente, mas as marcas permanecem. O apartheid é um regime nefasto, que impõe o separatismo por lei. E Mandela sempre disse que a humanidade é única e defendeu imensamente que a educação é uma forma de construir justiça e democracia. Tem uma fala dele que é muito importante, que é refletir sobre o ódio racial. Ele disse que se as pessoas são educadas para odiar, também podem ser educadas para amar. Isso é muito forte, é muito potente. No Brasil temos um racismo que, às vezes, as pessoas querem adoçar a pílula, dizendo que é leve ou cordial, mas não tem nada de cordial nisso. Racismo é racismo. Não se pode investir na superioridade de um povo em detrimento de outros”, afirmou.
Embora a Constituição brasileira seja uma das mais democráticas do mundo, destacou o ex-ministro, o combate ao racismo no país ainda é necessário. E esse problema só será superado, segundo ela, por meio de políticas públicas inclusivas que envolvam a inclusão de pessoas negras nas universidades, a perspectiva de salário igual para trabalho igual, a necessidade de qualificação profissional para a população pobre e a construção de caminhos para políticas de segurança pública e de igualdade racial e de gênero.
Para Matilde Ribeiro também é necessária uma política de reparação. “O Brasil tem 524 anos de vida oficial e 400 anos de escravidão. Então, nesses quase 130 anos, não houve nenhuma ação efetiva do Estado para incluir esse contingente de ex-escravos”, afirmou.
Mandela e a polarização
“Mandela é atemporal”, destacou Duncan Chaloba, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em Campinas (PUC-Campinas), e que mediou a mesa de debate. Para ele, a luta de Mandela continua a ser importante hoje, especialmente quando a democracia está em risco em diversas partes do mundo.
“Tudo o que Mandela disse – ou viveu dizendo – está acontecendo hoje. A polarização em todo o mundo exigirá novamente alguma liderança semelhante à de Mandela. Que modelo de democracia o mundo deveria seguir? Primeiro, precisamos quantificar e qualificar as democracias. A Índia é mencionada nos livros, mas o que está acontecendo na política indiana? Nos livros, os Estados Unidos e o Reino Unido são apresentados como modelos de democracia. Mas o que aconteceu nos últimos dez anos no Reino Unido? Quantas vezes o primeiro-ministro foi mudado lá? E o que está acontecendo nos Estados Unidos hoje? Onde está Mandela para nos ajudar?” perguntou Chaloba.
Exibição
Vida e legado de Mandela poderão ser visitados pelo público na exposição Mandela, ícone mundial da reconciliaçãoque fica em cartaz no Centro Cultural São Paulo (CCSP) até 30 de agosto.
A exposição gratuita conta com 50 painéis fotográficos que foram trazidos ao país pelo Instituto Brasil África (IBRAF) em parceria exclusiva com a Fundação Nelson Mandela, entidade criada por Mandela em Joanesburgo, na África do Sul. Esses painéis não só apresentam fotos de Mandela, mas também contam sua história e destacam algumas frases que ele disse ao longo de sua vida. Entre elas, uma que se transforma em um grande aprendizado: “Nunca perco. Ou eu ganho ou aprendo.”
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