Representantes do governo federal saíram de Brasília e desembarcaram no Mato Grosso do Sul, nesta terça-feira (16). O objetivo das equipes dos Ministérios dos Povos Indígenas (MPI) e dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) é “mediar conflitos fundiários” que culminaram em uma série de ataques contra povos indígenas que ocupavam áreas rurais reivindicadas como territórios tradicionais.
Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, só no último final de semana, ocorreram pelo menos dois ataques a grupos Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul. O primeiro incidente foi registrado no sábado (13), em Douradina, a cerca de 195 quilômetros de Campo Grande. O segundo caso ocorreu na Terra Indígena Dourados-Amambaipegua I, que abrange parte dos territórios das cidades de Amambai, Caarapó e Laguna Carapã, no domingo (14).
De acordo com Agência Brasil Segundo relatos, pelo menos um indígena foi baleado em uma das pernas, durante a tentativa de retirada dos Guarani-Kaiowá da área conhecida como Panambi (GuyraKambi’y) – Lagoa Rica, em Douradina. Além disso, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cnbb), sustenta que uma jovem também foi baleada na perna durante o ataque à Terra Indígena Dourados-Amambaipegua I.
Segundo o MPI, a Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina, foi demarcada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2011, mas três ações judiciais impedem que o processo de demarcação seja concluído e o território de 12,1 mil hectares destinado para uso exclusivo indígena. Os cerca de 56 mil hectares da TI Amambaipegua I, em Caarapó, foram delimitados em 2016, mas os proprietários rurais contestam o processo, que permanece em análise. Cada hectare corresponde aproximadamente às medidas de um campo oficial de futebol.
Em nota, a Assembleia Aty Guasu, principal organização política e social das etnias Guarani e Kaiowá, afirma que a decisão de “retomada” de parte dos territórios reivindicados como territórios indígenas tradicionais foi tomada “após longos anos de espera pela aprovação e regularização do nosso território ancestral, sobrevivendo em barracos de lona, sem as condições mínimas de vida, e sofrendo ameaças e perseguições dos grandes proprietários que nos cercam”.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) manifestou preocupação com a escalada da violência, destacando que as recentes “ocorrências evidenciam a insegurança jurídica vivida há décadas no estado, decorrente da falta de uma resposta definitiva por parte do Poder Público, que garante a pacificação do campo”. Segundo a entidade, que reúne 69 sindicatos rurais, existem atualmente 146 propriedades “invadidas” em todo o estado.
“Mato Grosso do Sul possui um número significativo de produtores rurais que, apesar de terem adquirido suas propriedades de forma legítima e com propriedade pacífica exercida há mais de meio século, têm seus títulos questionados e suas áreas invadidas”, acrescentou a entidade em nota, no que afirma defender, entre os seus associados, a obediência irrestrita à lei e espera uma resolução pacífica “tanto para os povos indígenas como para os produtores rurais”. “Por isso refletimos sobre a ausência de medidas equivalentes para ambos os lados desta questão, uma vez que todos os conflitos fundiários registrados em Mato Grosso do Sul são consequências de invasões de propriedades privadas”.
Sul
A missão conjunta dos ministérios dos Povos Indígenas (MPI) e dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) também se estenderá ao Paraná, onde também têm sido indígenas que lutam pelo reconhecimento de seus direitos à posse de áreas que afirmam pertencer a seus antepassados. atacado por tiros.
Segundo o MPI, no início do mês, 22 famílias Avá Guarani que ocupam parte do território já delimitado para dar lugar à futura Terra Indígena Guasu Guavirá, nas cidades de Guaíra, Altônia e Terra Roxa, próximas ao fronteira com o Paraguai, se espalhou, ampliando a ocupação. Segundo o ministério, isso aconteceu “porque a comunidade onde vivem não tem mais moradores”.
“As famílias foram então alvo de ataques de ruralistas”, relatou o MPI, destacando que a presença de agentes da Força Nacional de Segurança Pública na região não intimidou os agressores. “Entre os feridos, um indígena foi baleado. Além da violência física sofrida pelos Avá Guarani, doações e entregas de alimentos foram impedidas de serem realizadas no local pelos ruralistas”.
Além de enviar representantes ao Mato Grosso do Sul e ao Paraná, os órgãos federais afirmam estar atentos aos conflitos fundiários envolvendo indígenas no Rio Grande do Sul. Segundo o MPI, no Pontão, a cerca de 320 quilômetros de Porto Alegre, indígenas Kaingang sofreram dois ataques em menos de cinco dias. Segundo Cimi, os ataques começaram depois que as famílias decidiram retornar para uma área próxima ao seu território de origem.
“No dia seguinte à retomada, iniciada no dia 9, pessoas armadas passaram pela rodovia e atiraram em direção aos barracos à beira da estrada, em terreno público pertencente ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). No fim de semana, homens atearam fogo a um veículo pertencente à comunidade indígena”, assegurou o MPI.
Prazo
Em sua conta pessoal no Instagram, o secretário executivo do MPI, Eloy Terena, publicou mensagem na qual afirmava que “a instabilidade gerada pelo Lei do Prazoalém de outras tentativas de avançar na agenda [anti-indígena]como PEC nº 48tem como consequência não apenas a insegurança jurídica sobre as definições territoriais que afetam os povos indígenas, mas também abre oportunidade para atos de violência que têm os indígenas como principais vítimas”.
Na mesma mensagem, o secretário garante que o ministério mantém diálogo constante com as Coordenações Regionais específicas da Funai, a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público Federal (MPF), lideranças locais e demais órgãos envolvidos “para apoiar os povos indígenas cujos direitos foram violadas e evitar mais violência.”
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