Começa neste domingo (14), em Brasília, a quinta edição da Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que será realizada novamente no país após um hiato de 8 anos, em 2016. Na pauta estão demandas e prioridades para políticas públicas voltadas para essa parcela da população que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa quase 9% dos brasileiros, o que corresponde a 18,6 milhões de pessoas com 2 anos ou mais.
“Vamos encontrar uma conferência com várias gerações que não tiveram oportunidade de participar de conferências nacionais. É uma ferramenta importante de participação social, para dar visibilidade, para dar voz, em todos os sentidos, a todo tipo de demanda de pessoas com deficiência pelos direitos direitos humanos”, destacou a secretária nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Anna Paula Feminella, em entrevista a meios de comunicação Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).
A conferência nacional, que deverá reunir cerca de 1.200 participantes, é a última etapa de um processo participativo que começou nos municípios, no ano passado, numa avaliação do estágio de implementação da legislação e das conquistas regulatórias, passando pelas conferências estaduais e distritais, nos últimos meses.
“Podemos identificar que as cidades ainda são territórios hostis à nossa presença, pela falta de acessibilidade arquitetónica e urbana, tão prejudicial para quem tem mobilidade reduzida, pela falta de acessibilidade na comunicação e informação. para o exercício efetivo dos direitos das pessoas com deficiência, todas as pessoas com deficiência visual e auditiva, por exemplo, necessitam de recursos de acessibilidade que não estão em todas as políticas públicas dialogadas com os gestores públicos, dos municípios, dos estados e do governo federal”, acrescentou Ana Paula.
O tema geral do encontro é O Cenário Atual e Futuro na Implementação dos Direitos das Pessoas com Deficiência: Construindo um Brasil Mais Inclusivo. Representantes de comunidades, movimentos sociais e gestores públicos participarão da conferência de quatro dias, que vai até quarta-feira (17).
A programação completa do evento pode ser conferida aqui.
Lutando contra a capacidade
Entre os eixos da conferência estão os desafios da concretização de direitos, que incluem a inclusão social das pessoas com deficiência (PCDs), e o combate ao capacitismo, que é justamente a discriminação contra essas pessoas, que se expressa de múltiplas formas através de determinados tratamentos, formas de comunicação, práticas, barreiras físicas e arquitetônicas que impedem o pleno exercício da cidadania.
Para o secretário nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, o progresso na legislação para proteger esta comunidade ainda não se traduz em garantias reais, especialmente quando se trata de aproximar esta população da sociedade como um todo.
“O Brasil alcançou padrões muito avançados, se comparado a outros países, como, por exemplo, a Lei de Cotas no serviço público, mas ainda há uma barreira muito grande, que é o capacitismo, a construção cultural que é uma ideia que um quem se desvia dos padrões normativos do corpo, do corpo e do comportamento, vale menos na sociedade. Isso foi construído ao longo dos séculos e precisa ser desconstruído com conhecimento e participação social”, afirmou Anna Paula.
Segundo o secretário, um exemplo disso, revelado pelo Atlas da Violência 2023, é o fato de os maiores índices de notificação terem sido ataques a pessoas com deficiência. Foram 8.303 casos de agressões a mulheres com deficiência, mais que o dobro do número observado para homens na mesma condição, 3.896 casos. O Atlas da Violência é uma publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Ainda segundo a Atlas, o grupo mais afetado foi o das mulheres com deficiência intelectual. Nessa condição, havia 45 registros para cada 10 mil pessoas com deficiência. Contra homens com o mesmo tipo de deficiência foram pouco mais de 16 notificações para cada 10 mil indivíduos. No caso da violência doméstica, as mulheres com deficiência representaram 65,4% dos registros do Atlas.
“Quanto mais segregados, quanto mais as pessoas com deficiência estiverem distantes das escolas públicas, dos ambientes sociais com todos, pior será, maior será a exposição a todos os tipos de violações”, afirmou Anna Paula.
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