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Dois dos maiores atores do cinema britânico de todos os tempos, Michael Caine e Glenda Jackson (1936-2023) trabalharam juntos pela primeira vez em “A Inglesa Romântica” (1975), de Joseph Losey.
Depois disso, foram quase cinco décadas até que eles voltassem a protagonizar “A Grande Fuga” (2023), que chega hoje aos cinemas brasileiros.
Cada um com duas estatuetas do Oscar —ele por “Hannah e Suas Irmãs” (1986) e “As Regras da Vida” (1999), ela por “Mulheres Apaixonadas” (1969) e “Um Toque de Classe” (1973) —, Os atores, por coincidência do destino, se reuniram no palco nas respectivas despedidas da sétima arte.
Aos 91 anos, Caine anunciou sua aposentadoria no final de 2023. Jackson faleceu aos 87 anos em julho, também no ano passado.
— Foi uma grande honra trabalhar com eles. Ambas foram nossas primeiras escolhas, mas parecia um sonho impossível — lembra Oliver Parker, diretor de “The Great Escape” em entrevista por videoconferência. — Foi como brincar com titãs dirigindo ambos. Eles não precisavam fazer esse filme, mas abraçaram o material desde o início e o carregaram com todo o cuidado necessário. Nenhum deles deu estrelas, sempre foram muito gentis. Ainda fico surpreso ao lembrar como eles conseguiram encontrar mais profundidade emocional em cada cena.
O filme conta a história real de um ex-veterano da Segunda Guerra Mundial que foge da casa de repouso que divide com sua esposa, na Inglaterra, para viajar à Normandia, na França, para as comemorações dos 70 anos do Dia D.
— Fiquei um pouco inseguro quando recebi o convite. Eu senti que era uma história um pouco superficial. Pareceu-me que um filme poderia ser perigosamente doce e óbvio — diz o cineasta de 63 anos. — Mas o roteirista William Ivory fez um trabalho incrível e conseguiu subverter e dar profundidade ao que parecia óbvio.
Declaração anti-guerra
Conhecido por seu trabalho em “Othello” (1995) e “The Return of Johnny English” (2011), Parker também vê seu trabalho como uma espécie de declaração anti-guerra. Seu protagonista, em meio às comemorações, muitas vezes parece incomodado e preso pelas memórias traumáticas vivenciadas durante o conflito.
— Acho que o filme é uma afirmação poderosa que serve hoje. É sobre um homem que sai para comemorar esta data que marca uma guerra, mas no final busca algo mais pessoal — diz o britânico, lembrando que o mundo hoje passa por dois grandes conflitos, na Ucrânia e em Gaza. — O filme fala sobre a falta de sentido e o desperdício da guerra e como as guerras são vendidas ao público. É claro que há excepções às guerras necessárias, mas geralmente as pessoas são peões num jogo político mais vasto.
Numa cena que é considerada o destaque de seu filme, o personagem de Caine conhece ex-soldados alemães, que também lutaram do outro lado, nas praias da Normandia.
— A noção de inimigo é uma ideia abstrata quando você se senta no bar com essa pessoa. Acredito que o filme seja uma poderosa declaração anti-guerra — argumenta o diretor.
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