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Vencedor de Prémio Camõesa maior homenagem concedida a escritores de língua portuguesa, anunciou nesta quarta-feira (26), o poeta mineiro Adélia Prado é autor de mais de 20 títulos, incluindo prosa, poesia e antologias. Moradora de Divinópolis, é conhecida por escrever sob o ponto de vista de mulheres dedicadas à família, assombradas pela morte, que gostam de sexo e temem a Deus.
O poeta Affonso Romano de Sant’Anna já afirmou que ”Adélia não usa uma linguagem emprestada dos homens”, mas ”está aí pisando no chão”, ”com um caderno de poesia ao lado do fogão” . Na semana passada, ela já havia ganhado o Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, pelo conjunto da obra.
Seus livros já foram traduzidos para o inglês e o espanhol e inspiraram inúmeras teses acadêmicas, obras que tendem a abordar os temas femininos e religiosos de sua obra. Em 2015, às vésperas de completar 80 anos, Adélia ganhou uma antologia da sua obra poética na edição de luxo ”Poesia reunida”.
Em dezembro passado, chegou a notícia de que a empresa mineira está preparando um novo livro, cujo título provisório é ”Jardim das Oliveiras”. ”Fui resgatado pela poesia. Encontrei, em gavetas, poemas escritos na minha juventude e, para minha surpresa, eles estavam em sintonia com a minha experiência atual e desencadearam a ideia deste livro”, disse à imprensa.
Quer conhecer um pouco mais da obra de Adélia Prado enquanto espera pelo novo livro? Confira abaixo as principais obras do vencedor do Prêmio Camões (e Machado de Assis).
Bagagem (1976)
”Ó janela de caixilho, jogo de ladrão,/ claraboia na alma, / olho no coração”, diz um dos poemas de ”Bagagem”, primeiro livro de Adélia. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) elogiou os versos do poeta divinópolis em crônica do Jornal do Brasil: ”Adélia é lírica, bíblica, existencial, escreve poesia como faz nos bons tempos” . Dividida em cinco partes, a obra já trazia as preocupações espirituais de Adélia, bem como a sua exploração do desejo da mulher comum, que é mãe, esposa e dona de casa.
” O coração acelerado ” (1978)
Com seu segundo livro, Adélia ganhou o Prêmio Jabuti e se consolidou como uma das principais vozes da poesia brasileira. Na obra, ela aprofundou ainda mais o diálogo com a religiosidade, a valorização do cotidiano e a reflexão sobre a feminilidade. No poema que abre o livro, ”Linhagem”, ela busca na memória as coisas que faziam parte do cotidiano do avô: carvão, mofo de queijo, tomate verde, cólica. Em outro, ”Dois vocativos”, ela diz quem é: ”Sou de três maneiras: / feliz, triste e mofina, / não sei meu outro nome./ Ó profundo mistério!
”O homem da mão seca” (1994)
Após anos de silêncio, Adélia lançou sua terceira obra em prosa. Iniciado em 1987, “O Homem da Mão Seca” acabou abandonado depois que o autor concluiu o primeiro capítulo e passou por uma crise depressiva, que resultou em um bloqueio criativo. Adélia viu a “aridez como uma experiência necessária” e disse que “este tempo no deserto” lhe fez bem. O livro conta a história do casal Thomaz e Antônia (a narradora) e reflete sobre como a fragilidade humana é, na verdade, uma dádiva.
” Miserere ” (2013)
O mais recente livro de Adélia, ”Miserere” reúne 38 poemas nos quais a autora relembra a sua infância, reconhece a sua vontade de viver o presente e expressa dúvidas sobre o futuro. O misticismo que marcou toda a sua obra também aparece aqui. Na época de seu lançamento, o crítico literário Alcir Pécora disse que “o tom sentencioso e edificante” do livro “é geralmente temperado por uma atitude bem-humorada e vigorosa diante do pânico da doença e da morte”. Afirmou ainda que a obra foi “um grande exemplo de como o simbolismo tradicional, repleto de mitos e proibições supostamente ultrapassadas, pode ganhar uma força inesperada como repertório poético”.
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