“Que Xou da Xuxa é esse?” poderia ser apenas próximo meme desaparecer da conversa quando outra cena curiosa ou engraçada tomasse seu lugar.
Mas o impacto do vídeo ultrapassou as telas e pode trazer mudanças na vida de Patrícia Veloso, uma mulher de 47 anos que foi a garota indignada no corte da série “Pra sem Paquitas” (Globoplay).
Ex-professora e mãe de Davi, de 9 anos, menino autistao morador de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, está na fila para ter acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC/Loas).
Trata-se de um salário previdenciário concedido pela Justiça Federal aos responsáveis que não possuem renda para custear todos os tratamentos médicos e sustentar a família.
— Davi é autista grau 2 (com dificuldades significativas de comunicação e interação social), então, assim como muitas mães de crianças atípicas, não trabalho, não tenho renda.
Eu sempre preciso estar com ele. Se você colocar na ponta do lápis, os gastos são altos: escola, fraldas, plano de saúde caro porque ele tem seis tipos de terapia… E não é só uma batalha minha, é a de muitas mães. Já tentei três vezes o benefício e foi negado.
Agora fui ao Tribunal de Justiça e deixei claro: podem mandar um perito até minha casa e vão ver que moro em uma kitnet e estou precisando muito. Espero que os meus e de outras mães saiam — espera ela, cujo marido, Fernando Martins, é operador de empilhadeira.
Qual é o benefício?
O BPC LOAS é um benefício assistencial no valor de um salário mínimo concedido a pessoas com autismo. Depois de concedido, o INSS abre uma conta corrente em favor do autista, em banco conveniado.
Na semana passada, a professora foi recebida no Tribunal de Justiça do Rio para início do processo.
Na verdade, como muitos internautas presumiram antes da revelação da identidade de Patrícia, a menina do vídeo tornou-se uma adulta que busca seus direitos:
— No dia a dia luto por mim e pelo meu filho. Mesmo na fila do supermercado. Quando a gente precisa eu vou lá e informo que o atendimento deles é prioritário e não apenas preferencial. É lei. Ao mesmo tempo, surge um espaço para fazermos as nossas compras.
Cuidado integral
Patrícia, que já foi professora em escolas públicas e privadas e pediu demissão para cuidar do filho, conta que aprendeu com a mãe, Lizete Veloso, de 77 anos, a lutar de cabeça erguida.
Em 2010, a idosa foi diagnosticada com câncer de mama e enfrentou quimioterapia, radioterapia, entre outros procedimentos. Também houve consequências.
— Como o linfedema nas axilas murchou, ela ficou com um braço diferente do outro, mais inchado. Mesmo com todas as dificuldades, ela não deixou a bola cair. É minha inspiração –
Campanhas publicitárias
Agora, enquanto decorrem os trâmites para o filho solicitar o benefício, a professora tem usado o dinheiro que ganhou em duas campanhas — uma para uma marca de eletrodomésticos e outra para um banco — para pagar o tratamento do filho.
Ela também planeja usar seu Instagram, rede social onde já tem 108 mil seguidores, para se conscientizar na luta contra o capacitismo.
— Pretendo transformar meu perfil em uma plataforma de trabalho, não só pela causa do autismo, mas para outros alertas que eu possa fazer — afirma Patrícia.
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