Seja pelo que ouvia de sua mãe Dona Maria das Graças, quando ela cantarolava melodias que transmitiam seu estado de tristeza ou alegria, seja pelo que começou a consumir a partir dos 10 anos, a música sempre fez morada na vida. de Fábio Cabral de Mello, 61 anos, que também usa o sobrenome há 21 anos “Passa Disco”, espaço físico no Recife, um dos mais longevos (e resilientes) da música local e nacional.
Neste sábado, 28 de setembro, a loja – cujas relíquias em CDs, vinis e memórias fazem parte da cultura pernambucana – fecha as portas, mas em comemoração e com o intuito de continuar sendo referência para tantos.
“É doloroso, né? É uma história… Mas foi uma decisão necessária. Estou emocionado, mas feliz, e estou satisfeito com o que conquistei”, declara ‘Passa Disco’, apelidado de “Cantoria”.
“A loja ia se chamar ‘Cantoria’ por causa do LP homônimo de Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar e Shanghai, e eu escutei, achei lindo. Mas Lula Queiroga disse que seria um péssimo nome e foi ele quem inventou o ”Passa Disco'”, disse Fábio, em bate-papo com a Folha de Pernambuco, no espaço que, além de comercial, deu um novo sentido à (boa) música .
O começo
“Abrimos fazendo um pocket show, e um de luxo. Hoje conhecidos nacionalmente, tivemos Alessandra Leão, Juliano Holanda, Tiné e Rudá (Macuca), e a participação de Josildo Sá com o grupo Coqueiro Novo. , livros, tudo relacionado à música”, diz ele, propagador da sonoridade pernambucana, do frevo à ciranda, do maracatu ao coco e ao forró.
“Começamos com a música daqui, ampliamos o alcance para a música brasileira. Mas a grande maioria dos nossos lançamentos foram com artistas locais”, destaca Fábio, que também recebeu nomes como Boca Livre, Tetê Espíndola, Renato Braz, entre outros, além de visitar músicas espontâneas de Elba, Lenine, Zé Renato, Alceu, Ariano Suassuna e muitos outros fazedores musicais.
Pare por quê?
“Quando abri a loja já existia pirataria, mas eu tinha clientela porque havia lançamentos novos. Mas surgiram downloads, MP3s, plataformas digitais, continuei mesmo assim. que deixei até catalogando.
Imagine que neste ano de 2024 foram lançados apenas dois CDs. Como posso manter viva uma loja de colecionador se ela não tem produtos para vender?“, explica ele, sobre o fechamento da loja.
Inaugurado inicialmente no Sítio Trindade, lá permaneceu por 14 anos, até se mudar para o número 345 da Rua da Hora, no Espinheiro, onde permaneceu por mais sete anos, até a decisão de encerrar suas atividades – que será acompanhada no Instagram (@passa.disco) e no Facebook (Disco de passagem).
“Vou postar os CDs (lacrados) e quem quiser pode me procurar e eu envio para eles. Nem tudo que está na loja será vendido, e continuaremos online”, promete a quem, mais uma vez reduzido às lágrimas, entre as lembranças, trouxe uma das ilustres visitas à Passa Disco.
“Sempre fui fã do Alceu e no dia que ele chegou na loja isso me impactou. Pensei ‘nossa, a loja existe mesmo, se o cara veio aqui é porque chegou até ele. …Tenho que agradecer muito, e a muitos. É o primeiro dia que estou chorando, mas estou firme e forte e feliz”, declara, com a voz embargada.
jogue fora
O apagamento das luzes na Passa Disco será, claro, acompanhado de música e outras atividades que envolvem arte, moda e gastronomia. Lá, amanhã, a partir das 11h, acontece a feira de Bora Bora que se junta à já conhecida Feira do Vinil da loja.
O livro “Imagens de uma Década de Sons”, de Luciana Ourique, também faz parte da programação e será lançado no espaço ‘fora’.
A DJing de Ari Falcão e a participação da DJ Dolores, completam a cena de despedida de um espaço que nasceu sob ares nostálgicos e resistentes, como pode ser visto na sua descrição no Instagram, “Passa Disco | Resistindo desde 2003”.
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