“Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (5), é um retorno triunfante. Não só do icônico filme lançado em 1988 e que ganha sequência depois de mais de 30 anos, mas sobretudo de Tim Burton, que traz de volta às telas a encantadora estranheza que o consagrou como um dos diretores mais interessantes de sua geração.
Desde o fracasso do live-action “Dumbo” (2019), Burton estava cada vez mais distante da direção, desiludido com a indústria cinematográfica. Curiosamente, o que fez seus olhos voltarem a brilhar foi a possibilidade de dirigir uma sequência, um dos grandes vícios atuais de Hollywood.
Porém, ao contrário de outros revivals completamente inúteis, “Beetlejuice Beetlejuice” encontra sua razão de existir além do apelo nostálgico. Com todos os elementos que fizeram do primeiro filme uma obra deliciosamente anárquica, o longa consegue revisitar o passado de forma honrosa, mas sem ficar preso nele.
Décadas depois
O enredo do novo filme nos mostra como Lydia Deetz (Winona Ryder) está, décadas depois de seu encontro nada pacífico com o sobrenatural. Graças às suas habilidades psíquicas, ela se tornou apresentadora de um programa sobre casas mal-assombradas. Quem não tem muita fé em suas visões é Astrid (Jenna Ortega), sua filha, com quem tem um relacionamento difícil.
Distantes emocionalmente, mãe e filha terão que se aproximar graças a uma tragédia familiar: a morte de Charles (interpretado no primeiro filme por Jeffrey Jones, que não retorna no segundo), do pai de Lydia e do avô de Astrid. Ao lado da excêntrica Delia Deetz (Catherine O’Hara), viúva do falecido, eles retornam ao bucólico Winter River, dando chance para um certo fantasma se aproximar.
No seu melhor, Michael Keaton prova que nasceu para interpretar o fanfarrão Beetlejuice. O demônio maluco reaparece tão irreverente quanto antes, mostrando que o ator ainda carrega na memória corporal todos os maneirismos e nuances de um personagem que desconhece a passagem do tempo.
Rendido ao caos
Assim como seu antecessor, a comédia com toques de terror trash abraça o caos. Isso está presente inclusive na forma intransigente com que o roteiro escrito por Alfred Gough e Miles Millar estrutura a história, que se ramifica entre tramas paralelas.
Enquanto Lydia se une ao inimigo para entrar no mundo dos mortos e resgatar sua filha, Delores (Monica Bellucci), a ex-mulher sugadora de almas de Beetlejuice, traça seu plano de vingança. Willem Dafoe aparece como um policial do mundo dos mortos, que em vida foi um mau ator em filmes de ação.
É no emaranhado dessas narrativas que o filme acaba perdendo o controle. Os novos personagens são fascinantes, mas recebem pouco tempo de tela para mostrar de onde vieram, sendo atropelados por uma trama que, em seus momentos finais, pisa no acelerador para tentar entregar desfechos coerentes para tantas subtramas.
Estilo Burton
As discrepâncias finais do roteiro, porém, não atrapalham “Ghosts Still Have Fun”. Tim Burton consegue tudo sem abdicar do seu estilo único, que passa por dispensar sempre que possível o CGI, recorrendo a maquilhagem, próteses e animação stop-motion para criar os efeitos visuais pretendidos. O resultado é um filme cheio de vida – mesmo que repleto de personagens mortos – e que traz de volta o encanto de quando o cinema era feito de forma mais artesanal.
É claro que, tanto tempo depois, uma sequência de “Beetlejuice” não conseguiria repetir o impacto de sua versão anterior, que chamou a atenção pela originalidade estética de um diretor ainda pouco conhecido naquela época. Felizmente, temos a oportunidade de vislumbrar mais uma vez todos os elementos que consolidaram a carreira de Tim Burton ao longo dos anos.
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