Fabio Assunção defende a legalização das drogas

Fábio Assunção revelou que o presidente Lula convidou-o para participar de um grupo para pensar políticas públicas em relação às drogas. O ator foi o quarto convidado do “A conversa vai, a conversa vem”Videocast da GLOBO veiculado nas redes e no canal do jornal no YouTube. Carmo Dalla Vecchia, Camila Pitanga e Juliana Paes foram as participantes anteriores dos episódios que estão disponíveis.

— Lula queria um programa de governo focado no tema. Ela ligou para psiquiatras, gente da gestão pública, da saúde, e me ligou. Ela queria desenvolver um plano, que não deu certo porque ele foi preso, mas esse grupo permaneceu.

Por isso Fabio levou alguns integrantes do coletivo para conversar com a equipe de “Cadê meu coração”, série com direção artística de Luisa Lima, em que o ator interpreta o pai de um jovem médico viciado em crack, interpretado por Letícia Colin .

Luisa, aliás, diz que Fábio “chega ao set disposto a tudo, joga sem pára-quedas, é um ator que dá a vida à sua proposta”. E foi exatamente isso que ele fez nos bastidores da série. A equipe visitou Narcóticos Anônimos, local com o qual já tinham um relacionamento. Ele colocou sua experiência pessoal em jogo.

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O ator comentou a importância que a série teve para ele?

— Foi incrível. Gosto de ressaltar que, antes de mais nada, é trabalho de ator. Não fui lá para exorcizar ou resolver nada. Mas buscamos dentro de nós mesmos, temos as ferramentas. A Letícia me procurou para conversar antes, ela queria saber mais sobre o assunto. Fomos para NA ou AA, não me lembro, trouxe pessoas do grupo que o presidente Lula ligou para compartilhar com todo mundo falando sobre o assunto. Foi legal porque deu uma boa visão, respeito pelo tema.

Fábio destacou a contribuição da série para derrubar o estigma de que só pobres se envolvem com crack.

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— Existe esse estigma do pobre, do morador de rua, da Cracolândia, que está sendo discutido novamente agora. A personagem de Letícia tinha uma casa. Marginalizar… As pessoas ficam sem abrigo porque não têm casa. Não é porque usam drogas ou são ladrões. Se tem uma parcela desse grupo social que usa drogas, não dá para dizer “bando de drogados”. Tem que tirar da conta do usuário, resolver moradia no país. Se eu for morar na rua, se eu não tiver emprego, fico estigmatizado, não terei chance de emprego. O fato de Letícia ter se tornado médica mostrou que é como desassociar a compulsão por qualquer coisa da pessoa em situação de vulnerabilidade.

A questão da internação compulsória também foi discutida. E Fábio comentou sua visão sobre o assunto:

— Teve uma entrevista em que eu disse que sou contra a internação compulsória. Porque ninguém será curado de algo que não deseja. Não adianta. A cura não é apenas um procedimento técnico, ela precisa da sua energia para que aconteça. Esse processo de autoboicote, que é compulsão, precisa de você e não de procedimentos. Mas lamento dizer isso, porque há casos extremos em que uma pessoa precisa disso. Tem gente que fica cinco anos internada. Esse assunto é todo difícil. A legalização precisa ser compreendida. Não é permissividade, não é uma claque para todos usarem. É tirar isso do crime organizado e olhar com carinho. A sociedade precisa olhar para isso de uma forma mais humanizada, sabia?

Ele disse que discute o assunto com o filho mais velho, João, de 21 anos.

– Claro que sim. E eles têm uma visão muito contemporânea. Meu filho, por exemplo, fica assim: “Estão fazendo lá e eu não vou, mas não vou julgar. Tenho respeito pelo processo de todo mundo, mas não é a minha turma”. Eu acho isso lindo. Ele sabe o que quer e nunca vi João estigmatizar ninguém. Já acho que é uma visão legal.