O empresário Moisés Mikhael Abou Jnaid, dono de um quadro que afirma ser de Tarsila do Amaral (1886-1973) já foi condenado por roubo e cárcere privado na década de 1990.
Depois, foi candidato a vereador, derrotado três vezes em São Bernardo do Campo (SP) e atualmente cobra dívidas.
Este ano, ele declarou à Junta Comercial que mora em endereço na periferia da cidade.
Procurado, o galerista Thomaz Pacheco, da OMA Galeria, que representa Moisés na negociação da obra, disse não estar autorizado a falar sobre a vida privada do empresário.
Em mensagem à Globo, ele afirmou: “A vida privada do meu cliente não me preocupa e não estou autorizado a falar sobre esse aspecto. Moisés não concederá entrevistas por questões de privacidade e segurança”.
Pacheco questionou ainda “a relação que a sua vida privada tem com a autenticidade da obra”.
A pintura, intitulada “Paisagem 1925”, foi divulgada em abril, na 20ª edição da SP-Arte, quando sua autenticidade foi contestada por agentes do mercado de arte.
Quatro meses depois, a OMA e a Tarsila S.A, empresa responsável pela administração do espólio do modernista, anunciaram que a autenticidade da pintura havia sido verificada por Douglas Quintale, perito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e proprietário da Quintale Art Direito, especializado em certificação de obras de arte.
Em abril, a obra foi avaliada em R$ 16 milhões, e agora, segundo a OMA, seu preço teria subido para R$ 60 milhões.
O debate em torno da autenticidade da pintura trouxe à tona uma disputa interna entre os próprios herdeiros do modernista, que atingiu seu ápice no ano passado, quando, em meio a uma disputa judicial, Tarsilinha do Amaral (sobrinha-neta do pintor) foi substituída na gestão do patrimônio por Paola Montenegro, sua sobrinha bisneta.
Nesta quarta-feira (21), 28 herdeiros do artista, incluindo Tarsilinha, divulgaram carta aberta na qual dizem que a obra “não foi submetida ao Colegiado Catálogo Raisonné” (que reúne todas as obras do pintor) e que “tem não foi legitimamente reconhecido.”
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A versão de Moisés e da galeria OMA, que o representa, é que a pintura permaneceu no Líbano entre 1976 e 2023 e voltou ao Brasil em dezembro, trazida pelo próprio empresário.
Ele relata que a pintura foi presente de casamento de seu pai, Mikhael Abou Jnaid, para sua mãe, Beatriz Maluf, em 1960. A obra teria saído do país quando o casal se mudou para o Líbano.
Naquela época, Tarsila, casada com Oswald de Andrade de 1926 a 1929, já era uma artista respeitada há décadas.
Sua primeira exposição individual no Brasil, para se ter uma ideia, foi em 1929.
E “Abaporu”, sua pintura mais famosa mundialmente, é de 1928.
Convicção
Moisés, hoje com 60 anos, foi condenado pela Justiça de São Paulo em agosto de 1994 a seis anos e quatro meses de prisão, em regime fechado, por envolvimento em roubo.
A pedido da Globo, peritos criminais analisaram certidão de condenação do empresário e certidão de antecedentes criminais, ambas expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
— Ao verificar o Código Penal da época, vemos que a classificação era por roubo, com uso de arma de fogo e participação de pelo menos dois agentes, além de sequestro ou prisão privada e em concurso material, ou seja, com a soma das penas sequestro e roubo — afirma o advogado Fernando Castelo Branco, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Para Carla Rahal Benedetti, criminalista e sócia do Viseu Advogados, Moisés pode ou não ter sido preso.
— O certificado diz sobre uma competição de agente, ou seja, ele estava com outras pessoas. O que ele cometeu e pelo que foi condenado é um crime muito robusto. A condenação determinou regime fechado e foi expedido mandado de prisão, mas não está claro se ele ficou preso ou não e por quanto tempo — disse.
A sentença tornou-se definitiva (com decisão definitiva da qual não cabe recurso) em 1995.
Eleições e dívidas
Moisés é descendente de libaneses e nasceu em Piraju, no interior de São Paulo, conforme documentos pessoais que apresentou à Justiça.
Foi candidato a vereador em São Bernardo do Campo em três eleições municipais consecutivas (2008, 2012 e 2016), mas não conseguiu se eleger em nenhuma delas.
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Em sua última tentativa, como membro do PHS, declarou à Justiça Eleitoral que seu único patrimônio eram 99% das ações relativas a um restaurante, o Vitória House, avaliadas pelo próprio candidato em R$ 19,8 mil.
Em suas incursões eleitorais, o empresário mudou diversas vezes de partido: em 2008, disputou uma vaga na Câmara Municipal pelo PC do B, e em 2012, pelo PSDB. Chegou a tentar ser candidato a deputado estadual pelo PP nas eleições de 2014, mas foi considerado inapto pela Justiça Eleitoral.
O restaurante que Moisés disse à Justiça Eleitoral ser seu único patrimônio em 2016 foi fechado em janeiro de 2019 a pedido do próprio empresário, segundo a Receita Federal, mas deixou dívidas com o município de São Bernardo do Campo, que cobra da empresa em Justiça.
Atualmente Moisés é alvo de um processo de execução movido pela prefeitura de São Bernardo do Campo desde agosto de 2023, no qual a prefeitura afirma que ele está inscrito na dívida ativa do município e deve R$ 6.711,83.
O empresário ainda não se pronunciou sobre o caso.
Em março deste ano, Moisés abriu um novo negócio: uma loteria no bairro Dos Casa, periferia de São Bernardo do Campo.
O negócio, que tem capital social de R$ 10 mil, está registrado no mesmo endereço onde o empresário declarou residir no momento da abertura da empresa, conforme documentos da Junta Comercial de São Paulo.
Desconhecido na indústria
Em reportagens sobre o caso, representantes de Moisés chegaram a dizer que a família do empresário é da alta sociedade paulista, ligada às artes e conhecida da família Amaral.
Apesar disso, o nome do empresário é desconhecido no setor, segundo Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, maior casa de leilões do país.
O galerista afirma estar convencido de que o quadro não era de Tarsila.
— Esse dono não é conhecido no meio artístico e não sei se ele tinha qualquer relação com a família Amaral — diz Bergamin, responsável pela venda de “A caipirinha”, quadro de Tarsila vendido por R$ 57,5 milhões em 2020.
Esta semana, a Associação das Galerias de Arte do Brasil (Agab) divulgou comunicado afirmando que não reconhece a autenticidade da obra em poder de Moisés.
Em nota, a entidade diz que “não aceita qualquer conclusão em processos de certificação de autenticidade e autoria de obras atribuídas a Tarsila do Amaral que não tenham participação direta de Aracy Amaral, Vera d’Horta, Regina Teixeira de Barros, Maria Izabel Branco Ribeiro e Tarsilinha do Amaral, que formaram a equipe que realizou a extensa e detalhada pesquisa que resultou na publicação do Catálogo Raisonné da artista em 2008.”
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