Ser bom em matemática não é apenas uma questão de talento. Você não nasce com propensão a gostar ou não de números e isso por si só já garante sucesso na área. É algo que se consegue com muito estudo, muita prática, persistência e, também, um pouco de sorte.
Artur Ávila é uma das pessoas que combinou estas características, que colecionava uma pilha de livros e exercícios no seu quarto, onde passava os dias a estudar. Em 2014, ele se tornou o primeiro a receber a Medalha Fields na América do Sul – medalha conhecida como Prêmio Nobel de Matemática.
Dez anos depois de Fields, nesta segunda-feira (19), ele discursou para alunos do segundo semestre do Impa Tech, primeiro curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. Instituição onde o próprio Ávila concluiu a pós-graduação. A palestra marcou o início das aulas do semestre.
A matemática costuma ser o terror de muitos brasileiros na escola. Avaliações nacionais e internacionais mostram que o Brasil ainda precisa avançar muito nessa área. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), apenas um em cada quatro estudantes brasileiros alcançou (27%) o nível 2 de proficiência em matemática, considerado o nível mínimo de aprendizagem. A média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no assunto é de 69%.
A Impa Tech pode ser a prova de que isso está mudando lentamente. Ávila reforça aos alunos que não é necessário ter um talento natural, talvez isso nem exista, mas sim persistência e muita prática. “Matemática não é como assistir a um esporte. Isso tem que ser feito. Então, quando fiz isso, vi o que era”, disse o matemático.
Ele disse que sempre procurou entender o que estava estudando, mesmo que isso significasse estudar menos coisas, mas realmente aprendê-las: “É mais importante você aprender bem. Muito material mal aprendido não leva a muito. Os conceitos que realmente uso, os conceitos que realmente são usados, não são tantos, mas estão muito bem fundamentados e estabelecidos com muito rigor.”
Nas escolas e universidades, por exemplo, isso pode fazer a diferença: “Às vezes uma pessoa é projetada para ensinar um pouco de tudo, de uma forma que tem tantas aulas, que você não tem possibilidade do aluno aprender bem. Tive sorte, com o Impa eram seis horas de aula por semana. Então, deu tempo de tentar aprender e aprender bem”, reforçou Ávila.
Questionado por um dos alunos se acreditava na existência de talento natural, disse que são muitos os factores que levam a bons resultados. “A persistência conta muito. Talento sem persistência geralmente não leva lá”, disse e acrescentou que muitas vezes é preciso entender quando trabalhar determinado assunto, ter a capacidade de olhar para ele de uma perspectiva diferente ou mesmo perceber que o conhecimento tem avançado o suficiente para resolver certos problemas. problemas. Ele comparou ao futebol: “Coloca um Romário, se a bola aparecer na frente ele vai fazer o gol. Mas ele pode não correr atrás da bola o tempo todo, desesperado.”
O Impa Tech é um curso superior financiado pelo governo federal por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC). O bacharelado em Matemática da Tecnologia e Inovação tem duração de quatro anos e tem como objetivo capacitar os alunos para efetivamente ingressarem no mercado de tecnologia e inovação. O curso consiste num ciclo básico de um ano e meio. Os alunos então escolhem entre quatro ênfases: matemática, ciência da computação, ciência de dados ou física.
Os alunos da primeira turma vêm de diferentes regiões do país. A seleção leva em consideração a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e também a participação em Olimpíadas, como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).
Um desses alunos é Tomaz Cavalcante, de 18 anos. Ele é recifense e descobriu desde cedo a paixão pelos números. “Eu tinha 10 ou 11 anos”, disse ele. “Acho um grande privilégio poder conversar e conversar com uma pessoa tão importante. Acho que contribui muito para as perspectivas que temos e reforça o fato de que o que estamos estudando aqui pode ser útil. Sempre quis fazer algo que pudesse impactar e fazer bem à sociedade.”
“Matemática sempre foi minha matéria preferida. Desde criança era algo que me deixava muito feliz. Poder descobrir coisas novas, principalmente envolvendo números”, acrescentou Bianca Morena, 18, que é de Fortaleza. Numa área predominantemente masculina, Bianca mostra que isso também está mudando. Ela achou a formatura um ambiente acolhedor. “Por ser menina, sempre tenho medo do que os outros vão pensar, mas atualmente tem sido uma experiência muito positiva. Considero que as meninas aqui estão mais unidas que o normal e os meninos também.”
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