É na “cidade velha e linda (que) nem existe mais”, e com base no “Um frevo em ré, para te deixar fora da cabeça” (como lá, feito lá no Recife) que Moraes Moreira (1947-2020) basta ser considerado o ‘baiano mais pernambucano’ que conhecemos.
Afinal, como ele mesmo exaltou: “Pernambuco é Brasil” e como está, a partir de hoje, Pernambuco é Moraes na exposição “Mancha de Dendê Não Sai”.
Depois de passar por Salvador e Rio de Janeiro, a exposição, que investiga vida e obra do artista ituaçuense (BA), desagua no Paço do Frevo, Bairro do Recife, e segue até março de 2025 sob a robustez de uma abundante retrospectiva pelo universo infinito de Moraes, compositor de ritmos (e frevos) – nada mais óbvio, portanto, que seja é ele o protagonista de um espaço pensado para exaltar uma das expressões máximas da cultura.
“Ele nasceu no Sertão baiano, o que trouxe uma ligação muito forte com Luiz Gonzaga, com a música nordestina, que fez parte de sua formação.
Desde então, ele teve esse vínculo com os mestres que admirava e muitos eram pernambucanos”, destaca a filha do músico, Cecília Moraes, em conversa com Folha Pernambucana.
Cecília continua falando sobre a inclusão de Recife no roteiro expositivo.
“Faz parte das cidades que foram mais importantes na vida dele, e Recife é um lugar onde ele teve muitos amigos e parceiros. É muito especial ter chegado aqui”, finaliza.
O caderno
Em três andares de Paço do FrevoMoraes pode ser percebido em qualquer um dos sentidos humanos, inclusive, e talvez principalmente, no sensorial que emana da atmosfera que toma conta de toda a exposição, pensada para ser assistida, ouvida, cantada e lida, não necessariamente nesta ordem e com a possibilidade de vivenciar tudo ao mesmo tempo – e inevitavelmente se emocionar.
Mas, para Cecília, os escritos redigidos pelo pai, encontrados por ela após sua partida – no Rio, em abril de 2020 -, e que estão em cópia na exposição, têm algo especial.
“Uma das coisas que mais me emociona é um caderno que encontrei após sua morte, com escritos de 1976 de músicas do álbum ‘Cara e Coração’, incluindo ‘Pombo-Correio’. feito, em processo de fazer música”, diz.
A guitarra
Indicar pontos culminantes da exposição é um desafio, já que Moraes está presente em qualquer parte dela – inclusive nos copos de liquidificador pendurados que, pressionados contra a orelha, fazem o visitante cantarolar.
Mas é bem possível que no último andar as emoções venham inevitavelmente à tona.
Ali, dezenas de microfones apontam para ‘o violão’, “(…) o que o acompanhou nos últimos trinta anos e que carrega em nós muito da sua alma e presença”, descreve Cecília.
Na verdade. Como quem entra no tempo, no passado, no presente e no futuro, a sala funciona como o culminar de uma narrativa poderosa que não termina aí, mas representa Moares por excelência.
“Moraes é esse cidadão brasileiro, baiano e carioca, mas muito pernambucano e recifense, e que cantou o ritmo como poucos. Tê-lo neste centro de referência é motivo de orgulho e satisfação”, orgulha-se Luciana Félix, diretora do Paço.
Frevo do Mundo
E será na vibe de “Moraes é Frevo” – álbum lançado este ano nas plataformas digitais, com novas roupagens lideradas por Pupillo e Marcelo Soares (Muzak)na produção musical, em parceria com o músico e violonista, filho de Moraes, Davi Moraes – que a exposição estará aberta ao público hoje, a partir das 18h, na casa de frevo, no Paço.
Lá, o Orquestra Mundial de Frevo executa o disco, com Pupillo, ao lado de Davi Moraes, Bráulio Araújo, do maestro Nilsinho Amarante, Gilmar Black, Adilson Bandeira e Jonatas Araújo, com participações de Almério e Ylana.
A apresentação marca a estreia da exposição, trazida pelo Mercado Livre, incentivada pela Lei Rouanet.
“Mancha de Dendê Não Sai – Moraes Moreira” tem produção cultural e direção geral assinadas por Fernanda Bezerra e pela cenógrafa Renata Mota, que também é responsável pela direção de arte e curadoria do projeto.
Serviço
“Mancha de Dendê não sai – Moraes Moreira”
Quando: a partir desta sexta-feira (15), às 18h, até 9 de março de 2025
Onde: Paço do Frevo – Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife
Ingresso: a partir de R$ 5, no Sympla ou na bilheteria do museu; acesso gratuito às terças-feiras
Informação: @pacodofrevo
*A abertura com a Orquestra Frevo do Mundo e o álbum “Moraes é Frevo tem acesso gratuito
Visitação: terça a sexta, das 10h às 17h; Sábados e domingos, das 11h às 18h
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