A cada dois dias, somente na cidade do Rio de Janeiro, ocorrem três operações policiais em comunidades onde há presença de criminosos armados. Na maioria dessas ações, as aulas nas escolas públicas precisam ser suspensas, o que deixa os alunos para trás na escola.
Preocupado com o déficit educacional causado pelas recorrentes interrupções, o Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro enviou, na semana passada, ofício à Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), solicitando informações sobre a existência de um diretriz nacional sobre o impacto das operações policiais no sistema educacional e uma forma de reparação, para que os alunos não carreguem esse déficit ao longo de sua trajetória escolar.
O MPF defende que é preciso estabelecer regras sobre reposição de aulas e indenização por dias letivos perdidos. O documento foi enviado ao MEC pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que constam no procedimento estabelecido pelo MPF, em 2022 e no primeiro semestre de 2023, a cidade do Rio de Janeiro realizou 832 operações policiais. Em alguns casos, a comunicação com as unidades de ensino ocorreu por e-mail ou WhatsApp.
Segundo o promotor Julio José Araujo Junior, “muitas vezes a educação é colocada em segundo plano”.
“Há apenas a preocupação de mitigar os danos causados pelas operações policiais, como se elas fossem ocorrer e afetar esse direito [dos alunos]. Na prática, muitas vezes não afectam apenas ocasionalmente as aulas. Há situações em que as pessoas ficam privadas das aulas durante uma semana, duas semanas. Já aconteceu mais de uma vez”, disse ele Agência Brasil.
“Há um grave prejuízo para os estudantes que vivem sob esta realidade”, acrescenta.
Recorrência
O processo aberto pelo MPF também contém dados da própria polícia. A Polícia Militar (PM) informou ter realizado 522 batidas em horário escolar no período. A Polícia Civil informa ter reportado 121 operações no período, que vai de janeiro de 2022 a setembro de 2023.
O MPF cita que em alguns locais da região metropolitana, como no município de Itaguaí, as escolas não são notificadas do funcionamento. Ao perceber movimentos estranhos, cabe aos dirigentes buscar esclarecimentos junto à Secretaria de Segurança Pública do estado.
Segundo o MPF, em Itaboraí, município com mais registros de denúncias de operações policiais próximas a escolas, 49, uma troca de tiros envolvendo policiais e criminosos próximo a uma creche municipal resultou na morte de uma faxineira, em dezembro de 2022.
Japeri (37) e São João de Meriti (29) aparecem em seguida no ranking de localidades com mais comunicação de ações policiais.
Alunos de Duque de Caxias tiveram aulas suspensas por 136 dias, enquanto em Magé os alunos passaram um mês em aulas remotas, por questões de segurança.
Todos os dados coletados pelo MPF fazem parte do processo iniciado. “Aguardamos a resposta da Secretaria de Educação Básica do MEC para dar continuidade a esta investigação”, disse o procurador Julio José Araujo Junior.
O procurador entende que a atuação do MEC ao fornecer orientações é uma forma de “mostrar a importância do direito à educação em contraposição a esse tipo de ação de segurança pública, que deve ser bastante excepcional, devidamente fundamentada antes e depois”.
A atuação do MEC também deve ser uma forma de garantir uma efetiva indenização pelas faltas às aulas, defende o procurador. “Que essas aulas sejam realmente recompostas.”
O representante do MPF acrescenta que já conversou com autoridades educacionais estaduais e municipais, e não encontrou “nenhum tipo de ação firme para abordar esse ponto”.
Fogo cruzado
As escolas do Complexo da Maré, um conjunto de 16 favelas onde vivem 140 mil pessoas, na zona norte do Rio de Janeiro, são regularmente fechadas devido a operações policiais.
Andreia Martins, diretora da Redes da Maré, organização da sociedade civil que atua na localidade, lamenta os danos que a recorrência das operações policiais no horário escolar causa às comunidades.
“Os altos índices de violência armada impactam diretamente o direito à educação na Maré, desde a interrupção das aulas, sua continuidade e o trauma que causam à população”, disse. Agência Brasil.
Segundo o ativista, só nos primeiros cinco meses deste ano, ocorreram 22 operações policiais na região, com 21 dias de escolas fechadas. A Redes da Maré produz um relatório que explica a extensão das perdas sofridas pelos estudantes em todas as comunidades. Em 2022, 62% das operações policiais na Maré foram realizadas próximas a escolas e creches e, só em 2023, foram suspensos 25 dias de aulas.
O Boletim Direito à Segurança Pública da Maré mostra que, entre 2016 e 2023, foram 146 dias com aulas suspensas e escolas fechadas em decorrência de operações policiais. “Seria equivalente a 73% de um ano letivo perdido, em 6 anos, para os alunos residentes na Maré”, afirma Redes da Maré.
“É dever do Estado lidar com o problema que cria na condução da sua política de segurança pública, sem descurar os direitos da população”, apela Andreia Martins.
Carreira
Um dos coordenadores do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) Diogo de Andrade classifica a banalização das operações policiais perto das escolas como o fechamento de “portas do conhecimento”.
“Pedagogicamente, a política de enfrentamento direto ao crime, com veículos blindados, helicópteros e fuzis, não é ruim só pelos estragos no dia da operação, as aulas perdidas não são compensadas. Portanto, além do risco de morte por viver em locais onde nenhum dos lados pensa antes de puxar o gatilho, há o mal certo de ter menos classes em comparação com o resto dos territórios onde não há experiência de uma guerra real contra os seus porta”, disse Agência Brasil.
Segundo a profissional da educação, a violência também atinge os professores. “Há um processo de adoecimento mental em massa entre os profissionais da educação”, denuncia.
“Qualquer barulho que você ouve deixa você completamente nervoso, sem saber o que fazer”, acrescenta Samantha Guedes, também coordenadora do Sepe.
Outro resultado, segundo Diogo, é o desânimo em formar mais professores. “A profissão não é atrativa”, observa.
Samantha defende que “deve-se recorrer ao serviço de inteligência policial” para evitar operações perto de escolas, lembrando que se trata de áreas onde a maioria da população é negra, e são bairros que recebem, segundo ela, tratamento diferenciado dos mais nobres do país. cidades.
Autoridades
Ao ser questionada sobre a realização de operações no horário escolar, a Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que “as ações da corporação são orientadas por planejamento prévio, sendo orientadas por análises de nódoas criminais locais, e são realizadas dentro do disposto na legislação atual.”
A nota do PM acrescenta que “optar pelo confronto é comportamento dos criminosos” e traz dados de produtividade do estado nos primeiros cinco meses do ano, como 19 mil presos e 3,5 mil armas de fogo apreendidas, sendo 380 fuzis.
O comunicado informa que a PM “continuará investindo em tecnologia, capacitação de pessoal, infraestrutura e logística para tornar as operações da corporação cada vez mais precisas e eficazes”.
A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro não responderam ao pedido de comentários à reportagem.
O Agência Brasil pediu comentários ao Ministério da Educação, mas não recebeu resposta até a publicação do relatório.
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