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Em Chupimsua estreia na literatura infantil, o escritor Itamar Vieira Junior retoma o universo retratado em Arado Torto convidar o leitor a conhecer a realidade do campo.
Julim é a criança que é acordada pelo pai para ir ver os arrozais. O Chupim é um passarinho, uma praga que Julim precisa espantar daquele lugar.
“Esta história já foi contada em Arado Torto na perspectiva de uma mulher mais velha, que é Bibiana, que está relembrando suas memórias de infância. E a vontade de revisitar essa história, na perspectiva de uma criança, me escapou”, disse a autora.
E foi assim que Julim, personagem deste livro, apareceu, mostrando sua semelhança com Chupim.
“Julim é uma criança que acorda para o primeiro dia de trabalho ou de brincadeira na fazenda onde seus pais trabalham. E vai espantar a peste. E assim vai conhecer o Chupim”, disse o escritor.
Chupim foi lançado na Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador. É uma história que retrata o trabalho no campo e as desigualdades sociais. “O livro reflete muito o universo do campo brasileiro”, afirma o escritor.
“É importante trazer temas como esse para a literatura. Claro que de uma forma lúdica, sensível, sutil e que consiga atingir a criança de forma gentil. Mas mesmo assim ela não ficará fora deste mundo”, disse o escritor.
Por meio dessa história, Itamar faz com que os jovens leitores percebam as semelhanças entre os trabalhadores do campo e as pragas, como o Chupim, e como ambos lutam pela sua sobrevivência.
“Os pais levam os filhos para trabalhar porque isso faz parte do mundo dos trabalhadores rurais. Hoje as crianças estudam, mas muitas certamente passam algum tempo na fazenda com o pai. Quando estão trabalhando para um agricultor, muitas vezes é trabalho infantil, ou seja, há exploração de mão de obra”, disse o escritor.
Segundo Itamar, foi daí que surgiu a ideia de contrastar a vida das crianças e a vida dos trabalhadores com a vida dos chupins.
“Os vaqueiros já encontram o arrozal pronto e vão lá buscar os grãos para alimentar. Os homens do campo trabalham e, como não têm terra, vão de um lugar para outro, assim como os vaqueiros. sobreviver”, argumenta Itamar.
Em bate-papo com os jornalistas e colega escritora Paloma Jorge Amado, filha de Jorge Amado, antes de apresentar seu novo livro ao público Flipelô, Itamar Vieira Junior descreveu o romance.
“O Chupim é sobre a importância de trazer temas sociais para as histórias, inclusive as infantis. Somos pessoas, seres humanos, cidadãos e a nossa vida não acontece separada de tudo o que acontece à nossa volta. As crianças querem saber porque é que as coisas são como são”, descreveu Vieira.
Para o escritor, mesmo crianças com uma realidade diferente de Julim poderão se identificar com essa história.
“Você pode ler um livro com personagens radicalmente diferentes de você, do mundo em que vive. E vai descobrir que, mesmo sendo diferentes, ainda temos muitas semelhanças”, disse Itamar.
O autor acredita que, para uma criança da cidade, a leitura Chupim Talvez colocá-la no lugar dessa criança rural, reconhecendo um universo diferente e entendendo que arroz não cresce no supermercado.
“Hoje há mais crianças morando nas cidades do que no campo. Mas, mesmo assim, o livro vai revelar um universo que existe e que, mesmo sendo diferente, vai indicar para essa criança que temos muitas semelhanças”, finalizou o autor.
Público reunido no Espaço Mabel Velloso para lançamento do livro infantil Chupim, do escritor Itamar Vieira Junior, na Flipelô. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil.
O otário do grafiteiro
Se os chupins são a praga do Torto Arado e dos arrozais, para o artista plástico e grafiteiro Marcos Costa, os chupins são arte.
Enquanto Itamar apresentava seu novo livro ao público, Marcos Costa, também conhecido como Spray Cabuloso, pintava seu cowbird ao ar livre, no mesmo Espaço Instituto CCR Mabel Velloso, na Flipelô.
“Essa pintura aqui eu fiz inspirada no livro. Ele é um pássaro preto, mas também será um alienígena. Ele deixará a Terra e estará no universo, em tons intergalácticos. Essa foi para pegar o gancho com o tema da Flipelô deste ano, Raul Seixas. Isso é o Chupim, mas também está no universo do Raulzito”, disse o grafiteiro Agência Brasil.
Este chupim pintado por Costa também tem raízes na cultura negra.
“Trouxe uma referência que faz parte do conceito do meu trabalho, que é o afrograffiti. Fiz um pássaro com a cabeça voltada para trás, fazendo referência ao ideograma adinkra chamado Sankofa. e conhecer nossos antepassados para saber quem somos e para onde vamos”, explicou o artista.
Para Costa, o graffiti é também uma forma de contar histórias.
“Criamos poesia através de imagens. O graffiti pega as pessoas no meio da estrada ou às vezes até contra o fluxo das coisas. É uma arte democrática. Ela une e une todas as camadas da sociedade, une pessoas de diferentes contextos. O graffiti é verdadeiramente uma arte democrática, uma arte do povo para o povo”, concluiu o grafiteiro.
Pituco
Um passarinho também é tema do livro Pitucode Paloma Jorge Amado, que foi relançado junto com Chupim.
“Meu pai diria que essa coincidência [sobre passarinhos] São coincidências baianas”, brincou Paloma, ao lado de Itamar Vieira Junior.
Pitucono entanto, não é um livro infantil. Mas uma homenagem ao centenário de sua mãe, Zélia Gattai Amado.
Neste livro, Paloma retrata a história de um passarinho que morava com a família e foi fotografado pela mãe durante 22 anos.
“O pássaro do Itamar é o chupim. Esse pássaro, que é real, chamava-se Pituco. Ele existiu e esteve conosco por 22 anos. Quando foi o centenário da minha mãe, em 2016, resolvi homenageá-la, ilustrando, com texto, fotos dela. Minha mãe, antes de ser escritora, foi uma fotógrafa extraordinária”, disse Paloma.
Flipelô é gratuito e termina neste domingo (11). Mais informações sobre o evento e programação estão no site do evento.
*A repórter e fotógrafa Rovena Rosa viajou a convite do Instituto CCR, patrocinador do Flipelô
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