Ariano Suassuna: 10 anos sem o poeta que fez da cultura popular arte e luta

Taperoá, na Paraíba. Você pode não saber onde fica, mas com certeza já ouviu falar dele. Foi aqui que o escritor viveu Ariano Suassuna. Dez anos após sua morte, o autor está onde sempre quis e gostou de estar: na memória popular.

Nas bagunças de Chicó e João Grilo; na saga histórica, política e filosófica de Romance da Pedra do Reino; ou ainda nas famosas “aulas show”, disponíveis na internet.

Ariano foi publicado em vários idiomas e fez parte da Academia Brasileira de Letras (ABL). Na época da inauguração, o escritor Joaquim Falcãotambém membro da ABL, lembra que Suassuna abandonou o uniforme, traje tradicional, e passou a usar alpercatas.

Este facto fez com que nunca caísse em críticas generalizantes sobre o tema, segundo Joaquim Falcão, membro da ABL.

“Ele sempre dizia o seguinte: tem pena dessa generalização que o Brasil faz de profissão. Ariano era absolutamente contra. E tinha pena dessa generalização, porque essa generalização não reflete o Brasil”, disse em entrevista à Rádio Nacional .

O Auto da Compadecida

Para o palco, ficaram as obras O Auto da Compadecida, Uma Mulher Vestida de Sol e A Farsa da Boa Preguiça. Suassuna tinha carinho pelo que criava e gostava de ver sua obra sendo adaptada para cinema e televisão. Ele até participou ativamente nos bastidores de alguns deles.

Joaquim Falcão resume a brasilidade de Ariano, relembrando uma crítica bem-humorada do escritor sobre a Disney World.

“O que falta do Ariano hoje é o que você está fazendo. É que o Brasil descubra o Brasil. O Brasil não é a Disneylândia. O Brasil é Taperoá.”

Neste dia 23 de julho, quem estiver em Taperoá, no interior da Paraíba, terá o privilégio de participar de uma exposição itinerante sobre a obra do escritor, passando pela Casa Museu, repleta de xilogravuras, e pelo cortejo com músicos e artistas que realizam o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna na década de 1970 com expressões artísticas baseadas nas raízes da cultura popular brasileira.

Há também um debate na Câmara Municipal de Taperoá sobre o realismo fantástico das obras de Suassuna, que mistura realidade e fantasia. Ao final da tarde atuam o concerto Armorial e o Grupo Teatro Oficina.

Um dia de shows, como tantos outros que Suassuna trouxe ao povo.

“Um show numa cidade chamada Belém de São Francisco, lá no Alto Sertão, em praça pública. E quando terminou, ouvi um dos maiores elogios que já ouvi na vida, de uma velhinha, do povo: ‘Nunca pensei em morrer, antes de morrer vejo um espetáculo lindo como esse.’ Isso compensou todo o cansaço que eu estava sentindo. Ver algo assim… Quer dizer, eu sei que trouxe para ela uma alegria tão grande quanto essa que tive quando vi o circo quando era menino. arte e qualidade que nosso povo merece”, disse Suassuna.