A reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pretende negociar sua participação no Ventura Corporate Towers, moderno edifício localizado no centro da capital carioca. Dona de 11 andares que totalizam 16,6 mil metros quadrados, a instituição almeja uma permuta. O objetivo é encontrar alguém interessado em adquiri-los que, em troca, seria responsável por um conjunto de 10 obras de infraestrutura. Para avançar, a proposta ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Universitário, órgão máximo de deliberação da UFRJ formado por representantes dos três segmentos acadêmicos: professores, estudantes e funcionários técnico-administrativos.
Inaugurado em 2010 com estrutura de alto padrão, o Ventura Corporate Towers tornou-se um ícone no cenário urbano. Localizada a 250 metros da sede da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e em frente à Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, chama a atenção por suas duas torres de 34 andares cada. O prédio, que conta ainda com cinco subsolos, amplo estacionamento e heliponto, possui certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) por atender a diversos requisitos de sustentabilidade, como o uso inteligente e racionalizado de água e energia e o descarte controlado de resíduos. para garantir o descarte e a reciclagem corretos.
As torres foram construídas em terrenos que antes pertenciam à UFRJ. Na época, a universidade chegou a um acordo para transferi-lo em troca de 11 andares, correspondentes a 17% da área construída. Atualmente, 54% deste espaço está locado e 26% está vago. O restante, equivalente a dois andares, está ocupado desde 2015 pela Escola de Música, que necessitava de um novo ambiente diante de problemas em seu imóvel localizado no Largo da Lapa, também no centro da cidade. Os setores administrativos, a biblioteca, algumas salas de aula e instalações do programa de pós-graduação foram transferidos para o Ventura Corporate Towers.
A proposta de negociação dos 11 andares do prédio foi incluída no Projeto de Valorização do Patrimônio da UFRJ, que vem sendo discutido internamente desde 2017, abrangendo os mandatos de três reitores. Nesta quinta-feira (11), foi realizada audiência pública no campus da Praia Vermelha, zona sul do Rio de Janeiro. Houve transmissão on-line das discussões. Na semana anterior, outra audiência aconteceu na Cidade Universitária, campus-sede da UFRJ localizado na Ilha do Fundão, zona norte da capital fluminense.
Nas duas ocasiões, os pontos centrais foram abordados pelo reitor Roberto Medronho; pela vice-reitora de gestão e governação, Cláudia Ferreira da Cruz; e pelo professor do Instituto de Economia, João Carlos Ferraz. Segundo a apresentação, foram estabelecidas 10 compensações, que envolvem a conclusão de obras inacabadas, melhorias físicas e também a construção de novos edifícios académicos. Eles foram definidos em consonância com o Plano Diretor 2030 da UFRJ, documento que orienta o desenvolvimento territorial e patrimonial da instituição. O projeto prevê que a UFRJ entregue 16,6 mil metros quadrados dos 11 andares e receba 71,3 mil metros quadrados.
“Ao realizar estas obras estaremos valorizando o patrimônio e também evitando a sua degradação”, afirmou Ferraz. Ele faz parte da equipe que trabalha no Projeto de Valorização do Patrimônio da UFRJ desde o início, através das três reitorias.
Segundo ele, a instituição enfrenta uma crise orçamentária e a busca por recursos complementares é uma forma de atender às demandas.
Segundo os dados apresentados por Ferraz, considerando o lucro médio anual obtido pela universidade com os aluguéis do Ventura Corporate Towers entre 2019 e 2023, seriam necessários 52 anos para reunir os recursos necessários para financiar as 10 obras. Com o intercâmbio, a expectativa é concluí-los em pouco mais de três anos. O próprio professor, porém, reconhece que os lucros caíram em 2020 e 2021 devido aos impactos da pandemia da Covid-19 e registraram aumento no ano passado, o que pode indicar o início de uma tendência de crescimento.
Nas duas audiências públicas, houve questionamentos à proposta. Algumas delas vieram do funcionário técnico-administrativo Agnaldo Fernandes, que se envolveu no Projeto de Valorização do Patrimônio da UFRJ no início das discussões, na gestão do ex-reitor Roberto Leher. Na época, a venda dos andares do Ventura Corporate Towers não estava em pauta.
Agnaldo considerou que não há garantias de que haverá interessados no negócio e perguntou se foi calculada alguma taxa de sucesso. Criticou ainda a falta de divulgação do valor dos 11 pisos, bem como dos custos estimados das 10 obras. Segundo ele, o Conselho Universitário só poderá avaliar se a proposta vale a pena se tiver esses dados.
“Esta é a primeira informação que precisamos, para que possamos ver qual é o sucesso esperado desta venda, tendo em conta o momento que vivemos e a situação actual”, disse. Ele avaliou também que, embora não seja um prédio destinado a fins acadêmicos, os aluguéis geram recursos que complementam o orçamento da universidade e viabilizam suas atividades.
Construção
Uma das 10 obras listadas é a da Escola de Música, para que as atividades da unidade voltem a acontecer no Largo da Lapa. Segundo a pró-reitora Claúdia Cruz, esta é a consideração prioritária porque dela depende a vacância dos dois andares do Ventura Corporate Towers. Além disso, ela lembra que o prédio é destinado a atividades corporativas e que a transferência da Escola de Música foi uma solução emergencial e temporária. “Apesar de todas as adaptações que foram feitas, é um prédio pouco adequado para atividades acadêmicas”, afirma o reitor.
Está prevista também a conclusão ou construção de instalações para o Centro de Ciências da Saúde, para o curso de dança da Escola de Educação Física e Desportos, para o Instituto de Matemática, para o Instituto de Química, para a Coordenadoria de Integração Acadêmica da Graduação, para o Centro de Estudos Jurídicos. e Ciências Económicas e ao restaurante universitário anexo à Faculdade de Letras. São obras que acontecerão na Cidade Universitária. Além disso, também foi incluída a construção de um restaurante universitário no campus Macaé (RJ).
Essa lista, assim como o cronograma de trabalho, também tem sido objeto de disputas. Professores do Instituto de Matemática questionam, por exemplo, por que a conclusão do prédio da unidade foi considerada uma das últimas obras a serem iniciadas. Eles afirmam que, embora a obra esteja parada há mais de 10 anos, falta pouco para concluí-la. O professor Gregório Malajovich afirma que houve uma grande evasão docente nos últimos anos, o que evidenciaria a urgência. “Estamos perdendo pesquisadores em massa devido a problemas de infraestrutura”.
A retirada de trabalhos do Instituto de Nutrição, que constavam em versões preliminares da lista, foi lamentada pela professora Avany Fernandes Pereira. Houve também professores que criticaram a disputa interna por recursos e se manifestaram contra a venda dos 11 andares, alegando que a UFRJ perderá receitas importantes e não resolverá seus problemas que deveriam ser resolvidos com o orçamento federal.
Respondendo às manifestações, a pró-reitora Cláudia reiterou que a lista de congêneres levou em consideração diretrizes do Plano Diretor. “Precisaríamos de três ou quatro Venturas para atender a todos. Qualquer escolha que fizéssemos estaria sujeita a questionamentos. A visão da administração era trazer os critérios mais técnicos possíveis para propor esta listagem”.
Licitação
Para modelar o negócio de licitações, a UFRJ contratou o BNDES. A instituição financeira, por sua vez, abriu edital para subcontratar alguém responsável por atuar em três frentes: arquitetura, serviços jurídicos e serviços econômico-financeiros. A competição foi vencida pelo Consórcio EY, Demarest e Fernandes, liderado pela consultoria Ernst Young e composto também pelas empresas Fernandes Arquitetos Associados e Almeida, Rotenberg e Boscoli Sociedade de Advogados.
De acordo com a proposta desenvolvida, a venda dos 11 pisos ocorrerá em bloco. Ou seja, só é possível completá-los todos juntos. Havendo mais de um interessado, vencerá a disputa aquele que, além de se comprometer com as 10 considerações, oferecer o maior valor adicional em dinheiro.
Além disso, os actuais inquilinos poderão igualar a melhor oferta caso pretendam exercer a sua preferência. Atualmente seis empresas alugam andares na UFRJ: IRB Brasil, Karoon Petroleo & Gás, EDF Norte Fluminense, Confab Industrial, Trident Energy e Maersk Suply & Service. Conversas informais também foram mantidas com o grupo canadense Brookfield, proprietário do restante do edifício. A UFRJ acredita que ele possa ter interesse em assumir seus 17%, tornando-se assim o único proprietário do Ventura Corporate Towers.
O vencedor da disputa deverá assinar um contrato assumindo os riscos de possíveis custos excessivos nas 10 obras listadas. Além disso, ele receberá a propriedade de cada um dos 11 andares gradativamente, à medida que as contrapartidas avançam. A escritura definitiva deverá ser formalizada ao final do processo.
No ano passado, também no âmbito do Projeto de Valorização do Patrimônio da UFRJ, foi assinado contrato de locação de uso por 30 anos do local onde funcionava o Canecão, casa de shows localizada em campus Praia Vermelha e fechada definitivamente em 2010 por deterioração. A competição foi vencida pelo consórcio Bônus-Klefer. Ele construirá um novo equipamento cultural e, após a conclusão da obra, poderá explorá-lo comercialmente pelas próximas três décadas. Em troca, deverá entregar também um restaurante universitário e dois prédios acadêmicos no campus da Praia Vermelha.
“O Canecão nunca foi realmente nosso. Nunca tivemos ali um espaço para mostrar nossa cultura, nossas artes. As gestões anteriores mal pagavam o que deviam à UFRJ. Agora, o salão principal do Canecão, que vai acomodar 3,5 mil pessoas sentadas e 6 mil em pé , dependendo do tipo de espetáculo, poderá ser utilizado pela universidade durante 50 dias por ano. Teremos que ter muitas ações para preencher todos esses dias. Queremos espetáculos gratuitos para a comunidade”, disse o reitor Ronaldo Medronho.
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