Romilton Hosi, que teria garantido R$ 1 milhão ao juiz de São Paulo para sua transferência, já comprou duas fugas de presídios de Campo Grande
Pivô do escândalo que resultou na sexta-feira (21) da semana passada no afastamento do juiz Ivo de Almeira, do Tribunal de Justiça de São Paulo, por suposta venda de pena, o traficante Romilton Aparecido Queiroz Hosi, 55 anos, foi histórico de fugas escandalosas do sistema prisional de Mato Grosso do Sul e tentou retornar a um presídio em Campo Grande para fugir novamente.
Preso após a apreensão de 449 quilos de cocaína em Rio Verde, em 2002, ele pagou cerca de R$ 1 milhão a policiais militares para facilitar sua fuga do presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, em novembro de 2003. No ano anterior, já havia saído pela frente porta do Instituto Penal de Campo Grande, também mediante pagamento de propina.
A “Operação Churrascada”, deflagrada na última sexta-feira (21) no estado de São Paulo, desmantelou um suposto esquema de venda de penas não apenas a traficantes de drogas, mas também a envolvidos em um esquema de desvio de recursos de saúde, que resultou na perda de pelo menos pelo menos R$ 40 milhões nas prefeituras de São Paulo.
Porém, uma das descobertas mais escandalosas feitas pela Polícia Federal na “Operação Churrascda” é que o juiz Ivo de Almeida havia negociado o recebimento de R$ 1 milhão para que Romilton Hosi fosse transferido de São Paulo para Campo Grande e após essa transferência seria seria providenciada sua fuga, pois já havia obtido sucesso duas vezes em Mato Grosso do Sul.
No entanto, o juiz não conseguiu convencer os colegas da Câmara e por isso a transferência e a fuga ainda não tinham sido concluídas até agora. A Polícia Federal chegou a solicitar a prisão do juiz, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido e o afastou por um ano.
A operação chamou-se Churrascada porque foi esse o termo que os advogados usaram para indicar o dia em que Ivo de Almeida estava de serviço e nestas datas aproveitaram para interpor os seus recursos.
LIBERDADE COMPRADA
Mas, no dia 17 de novembro de 2003, os planos de Romilton Hosi deram certo e ele desapareceu após prestar depoimento no fórum de Campo Grande. Ele estava em um ônibus com outros 32 presos e só quando o veículo retornou ao presídio de segurança máxima é que sua fuga foi descoberta. Ele foi libertado ainda dentro do fórum, fugiu para o Paraguai e retomou as atividades de tráfico de drogas.
A suspeita é que ele tenha pago propina a nove policiais que foram responsáveis por escoltá-lo para libertá-lo no meio do caminho. Por causa da fuga, três deles foram condenados a 3,5 anos de prisão e outros dois a um ano e 11 meses. Os outros quatro foram absolvidos.
Dias após a fuga, três altos funcionários do sistema penitenciário também foram afastados de seus cargos. Eles simplesmente ignoraram uma carta enviada semanas antes pelo juiz federal José Paulo Cinotti solicitando uma escolta especial para Romilton, pois a Justiça Federal descobriu que ele havia pago R$ 1 milhão para financiar sua fuga no dia da audiência.
Ele estava preso em Campo Grande desde setembro de 2022 e condenado a 20 anos de prisão por ser um dos proprietários de um carregamento de 449 quilos de cocaína apreendido em um avião na cidade de Rio Verde de Mato Grosso (MS), cidade 200 quilômetros de distância. norte de Campo Grande.
Na época, Romilton foi identificado como integrante da gangue de Leonardo Dias Mendonça, um dos mais poderosos traficantes de cocaína do Brasil na época e um dos líderes do Comando Vermelho, facção que tinha como principal líder o traficante de drogas Fernandinho Beira Mar.
Atualmente, segundo a Polícia Federal, Romilton integra a quadrilha liderada pelo traficante Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, do Primeiro Comando da Capital (PCC), que também está preso.
Pouco antes de ser preso com 449 quilos de cocaína, Romilton já havia fugido pela porta da frente do Instituto Penal de Campo Grande. Devido a essa fuga, que também se baseou no pagamento de propina a servidores públicos, um agente penitenciário foi demitido.
História de Romilton Hosi
Após a segunda fuga, o comandante Johnnie, como é conhecido Romilton, ficou desaparecido por 16 anos. Condenado a quase 40 anos de prisão por tráfico internacional de cocaína, ele não é um traficante comum. Além da PF, policiais dos Estados Unidos, Inglaterra, Paraguai e outros países caçavam Hosi.
Em 2019, o piloto foi preso novamente pela Polícia Federal. Ele usou o nome falso Robson Magalhães Neto, que foi apenas uma das cinco identidades falsas que utilizou. Com ele foram descobertas mais de 300 quilos de drogas e diversas armas de grosso calibre.
Naquela época, ele já estava ligado a outro chefão do tráfico: Minotauro, que assumiu posição-chave do PCC no tráfico internacional, a partir de 2016, após a morte de Jorge Rafat, que até então era o chefão do tráfico na fronteira entre Mato Grosso . do Sul e do Paraguai.
Foi após a prisão de Hosi, em março de 2019, em Jundiaí (SP), realizada pela PF e pela Agência Nacional do Crime (NCA), do Reino Unido, que a Operação Além-Mar foi deflagrada no ano seguinte.
Minotauro era o alvo central. Foram apreendidas mais de 11 toneladas de cocaína, que o grupo movimentou, no Brasil e na Europa, de 2018 a 2021. Em Além-Mar, sete aviões, nove helicópteros, 42 caminhões, 35 propriedades (mansões e fazendas) e R$ 100 milhões.
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