Em acordo histórico entre indígenas e agricultores, ocorrido ontem em audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal (STF), o governo federal e o governo do Estado se comprometeram a pagar R$ 146 milhões de indenização aos proprietários rurais de Antônio João, dando continuidade à conclusão da homologação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, com 9.317 hectares.
Uma semana após o assassinato do indígena Neri Guarani Kaiowá, de 23 anos, ocorrido no dia 18, o acordo firmado com a presença do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), por meio do secretário-executivo Eloy Terena, lideranças indígenas Guarani Kaiowá, governo do Estado , representada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE) Ana Carolina Ali Garcia, e proprietários rurais, o que põe fim aos conflitos pela posse da terra em Antônio João, entregando a propriedade da área ao povo Guarani Kaiowá.
Do total de R$ 146 milhões de indenização, R$ 102,2 milhões serão pagos pela União aos proprietários rurais pela terra descoberta, por meio de precatórios, e R$ 16 milhões serão pagos pelo governo do Estado como contrapartida.
O outro valor restante, conforme ata do encerramento da audiência de conciliação, será pago pela União imediatamente aos agricultores, pelas benfeitorias realizadas nas terras, no valor de R$ 27,8 milhões.
Após o pagamento das benfeitorias, que deverão ser mantidas no território indígena, os proprietários rurais terão 15 dias para retirar os 9.317 hectares que pertencerão oficialmente ao povo Guarani Kaiowá.
Conforme informado em audiência de conciliação pelo desembargador do ministro do STF Gilmar Mendes, Diego Viegas Véras, o acordo entre as partes ainda será votado em plenário no Supremo.
Esta é a primeira vez em Mato Grosso do Sul que há um acordo judicial entre agricultores e indígenas após conflitos, definindo assim a titularidade da terra aos indígenas que a reivindicaram, com o pagamento de indenização aos proprietários rurais que morava lá, tanto pela terra descoberta quanto pelas benfeitorias.
Segundo o MPI, outros territórios Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul poderão ter o processo de demarcação retomado devido a atualizações fundiárias e jurídicas das terras, levantadas por meio do Gabinete de Crise criado no ano passado, que monitora violações aos direitos humanos do povo . Guarani Kaiowá.
PROCESSAMENTO
Tratada como prioridade pelo governo federal por meio do Ministério dos Povos Indígenas, a Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, localizada em Antônio João, finaliza seu processo de demarcação após quase 20 anos paralisada pelo Supremo Tribunal Federal.
A última etapa do processo de demarcação do território indígena do povo Guarani Kaiowá estava paralisada desde 2005, quando a terra indígena foi homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas nesse mesmo ano foi levada à justiça e recebeu liminar favorável do então ministro do STF, Nelson Jobim. Essa liminar ficou suspensa por 19 anos no Supremo, impedindo a conclusão da demarcação.
O processo voltou a ser revisto na semana passada, por meio de petição do MPI, em resposta à morte do indígena na área de conflito fundiário.
Após esta intervenção feita no processo no dia 20, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, convocou uma audiência de conciliação com a presença das partes envolvidas, para chegar a uma solução final para este processo de demarcação.
Após 7 horas de discussões para chegar a um denominador comum de valores de indenização, a União, o governo do Estado e representantes dos proprietários rurais de Antônio João chegaram a um acordo que foi amplamente debatido com a Procuradoria-Geral do Estado de Mato Grosso do Sul (PGE ).
VIOLÊNCIA
A morte do indígena Neri Guarani Kaiowá foi a quarta registrada na região de Antônio João, a terceira nesta comunidade indígena, segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
O conflito fundiário na região começou na década de 1980, sendo a primeira morte a de Marçal de Souza, e a situação tensa continua até hoje.
Na semana passada, Neri foi morto com um tiro na cabeça. A autoria do tiroteio ainda não foi confirmada, mas ocorreu durante uma ação da Polícia Militar na TI Ñande Ru Marangatu, em Antônio João, que abriga indígenas da etnia Guarani-Kaiowá.
Informações do Cimi afirmam que a polícia arrastou o corpo de Neri para uma parte da mata, o que indignou os indígenas, que começaram a avançar em direção ao local para onde o corpo foi levado.
O conflito na região teria tomado maiores proporções desde o dia 12, quando equipes da Polícia Militar chegaram à região de disputa de terras.
A morte do indígena teria ocorrido na madrugada, em confronto durante a retomada indígena da Fazenda Barra.
Com o acordo alcançado na audiência de conciliação, também ficou acertado entre indígenas e agricultores que todo o processo de oficialização da posse da terra do povo Guarani Kaiowá será realizado sem que novos casos de violência ocorram em Antônio João.
A Força Nacional garantirá a segurança do local até o final do processo de homologação e retirada dos proprietários rurais de Ñande Ru Marangatu.
Descobrir
Escritório de Crise do Ministério em MS
O acordo histórico envolvendo indígenas e proprietários rurais de Mato Grosso do Sul ocorre um ano após a criação da Gerência de Crise do Ministério dos Povos Indígenas, que investigou situações envolvendo os direitos do Povo Guarani Kaiowá no Estado.
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