Nos últimos nove anos, 3.436 crianças e adolescentes de até 14 anos tornaram-se mães em Mato Grosso Sul. Dados do painel de acompanhamento de nascimentos do governo federal, administrado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente, mostram que, em média, por mês, no Estado, ocorrem 23 nascimentos cujas mães dos bebês são meninas menores de 14 anos.
No ano passado, ocorreram 276 casos no Estado, e o maior número de nascimentos registrados com gestantes menores de 14 anos, nos últimos 9 anos, ocorreu em 2015, quando 512 crianças se tornaram mães. Este ano, até Abril, 85 meninas com menos de 14 anos tiveram filhos.
Independentemente de consentimento ou não, as relações sexuais com menores de 14 anos são consideradas estupro de pessoa vulnerável por lei. É o que explica o advogado criminalista Gustavo Scuarcialupi.
“Suponhamos que, se essa relação for entre um homem de 30 anos e um menor de 13 anos, se trate de estupro de vulnerável independente do consentimento dela, porque esse ato é considerado violência presumida, e a presunção é absoluta”, declarou O advogado.
Segundo Suarcialupi, apenas em alguns casos específicos a relação sexual com menor de 14 anos não é considerada crime.
“Se ambos forem adolescentes, menores de 14 anos, os menores não cometem crime, é considerado infração. Também não é considerado crime quando o adulto não sabe que a pessoa com quem se relacionou é menor, por exemplo, se por acaso o menor falsificou o seu documento”, informou Scuarcialupi.
Nacionalmente, o Nordeste foi a região do país com maior número de gestações de menores de 14 anos, no ano de 2023, com 5.251 nascimentos. Entre os Estados, o Pará apresenta as maiores taxas, registrando 1.431 nascimentos, seguido pelo estado de São Paulo com 1.359.
ESTUPRO DE CRIANÇAS
Segundo a psicóloga Gabriela Cayres, especializada no apoio a crianças vítimas de abuso sexual, é importante que as vítimas que vivenciaram esse tipo de trauma recebam apoio e apoio psicológico.
“Desde o primeiro contato, procuramos criar vínculo com a criança, oferecer carinho e minimizar a dor causada pelo trauma, seja por negligência ou abuso. Realizamos rodas de conversa, escuta ativa, encaminhamento para terapia individual e validação de sentimentos”, explica.
Nos últimos seis anos, o número de casos de estupro contra crianças vem crescendo em Mato Grosso do Sul. O registo, que foi de 479 casos em 2017, quase triplicou desde então, atingindo 1.311 vítimas de violação infantil no ano passado.
A psicóloga também alerta sobre os sinais de que uma criança pode estar sendo estuprada. “Automutilação, comportamento introspectivo, irritabilidade, insônia, baixa autoestima, diurese excessiva, principalmente à noite, e pesadelos constantes são alguns dos sinais”, explica.
Segundo levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), nos primeiros seis meses deste ano foram registradas 425 ocorrências envolvendo abuso sexual contra crianças. Isto significa que a cada dois dias cinco crianças eram violadas no MS.
Enquanto isso, dados de 2018 até o ano passado mostram que, em média, são registrados 1.216 casos anualmente em todo o território sul-mato-grossense.
Um dos motivos pelos quais no ano passado houve um aumento no número de casos (de 1.169 em 2022 para 1.311 em 2023) pode ser a repercussão do caso Sophia, ocorrido em janeiro de 2023. Até então, ano após ano, os registros tinham vem aumentando. mantendo uma média de 1.216 ocorrências.
PROJETO
Na última quarta-feira (12), a Câmara dos Deputados aprovou a colocação em regime de urgência do Projeto de Lei nº 1.904/2024, que visa, entre diversas alterações no Código Penal Brasileiro, criminalizar vítimas de estupro que queiram fazer um aborto após a 22ª semana gestacional .
Segundo o PL, mesmo nos casos em que a mulher foi vítima de violência sexual, tanto ela quanto o médico, que realizar o aborto após a 22ª semana, responderão por homicídio simples, o que, para o jurista Gustavo Scuarcialupi, é um “absurdo “.
“Acho que isso é uma violência institucional completa do Estado, que basicamente não dá proteção suficiente às mulheres, para que elas não sofram violência sexual, não sejam estupradas e consequentemente engravidem, e além disso impede que diminuam, pelo menos , de alguma forma as consequências dessa violência sexual que o próprio Estado não conseguiu prevenir”, relata o jurista.
A assistente social Patrícia Ferreira da Silva, que atua no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP), ao acolher vítimas de estupro que optam pelo aborto legal, ressalta que se o projeto for aprovado, impactará principalmente as crianças, que descobrem sua gravidez como resultado de violência sexual tardia.
“Os maiores prejudicados são aqueles que dependem dos serviços públicos, que são socioeconomicamente mais vulneráveis, e em particular as meninas e adolescentes, que são a maioria, como já relatado em diversas pesquisas, que descobrem esta gravidez tardiamente e sabemos que muitas vezes esta violência sexual Foi por pessoas que eles conheciam e pela própria família, trazendo medo e desconhecimento em relação aos seus direitos”, destaca Patrícia.
DISQUE 100
No primeiro semestre de 2024, o serviço de denúncias Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos, registrou 239 denúncias de violência sexual contra menores de 18 anos no MS.
Segundo dados do Painel Nacional do Provedor de Direitos Humanos, foram mencionadas um total de 577 violações de direitos humanos, incluindo 217 casos de violação de pessoa vulnerável, 167 de violência sexual física, 129 de violência psicológica e 50 de assédio sexual.
O período em que houve maior número de denúncias ocorreu nos meses de fevereiro e maio, com 23% das denúncias relatando que as violações, contra a criança ou adolescente vítima, começaram há mais de um mês e 14% afirmaram que a violação começou há mais de um ano.
Das 239 denúncias, 114 informaram que o cenário de estupro ocorreu no local onde residem a vítima e o suspeito e 44 afirmaram que a violência sexual ocorreu na casa da vítima.
A capital Campo Grande é a cidade onde se concentra o maior número de denúncias de denúncias (122) e de violações (305). Dourados, Ponta Porã, Maracaju, Três Lagoas e Rio Brilhante são as cidades do interior com mais reclamações pelo Disque-Disque 100.
Descobrir
Para denunciar casos de abuso e exploração sexual contra crianças, existem canais como o Disque 100, o Conselho Tutelar e o pronto-socorro policial 190.
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