O Secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica, Rodrigo Perez, concedeu entrevista exclusiva ao Correio Estadual e fez um balanço dos primeiros seis meses de mandato, considerado um dos mais importantes da gestão do governador Eduardo Riedel (PSDB).
Ao longo do bate-papo com o repórter, Perez reconheceu que trabalhar no serviço público é muito diferente de trabalhar no setor privado.
“Exige mais paciência na condução dos processos, mas acaba sendo semelhante na hora de atingir as metas estabelecidas e chegar aos nossos endpoints”, explicou.
Ele também abordou a questão da redução da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
“Não tivemos queda. Houve redução do crescimento por alguns motivos, como queda dos preços das commodities e da produção agrícola”, assegurou.
Rodrigo Perez também falou sobre a importância do Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário de Mato Grosso do Sul (Fundersul) para o Estado.
“O Fundersul é uma das contribuições mais importantes do Estado – e também extremamente transformadora – e tem alta aplicação num pilar essencial do processo de desenvolvimento, as obras rodoviárias”, declarou.
Qual a sua avaliação dos primeiros seis meses como chefe da Secretaria de Estado de Governo e Gestão Estratégica e qual tem sido o seu maior desafio até agora no cargo?
Chego ao Estado com experiência no setor privado. Convocado pelo governador para a missão, resolvi atender ao convite e enfrentar o desafio.
É uma área diferente, que exige mais paciência na condução dos processos, mas acaba se tornando semelhante na hora de atingir as metas estabelecidas e chegar aos nossos endpoints: em ambas as áreas é fundamental ter diagnóstico preciso, planejamento de qualidade, equipe e capacidade de trabalhar e articular.
Hoje somos uma sociedade muito complexa, com interesses e demandas diversas, vivendo uma época de grandes e rápidas transformações, e um Estado que tem limites para decidir e realizar.
Então, cada vez mais, precisamos ampliar nossos horizontes e trabalhar em grandes causas coletivas que movam o interesse público comum. Neste sentido, tem sido um período de enorme aprendizagem e intercâmbio com diferentes interlocutores, para dar um contributo eficaz para o avanço estratégico do processo de governação.
E torna-se ainda mais desafiador porque o Governador Eduardo Riedel dirige o governo de forma muito técnica, baseado e orientado pelos pilares que o levaram ao comando do Estado, de tornar Mato Grosso do Sul um Estado mais inclusivo, sustentável, digital e próspero.
Meu papel tem sido agregar uma perspectiva sobre as políticas públicas e garantir que haja mais integração e transversalidade.
O governador foi eleito com bandeira municipalista e tem buscado seguir nessa linha. Como tem sido o seu trabalho para contribuir para a manutenção desta política?
Como costuma dizer o governador, os cidadãos moram na cidade. É no município que os problemas surgem e precisam ser resolvidos.
Portanto, os inúmeros projetos governamentais acontecem, basicamente, em todos os municípios, como a regionalização e reestruturação da saúde, a rede de escolas de tempo integral, as obras estruturantes do processo de desenvolvimento, a atração de investimentos e a geração de empregos e renda, social nas suas mais diversas formas, tudo isso é política de Estado, mas floresce no âmbito municipal – é onde acontecerá a grande transformação já em curso.
Neste sentido, a cooperação é fundamental. O cidadão, o pai de família, a mãe, o jovem não querem saber se o problema é federal, estadual ou municipal, querem solução, oportunidades e melhor qualidade de vida. E quando é possível unir forças, entregamos com mais rapidez e com muito mais eficiência e resolução.
Nos últimos meses, a arrecadação de ICMS do Estado apresentou quedas consecutivas. Essa redução sistemática poderá afetar a gestão estatal nos próximos anos ou é algo que não preocupa?
Não tivemos queda. Houve redução do crescimento por alguns motivos, como queda nos preços das commodities e na produção agrícola.
Acreditamos que este é um ciclo que em breve retomará a curva de crescimento, em grande parte devido aos novos negócios instalados no Estado.
Somos um estado com uma máquina administrativa extremamente enxuta, uma das menores do país, com alta taxa de entrega – o segundo maior investimento por habitante do Brasil, resultado das diferentes reformas realizadas nestes anos.
Agora conseguimos dar um novo passo, tornando o Estado um dos mais baratos do Brasil. Não sem sacrifícios, adotamos a menor alíquota de ICMS do país e autorizamos uma série de isenções para fortalecer as diferentes cadeias produtivas.
É um processo que por vezes aperta o cinto, reduz o espaço para investimento direto, mas tem um enorme poder de induzir cada vez mais crescimento.
Criamos um ambiente de prosperidade que atinge a todos. É claro que precisamos estar atentos à gestão fiscal do Estado e é isso que tem sido feito.
Veja que tudo cresceu, mas com grande responsabilidade, como o repasse aos municípios – 11% superior ao ano passado e o dobro do que se fazia há alguns anos.
Portanto, não há como continuar proporcionando um ciclo virtuoso de crescimento sustentado e sustentável sem alguma ousadia. Ousadia, mas com máxima responsabilidade.
Como os recursos do Fundersul têm ajudado o governo na execução de obras de infraestrutura em Campo Grande e nos municípios do interior?
O Fundersul é uma das contribuições mais importantes do Estado – e também extremamente transformadora – e tem alta aplicação em um pilar essencial do processo de desenvolvimento, as obras rodoviárias.
No início deste ano, para se ter uma ideia, o Conselho de Administração [do Fundersul] aprovou as contas do exercício de 2023, ano em que foram investidos R$ 1,8 bilhão em todo Mato Grosso do Sul.
A maior fatia do bolo, R$ 1,4 bilhão, foi administrada pela Agesul [Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos]que investiu 61% dos recursos em pavimentação e implantação de rodovias, 31% em restauração, conservação e manutenção de rodovias e 8% em pontes – construção, reformas e manutenção –, obras urbanas, licenciamento ambiental e manutenção de equipamentos. Todos os 79 municípios receberam.
Em abril deste ano, apresentamos aos 79 municípios um programa que prevê investimentos, apenas do poder público, de R$ 2,5 bilhões para 2024 e mais R$ 5 bilhões previstos para 2025 e 2026, com valor significativo vindo do Fundersul.
Graças às políticas governamentais de atração da indústria, o Estado vive o pleno emprego. A reforma tributária pode atrapalhar esse cenário?
A reforma dará grande contribuição para a necessidade de simplificação tributária e ainda provoca discussões acaloradas sobre o seu funcionamento prático, pois, mesmo que seja promulgada no final de 2023, ainda não foi regulamentada.
O Congresso ainda discute regulamentação e temos um grupo de trabalho criado para acompanhar os impactos da reforma tributária no Estado e discutir estratégias para reduzir as perdas de arrecadação em Mato Grosso do Sul, bem como criar medidas para melhorar o ambiente de negócios.
E não vamos desistir de ter esse ambiente de praticamente pleno emprego. Aqui, nosso principal problema é outro: sofremos com a falta de mão de obra qualificada para a quantidade de novas empresas que se instalam em território sul-mato-grossense: 90% de toda a nossa força de trabalho está ocupada, em atividade, um dos melhores desempenhos no país.
A reforma estabelece a manutenção dos benefícios fiscais até 2032, sendo este um importante instrumento de atração de indústrias para Mato Grosso do Sul. Estamos otimistas de que, até lá, o Estado terá sua base empresarial industrial bastante avançada e, aliado a inúmeros investimentos em infraestrutura para enfrentar os desafios logísticos, seremos cada vez mais um player altamente competitivo no cenário nacional.
Recentemente, você participou de uma agenda no Uruguai. Como esta aproximação com o país pode ajudar no desenvolvimento do Estado?
O secretário Jaime Verruck e eu acompanhamos o governador para saber mais sobre o embarque do minério extraído de Corumbá, na transição entre a hidrovia Paraguai-Paraná, assunto hidroviário de extrema importância para o Estado.
Essa troca de experiências pode nos apontar para um futuro muito próximo de expansão dos modais de transporte em Mato Grosso do Sul, com inovação tecnológica e integração com novos players.
Também tivemos uma reunião com o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, um líder muito acessível e muito otimista em relação à hidrovia.
Conversamos sobre questões muito técnicas nas negociações para discutir avanços que a América do Sul já vive e que podem ser ampliados.
Precisamos de expandir e fortalecer os principais eixos de fluxo para continuar a atrair investidores privados. Se considerarmos o pipeline de investimentos privados captados pelo Estado apenas nos dois primeiros anos de gestão, temos um montante de aproximadamente R$ 50 bilhões em projetos prospectados, em todas as áreas, e esta é uma discussão importante.
Como têm sido as interações com o governo do presidente Lula?
Republicano e muito respeitoso. Somos um governo com perfil técnico e comprometido com resultados. Fazemos a gestão de forma muito transparente e respeitosa com todos os agentes públicos, esferas de governança e demais Poderes porque entendemos que é assim que funciona o regime democrático.
É natural que existam diferenças políticas e até administrativas, mas elas não podem, nem devem, interferir nos nossos objectivos de levar o Estado a um novo futuro de prosperidade e desenvolvimento.
O apoio da União é fundamental para todos os estados brasileiros, e com Mato Grosso do Sul não poderia ser diferente.
Temos agendas muito convergentes, e o governo federal esteve presente na delegação para outorga das BRs 262 e 267, para combate a incêndios florestais no Pantanal, entre outras de interesse do país.
Assim como o governador, o senhor também vem do setor produtivo do Estado. Esta visão do sector privado contribuiu para o sucesso da gestão do Estado?
Como disse, são setores diferentes, mas muitas vezes têm desafios comuns. Estou a ter a oportunidade de conhecer as diferenças e complexidades dos vários processos de tomada de decisão no setor público, o que me permite uma avaliação mais objetiva desta realidade.
Acredito que é possível utilizar a experiência privada para melhorar a qualidade dos serviços prestados à população, atrair novos insights e ferramentas para aumentar a produtividade em alguns setores, respeitando as especificidades, as questões legais, os limites orçamentários e as demandas da sociedade.
Perfil
Rodrigo Pérez
Formado em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), possui ampla experiência em gestão empresarial e estratégia institucional.
À frente da Secretaria de Estado de Governo e Gestão Estratégica (Segov), a missão de Rodrigo Perez é coordenar o grupo de secretarias setoriais, pois o departamento é onde o governo alinha e harmoniza, em torno dos grandes objetivos do programa a ser executado. e os objetivos da gestão.
No setor privado, foi diretor de diversas empresas que atuam de forma independente em segmentos estratégicos do mercado digital.
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