A sanção da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Corumbá, ontem, cria obrigações legais para que as autoridades federais promovam medidas que tentarão orientar melhor o uso do fogo em períodos críticos, tanto em no Pantanal como em outros biomas.
Atualmente, o governo federal tem restrições para contratação de bombeiros antes do período crítico, por exemplo. Isso impossibilita que esses profissionais tomem medidas preventivas, como construir aceiros em áreas remotas e tentar evitar o acúmulo de vegetação e facilitar a ocorrência de grandes incêndios.
Essa legislação já havia sido aprovada em Mato Grosso do Sul em 2022 e algumas medidas foram implementadas, com treinamento pelo Corpo de Bombeiros de mais de 100 funcionários de diversas fazendas do Pantanal. Porém, com o plano nacional, esta regra recebe novo reforço para ser aplicada.
O governador Eduardo Riedel (PSDB) comentou o cenário estadual e argumentou que sem um trabalho conjunto entre a União e o Estado o cenário no Pantanal seria pior por conta do incêndio.
“Se não fosse essa estrutura [tanto estadual como federal]nessa luta diária de enfrentamento, certamente teríamos o dobro [área queimada atual é de pouco mais de 900 mil hectares] e caminhando para um desastre pior do que vimos em 2020”, declarou.
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, afirmou na agenda com Lula realizada em Corumbá que a nova lei vai gerar impacto positivo na prevenção e conservação da natureza.
“Temos agora toda uma política pública sobre a cultura do fogo, sobre o uso do fogo. É um projeto moderno, é fruto de um debate de 10 anos com os brigadistas, com as populações indígenas. Seremos capazes de lidar com incêndios mesmo quando não tivermos fogo. Vai fazer a diferença”, disse Agostinho.
Essa política nacional vinha sendo discutida há cerca de 10 anos. Ela começou a tramitar no Congresso Nacional em 2018, após o envio da pauta pelo então presidente Michel Temer.
Com as questões ambientais em destaque este ano, impulsionadas pela COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em 2024, em Belém (PA), e pelos incêndios florestais no Pantanal, o debate esquentou e o projeto acabou aprovado no início de julho.
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o manejo integrado do fogo (MIF) é uma estratégia que leva em consideração a ecologia do fogo (como o fogo se comporta no ambiente), as necessidades das populações no uso do fogo para fins produtivos ( como e para que é utilizado o fogo), conhecimentos tradicionais e conhecimentos científicos e exclusão do fogo.
Com esta medida, o MIF permitirá, por exemplo, que o fogo possa ser utilizado para controlar espécies exóticas e invasoras. Procedimento que existe no Pantanal e é uma prática milenar da pecuária pantaneira. Ao mesmo tempo, o Fumin criará uma maior responsabilização pelo uso impróprio e não autorizado do fogo.
“Esta Lei é um reconhecimento ao esforço do Instituto, especialmente da equipe que trabalha com manejo integrado do fogo, que ao longo dos anos adquiriu experiência, trabalhando com o conhecimento científico, em diálogo com pesquisadores, para identificar as interfaces entre a ecologia do fogo e o manejo do fogo” , defendeu o presidente do ICMBio, Mauro Pires, durante agenda na Capital do Pantanal.
Após o estabelecimento desta nova política, ocorrerá também a criação do Comité Nacional de Gestão Integrada do Fogo, órgão que ficará vinculado ao Ministério do Ambiente e Alterações Climáticas.
Neste comitê participarão diferentes instituições para apresentar as particularidades dos biomas, como é o caso do Pantanal, onde o fogo é utilizado para manejo da pecuária, queima de lixo em comunidades ribeirinhas, ferramenta de trabalho para coleta de iscas e mel. , além de ferramenta para limpeza de corixes que acabam fechando canais de navegação.
AÇÕES MAIS RÁPIDAS
Esta nova política deverá também ajudar a sistematizar a informação sobre o uso do fogo, com a criação do Sistema Nacional de Informação sobre Incêndios (Sisfogo) e permitir a captação de recursos federais e outras fontes para financiar brigadas florestais, ações de educação ambiental, fomentar a investigação científica em torno do uso do fogo e a criação de uma ferramenta de gerenciamento de incidentes (Ciman Federal).
Este ano, quando os incêndios ganharam proporções gigantescas em junho, foram necessários cerca de 30 dias para o governo federal se mobilizar financeiramente para liberar recursos, o que ocorreu de forma extraordinária.
Apesar dos graves incêndios ocorridos em junho, por exemplo, o Prevfogo/Ibama só conseguiu mobilizar e contratar extensivamente pessoal a partir de julho, quando os recursos foram comprometidos. Este ano, foram liberados R$ 137,1 milhões em recursos extras para combate aos incêndios florestais no Pantanal.
Lula deu sinais de que tenta mostrar ao mundo que o Brasil está preparado para enfrentar desafios ambientais, como as queimadas.
“O Brasil sediará a COP-30, no ano que vem, na cidade de Belém, e será a primeira vez que trazemos o mundo para nos dizer o que vamos fazer com o nosso país. Porque o mundo tem muitas opiniões sobre o Brasil, todos estão envolvidos em cuidar do Brasil, quando, na verdade, quem sabe cuidar do Brasil somos nós. Nossos indígenas são quem sabem cuidar deste país. Nossos quilombolas são os que sabem cuidar deste país, e do nosso povo trabalhador”, declarou Lula.
Descobrir
Além do presidente Lula, participaram do evento a ministra Marina Silva e o ministro Rui Costa.
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